Pensamentos ocupados

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 — Tá zoando, né? — questionou Bakugo com uma visível preferência por uma resposta positiva, irritado quando não foi o que recebeu.

 — Tô não, Kiri é da PM. — Ashido colocou mais um pouco do sorvete de menta na língua, sem um pingo sequer de preocupação — Tu tá puto por quê? No baile tava adorando.

 — Puta merda, onde eu fui me meter. Pra que eu fui deixar você dar meu número pro cara?

 — Fica assim não, todo mundo nessa mesa sabe que você adora uma adrenalina, só tava ajudando.

 — E que adrenalina, considerando que você mora do lado da boca e já tretou com o dono... — relembrou Sero, tornando a beber o milkshake.

 — É mesmo, Compress tá sempre de olho em você. — afirmou Denki, ingerindo mais do refrigerante em mãos.

 — Vou me juntar a porra de facção nenhuma, eu tenho caráter. — Katsuki bufou, fervendo de ódio com a mera ideia de entrar para a Liga da Quebrada.

 — Ainda não acredito que tu destruiu o cara no futebol sem saber que ele era o dono da boca. — Hanta com certeza estava afim de rememorar acontecimentos hoje, desgastando a, já pouca, paciência do loiro mais claro.

 — A gente tava batendo bola, pega nada não, o maluco até me elogiou depois. Inclusive essa merda foi a anos, esquece, desgraça.

 — Não dá, é tão surpreendente quanto Kami ter achado que o tiroteio era bomba.

 — Ah mano, vai saber, podia ser... — o citado tentou se defender, falhando no processo.

 — Não me compara com o burro do pikachu não. — reclamou o jovem de íris vermelhas, percebendo que todos já estavam no final de suas comidas — Terminem logo essa droga pra eu vazar, tenho que parar de deixar vocês entrarem na hora de fechar, bando de folgados.

 — Também te amamos. — Mina retrucou, com um sorriso brincalhão, ingerindo o resto da casquinha.

 Basicamente empurrou os amigos para fora do estabelecimento, alegando que estavam a lhe encher o saco e os mandando à merda, suspirando quando finalmente conseguiu solidão. Mudou as vestes do uniforme daquele "diabo de sorveteria", como costumava se referir ao emprego muitas vezes, insatisfeito com a condição atual.

 Por mais que quisesse sair daquele inferno de paredes decoradas coloridas a simular confeitos, em casa aguardava sua mãe e, sinceramente, preferia os adesivos cafonas de cereja a vê-la, no entanto quanto mais tardava mais vazios os ônibus ficavam e maior a probabilidade de ser assaltado. Escolheu ir, porém tomou uma rota alternativa no transporte público, parando no bar da rua de cima.

 Pediu uma cerveja e sacou o celular, abrindo o aplicativo de mensagens e dando de cara com os dentes pontudos e o cabelo vermelho de quem lhe vinha ocupando a mente um tanto mais do que deveria. Analisou o fundo da foto de perfil, sequer agradecendo à garçonete quando esta trouxe seu pedido, entretido com as vinhas do muro onde Kirishima estava encostado, descendo a admiração que foi-se embora quando enxergou as crocs nos pés.

 Passou a se questionar quando diabos seu gosto caiu o suficiente para se atrair por um cara que usava aquela monstruosidade, não tendo muito tempo para remoer antes de receber uma mensagem do dito cujo. Era uma continuação da conversa anterior, realizada durante a manhã do mesmo dia, a qual retornou a fluir agora que ambos estavam online.

 Diferente da agressividade de Bakugo, Todoroki segurava seu próprio celular com calma, pronto para o guardar no bolso ao ver Midoriya retornar à mesa. Haviam assistido a um filme no cinema e agora estavam em um pequeno café no shopping. Não era de seu costume chamar pessoas para sair, para completar havia o fato de serem um oficial da lei e um vendedor de artigos falsificados, o que poderia muito bem fazer tudo ficar estranho.

 Felizmente conseguiam esquecer desses detalhes inoportunos, ao menos até o próximo rapa ou até que a relação ganhasse um nome verdadeiro. Problema mesmo se faria presente se Dabi tomasse conhecimento dos encontros, por isso preferia descer para o asfalto do que arriscar que o outro homem subisse o morro, Shigaraki e o resto da facção são famosos por assassinar policiais fora do horário de trabalho.

 Afastou essa probabilidade mórbida da mente, seus pensamentos eram muito melhores ocupados com as ondas das mechas verdes, as sardas espalhadas pelas bochechas e o sorriso fofo exibido de maneira tímida. Pela maior parte do tempo, manteve Izuku falando sobre si mesmo, na verdade não era difícil, parecia se perder em seu trem de pensamento com frequência, complicado foi acompanhar a rapidez com qual as palavras eram expelidas, se tornando cada vez em volume menor, retomando o normal quando percebia.

 Ao final, o mais baixo teve que ir embora antes, restando Shoto e a multidão de estranhos no complexo de compras. Estar ali era um tanto nostálgico, perdeu o costume de ir àquele shopping em específico desde que saiu de casa, preferia outros que ofereciam opções menos custosas e tivessem um percurso menor para alcançar, ou a avenida na qual vendia seus produtos. Não que sentisse tanta falta do dinheiro, era o preço a se pagar pela liberdade, todavia o espaço lembrava-o de Natsuo e Fuyumi e eles sim faziam falta.

 Lembrava das poucas vezes que conseguiram sumir das vistas do pai quando este trabalhava e se divertir em grupo, uma raridade que diminuiu em frequência depois que Touya se tornou um fugitivo e parou de ocorrer quando o mais novo saiu de casa. Se comunicavam pela internet, o que com certeza não era a mesma coisa, e era proibido pelo dono da casa de liberar o endereço, sem citar que se recusava a pisar na de Enji outra vez em sua vida.

 Observou um grupo de adolescentes passarem dando risada, uma atividade na qual desejava ter participado mais quando tinha aquela idade, lhe faltou tempo livre, sempre trancafiado em casa para que estudasse. Talvez agora conseguisse mais contato com seus poucos amigos, ou até fizesse novos, como o grupo que conhecera no baile funk com o esverdeado.

Boku no morroOnde histórias criam vida. Descubra agora