— Eu não sei se eu consigo. — admitiu baixo no telefone, vigiando a parte de dentro do apartamento de onde estava na varanda.
— Consegue sim, vai dar tudo certo. — a voz feminina retrucou do outro lado da linha, tentando passar confiança para o amigo — Relaxe e se divirta.
— Mas e se...
— "Mas e se" nada. — cortou o colega — Do tempo que eu conheço vocês e acompanho o relacionamento, eu tenho certeza que a sua ansiedade não tem pé nem cabeça, Tama.
— Não deve ter mesmo. — suspirou analisando as nuvens — Eu só não consigo parar de me preocupar.
— Presta atenção: vocês tem três anos juntos e se conhecem desde a infância, se fosse pra ele sumir com certeza teria feito antes, ninguém se sente obrigado a ficar perto de você, a gente gosta de você, entendeu?
— Sim. Obrigado, Neji.
— Nada, agora eu vou desligar que meu horário de almoço já já acaba e eu ainda tenho que perguntar pra Uraraka e pra Tsuyu onde elas cortam o cabelo.
— Tudo bem, tchau. — sorriu escutando Hado chamar as duas policiais antes de encerrar a ligação.
Aguardou aproximadamente mais dois minutos na sacada, até que o namorado apareceu com os fios loiros molhados, vestindo uma camisa polo branca e uma calça jeans de um tom forte e escuro de azul. Era impossível negar que o loiro ficava, de certa forma, engraçado sem o seu topete, à essa altura o penteado era sua marca registrada, o que fazia bom que o estado atual não duraria muito e logo retornaria para a pose habitual.
Terminava de remover o grosso da água presente na cabeleira com uma toalha pequena, atraindo a atenção do outro homem, andando em sua direção e pegando o pano encharcado, aproveitando para depositar um selinho nos lábios alheios. Levou o objeto ao local apropriado e estendeu-o, concordando em ir para o restaurante em seguida, deixando sua mão esquerda ser segurada pelo amado enquanto deixavam a morada.
O local tinha uma aura simpática, um estabelecimento majoritariamente de madeira, com cadeiras de mesmo material, contudo acolchoadas com um tecido confortável. O jovem de cabelos índigo havia retornado ao trabalho ontem, conseguindo a folga no dia presente pois Fatgum nunca recusava algum dos raros pedidos do cabo. Togata analisava o amado a descrever algum acontecimento do dia anterior, nunca se cansaria de admira-lo:
— ... e então ela começou a gritar comigo! Eu tive que pedir pra ela se acalmar e defender o Kirishima que tava só tentando registrar o boletim de ocorrência dela na delegacia, mas ela só abaixou o tom quando eu falei que se piorasse poderia classificar como desacato à autoridade. Eu não sei se fui muito convincente, comecei a ficar ansioso, ela foi tão cruel nos chamando de incompetentes.
— Pessoas estressadas às vezes descontam em quem não tem nada a ver com a situação, você lidou com tudo muito bem, amor. — acariciava a mão alva de Tamaki por cima da mesa enquanto dialogavam.
Ingeriram principalmente frutos do mar, com uma preferência por pratos com ingredientes como polvo e ostra. Pagaram e saíram, optando por caminhar um pouco no parque não muito longe dali. Não haviam muitas pessoas por lá, ou talvez fosse apenas a impressão que o terreno vasto fornecia, o quanto mais se afastavam da entrada e parque infantil, mais a sós estavam, com exceção de ciclistas e outros praticantes de esportes de passagem.
Idosos conversavam em bancos de concreto, poucos jogavam xadrez e damas em tabuleiros, todavia a idade dos últimos variava. Haviam almoçado tarde, o que implicava no céu já em tons alaranjados, lentamente escurecendo sua tonalidade com o passar eminente dos minutos até a chegada da noite. Era o melhor momento existente para fazer o que pretendia, parando em frente a Mirio com as mãos nos bolsos do casaco branco com o zíper aberto.
O loiro o fitando confuso apenas o deixou mais nervoso, abriu a boca para pronunciar algo, tentar criar alguma declaração fofa, no entanto foi incapaz, o pânico lhe subindo à cabeça e cerrando os lábios novamente. O namorado aguardou pacientemente, ainda que não compreendesse o que se passava, mantendo uma postura relaxada. Observou a mão direita de Amajiki puxar o capuz para cobrir sua cabeça, ocultando mais a face com o pano, ao mesmo tempo em que a direita veio em sua direção, cerrada com o dorso para cima, segurando algo.
Posicionou as duas palmas debaixo do agarre que tremia incessantemente, o outro liberando o objeto e se pondo a brincar com as cordas na roupa que fechariam o capuz se puxadas. O mais alto observou a caixa preta de veludo, incrédulo, abrindo-a para encontrar exatamente o que esperava:
— D-desculpa eu não consegui ajoelhar.
Tomou as bochechas do outro em mãos, dando-lhe um selinho demorado e alegre, com lágrimas de felicidade se formando em seus olhos claros. O amado recebeu o gesto de bom grado, segurando a cintura do mais velho com as bochechas coradas, se separando com sorrisos na face de ambos:
— Não tem problema, é perfeito mesmo assim. Eu quero me casar com você.
Abraçaram-se, está foi uma das poucas vezes que o homem de cabeleira escura não se importou quando o tecido acima dos fios saiu do lugar e revelou suas feições, tudo que importava era a sensação terna dos braços de Togata, sobrenome que agora poderia ter para si. Quando se liberaram tornaram a prestar atenção nas alianças, colocando-as nos dedos anelares direitos um do outro e sorrindo constantemente com o novo título: noivos.
Se divertiram tirando fotos enquanto aproveitavam a visão majestosa que era o sol desaparecendo em meio às árvores, uma paleta de cores que incluía até o rosa claro. O loiro era quem mais se empolgava com as imagens como memórias daquele dia histórico para ambos, o menor concordava com ele, porém priorizava marcar na memória o sorriso radiante que, ao menos para ele, aparentava brilhar bem mais que aquela bola de fogo no espaço.
Era o seu sol, aquele que iluminou sua vida nos momentos mais sombrios, aquele que iniciou uma amizade consigo aleatoriamente em um colégio novo no ensino fundamental e não podia imaginar situação melhor para resultar daquela pequena interação adorável entre duas crianças.
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Boku no morro
FanficO morro tem sua organização: de um lado a SH, de outro a LDQ e, no meio, não podemos esquecer da polícia militar. As coisas na favela nunca eram calmas, como se não fosse suficiente, a Shie Hassaikai lançava uma nova droga no mercado ilegal enquanto...