Aparências

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 A porta abriu, revelando um loiro relaxado entrando no estabelecimento de tamanho pequeno para mediano, uma mulher de pele negra e olhos dourados utilizava equipamentos para fixar a tinta permanente na pele de um cliente já presente, então o recém chegado apenas se sentou e aguardou. Uma jovem de cabelos roxos surgiu, saindo de uma parte de acesso restrito do estúdio e se fez presente atrás do balcão:

 — Bom dia, o senhor pretende fazer uma tatuagem?

 — Sim. — respondeu Hawks se erguendo e estendendo o smartphone — É um pouco grande, tenho umas referências pra você me dizer quanto fica.

 — Caramba, baita escolha. — admirou Jiro.

 — Obrigado. Se não se importar em responder, era você que estava cantando no baile de alguns dias atrás?

 — Ah! — se envergonhou em ser reconhecida, corando — Sim, era eu.

 — Adorei a performance, pena que acabou mais cedo do que deveria.

 — Sim... — observou a amiga que concluira o trabalho com a moça que se aproximava dos outros dois no espaço — Mina, você pode ver a tatoo dele enquanto eu termino com ela?

 — Claro! — respondeu animada guardando os aparelhos em seus respectivos lugares, amava o que fazia — O que vai querer?

 Enquanto Keigo procurava uma alteração na aparência, Shoto ajudava Dabi a manter a sua, enviando uma imagem por mensagem para que relembrasse qual era a tintura que deveria comprar. Recebeu algumas palavras digitadas informando que pegara a caixa correta, seguindo para pagar quando foi parado por esbarrar em uma pessoa:

 — Desculpa. — falou ao recobrar o equilíbrio sem muito esforço.

 — De boa. — os dentes mais afiados que o comum se destacavam na face alheia — Ah, eu conheço de você, tava conversando com o Midoriya no dia do tiroteio, né? Acho que você não falou seu nome.

 — Foi, meu nome é Shoto.

 — Eijiro Kirishima. — estendeu uma mão, obrigando o bicolor a trocar a maneira que segurava o produto para conseguir cumprimentá-lo — Vai dar uma variada no visual?

 — Na verdade é pro meu irmão, mas já que você falou... — passou o olho pelas opções nas prateleiras — não é má ideia.

 — Legal, que cor pretende pegar?

 — Não sei, tem alguma sugestão?

 — Hm... alguma das atuais é natural?

 — Ambas, na verdade.

 — Sério? — Todoroki confirmou com um aceno de cabeça — Que massa. Então por que não tenta completar uma delas?

 — Acho que vou fazer isso. — encontrou uma imagem demonstrativa próxima à cor branca de seus fios e apanhou-a.

 — Vai precisar de descolorante e água oxigenada. — mostrou a marca da química que tinha em mãos — Eu uso esse aqui, só que eu faço isso já faz tempo, se preferir um salão, levar só o tonalizante serve.

 — Prefiro fazer em casa mesmo, talvez eu convença meu irmão a me ajudar.

 — Boa sorte! Tô indo pro caixa, a gente se vê por aí.

 Acenou como despedida e se pôs a procurar o produto que lhe foi indicado entre as diferentes ofertas na loja específica para cuidado capilar. Encontrou um igual e foi este que comprou, junto da água oxigenada de uma empresa qualquer, continuando o percurso até a moto, dirigindo tranquilamente pelas ruas. Chegou em casa, encontrando Toya sentado no sofá, ocupando-o todo com as pernas, bebendo uma lata de cerveja e assistindo uma partida de futebol qualquer:

 — Você não ia pra uma reunião da LDQ?

 Estalou a língua, fazendo uma expressão de desgosto:

 — Só não tô afim de olhar pra cara do Shigaraki hoje. Trouxe o que eu pedi? — o mais novo exibiu a tinta — Valeu.

 — Na verdade eu tava pensando em pintar o meu também. — se aproximou, ficando ao lado do móvel no qual o dono da casa estava acomodado.

 — É mesmo? Que cor? — ergueu as íris turquesa para visualizar a face alheia.

 — Branco.

 — Vai ficar estiloso. — retornou a atenção para a televisão.

 — Pode me ajudar?

 — Tem que descolorir se vai ser claro assim.

 — Um conhecido me disse pra comprar as coisas, eu já tenho aqui.

 — Ok, quando quer fazer?

 — Quando acaba o jogo?

 — Por mim a gente faz isso agora, tão jogando mal pra caralho mesmo. — desligou o eletrônico com o controle remoto — Eu nunca descolori já que preto pega fácil, pega algum tutorial online.

 Shoto pesquisou por uma rede social propícia, obtendo um vídeo de uma vlogueira mostrando enquanto descoloria o cabelo da melhor amiga. Assim como pretendia, a mulher deixava loira metade da cabeleira da cobaia, em seguida tingindo de laranja. Entregou o smartphone para Dabi, quem foi logo à procura de papel alumínio na cozinha, se deparando com um rolo quase inteiro, nem se recordava sequer de quando comprara ou usara aquilo. Reapareceu com ambos os objetos em mãos, procedendo a pegar uma toalha que julgou não manchar fácil com o propósito que teria:

 — Melhor fazer isso no quintal.

 Andaram até a parte da casa descrita, o mais baixo se sentando em uma cadeira de plastico branca e depositando o equipamento na mesa de mesmo material ao lado. O parente não era mal cabeleireiro, ainda que tivesse esquecido de pegar um pente e tendo que ir buscar no banheiro. O processo era simplesmente demorado, não complicado como parecia, sobrando uma mísera parte do descolorante.

 Conversaram amenidades, o que perceberam ser uma coisa rara, moravam sob o mesmo teto, compartilhavam o ódio pelo pai e demorou até o presente dia para que percebessem que deveriam ter mais que os unissem. Era um pequeno passo na construção do sentimento fraternal que sempre lhes foi negado por Endeavor, permitido somente entre Natsuo e Fuyumi, não sendo considerados prodígios que nem os outros dois.

 Ao final, o mais novo mantinha do progenitor masculino meramente a íris azul esquerda, se sentindo melhor com a própria aparência, tendo colorido inclusive a sobrancelha daquele lado. Agradeceu ao irmão, quem respondeu com um "de nada" e uma explicação sobre como precisaria retocar o tonalizante de tempos em tempos. O menor assentiu para demonstrar entendimento e se admirou no espelho, era bom tirar esse peso da visão.

 Passando pra agradecer o recente influxo de comentários! Minha co-autora é esnobe, mas eu adoro responder kkkkkkk aproveitem a calmaria antes da tempestade enquanto dura, os queridos avisos de gatilho já já voltam.

Boku no morroOnde histórias criam vida. Descubra agora