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— Ô cara! Beleza? — Marcos o cumprimentou.

— Tranquilo! Você se atrasou. Mais alguma loira? — Nogueira riu.

— Nada! Foi um viado lá em casa — respondeu irritado.

— Caramba! Tu não perdoa nada, heim!? — novas gargalhadas do amigo.

— Sai fora! Da fruta que eu gosto, tu como até o caroço! — gargalhou também — Mas depois te conto o que aconteceu.

Assim que entraram, o que Marcos viu à meia-distância, foi o brutamontes erguer um dos rapazes e arremessa-lo do outro lado do balcão, quebrando garrafas e copos. O que o fez intervir, foi reconhecer um dos jovens:

"Paulo" — E correu se aproximando: — Esperem! Esperem! Não vamos causar confusão por porcaria nenhuma.

Talvez não tenha escolhido as melhores palavras.

— Tá chamando minha garota de porcaria?

Quem falou foi um rapaz que, pelo diâmetro, dava três do Marcos facilmente. E que tinha uma cicatriz na lado esquerdo do rosto. Só então Marcos olhou para o lado e viu a moça de pele clara e bem vestida.

— Não... quero dizer... eu nem sabia de garota...

— Cala a boca, imbecil! — Quem berrou foi Budapeste, um cliente rico que frequentava a boate. — Podem quebrar!

Além do primeiro brutamontes, surgiram mais dois, que avançaram contra ele. Quando o primeiro esmurraria Marcos, um soco apagou o grandalhão. Foi salvo por Nogueira que, na sequência, saiu empurrando, chutando e socando o segundo. Quando o terceiro olhou para a cena, foi atingido por uma garrafada na nuca. Enquanto caía, atrás dele surgiu a moça com os cacos de vidro na mão. E a boate fora tomada pela confusão. Pessoas corriam para todos os lados, uns empurrados, outros pisoteados, cadeiras e garrafas voavam e ninguém sabia onde estava mais nada. Em meio a isso, o segundo capanga de Budapeste dava trabalho a Nogueira. Foi uma cadeirada na altura da cabeça que o tirou de combate.

— Vamos! — Gritou Marcos jogando o pedaço de encosto num canto.

Os dois seguraram pelo braço da garota e a puxaram, buscando a saída. Paulo veio a reboque. E logo que chegavam à porta frontal, as primeiras luzes e sirenes das viaturas.

— Polícia ou socorro?

— Não sei. Mas aqui sujou pra mim! Me sigam! — Marcos voltou para dentro do estabelecimento.

Ali dentro o quebra-quebra continuava. Eles refaziam o caminho, evitando reencontrar Budapeste e seus capangas, e passando pela lateral oposta ao balcão de bebidas, entrando numa porta atrás da pista de dança. Ali, um corredor os levou para quartos de uso de drogas e prostituição. Era a área vip do estabelecimento.

— Uau!

Nogueira ficou maravilhado assistindo uma pequena suruba entre dois casais. Até que foi puxado pela roupa.

— Corre, cara! Se os canas te pegarem aqui, nem Deus te salva!

Continuaram pelo caminho, até chegarem a uma porta que dava saída para um beco na rua. Caminhando em sentido oposto, estavam nos fundos da boate. Ao atravessarem uma rua de mão dupla, chegaram a uma padaria 24 horas.

— E agora? — Perguntou Marcos.

— E agora? — Devolveu Nogueira.

— Bem, você volta lá e traz o seu carro.

— Eu? Mas, péra! Porque eu? — Havia indignação na voz do rapaz.

— Nogueira, você é único aqui vestido como "paizão".

E os três o encaram, enquanto ele se olhava de cima a baixo: terno bege, camisa rosa, cinto e sapatos marrons. Depois olhou para a direção onde ficava a frente do estabelecimento. As luzes vermelhas e azuis pareciam mais brilhantes.

— Tá! Eu vou. Mas se me prenderem eu os levo até a sua casa. — E apontou para Marcos.

— Ainda bem que me avisou. Nem volto pra casa hoje.

— Droga! — Nogueira berrou puto, mas se conteve. — Tudo bem! Eu vou lá.

Ajustou melhor a roupa, passou um lenço no rosto e saiu caminhando.

A frente da boate era uma confusão só. Carros e motos da polícia, além de ambulâncias e até polícia de trânsito. Várias pessoas saíam algemadas, algumas socorridas no chão ou sendo retiradas em macas.

"Santo Cristo!" — Nogueira estava admirado e nervoso ao mesmo tempo.

— Ei você! — Gritou alguém.

E quando se virou, um policial vinha em sua direção.

— Eu! Eu! — Estava difícil para ele manter a tranquilidade.

O oficial o abordou:

— Esse carro é seu?

— Esse? Esse carro? — Nogueira apontou. — Esse é meu, sim senhor!

O policial rodeou o veículo e parou ao lado do homem:

— Como você mantem esse comodoro tão conservado? Ele está todo original? É de família, ou você coleciona?

— Na verdade, comprei ele do filho de um finado colecionador. O homem morreu e o rapaz, não tinha apreço pela coleção do pai.

— Sério? — O policial estava impressionado. — Ei, Rafaela! Vem cá!

A policial se aproximou anotando alguma coisa em um bloco de papel, e parece ter ficado mais à vontade ao ver o dono do carro:

— Sim!

— Como te falei: eu quero um carro assim. — Disse apontando o veículo. — Ele comprou do filho de um colecionador. Eu não dou uma sorte dessas.

— Ora, mas isso é muito simples. — Ela passou uma folha no um bloco de papel e preparou a caneta. — Qual é o seu nome e telefone, cidadão?

Na padaria, o casal estava sentado em uma mesa mais ao fundo. Marcos chegou e se sentou, e só então entendeu o motivo de toda aquela briga:

— Boa noite!

— Boa! — a bela garota respondeu tímida.

— Sua namorada, Paulo?

— Até gostaria. — Respondeu olhando para ela. — Mas é uma garota que acabei de conhecer na boate. Aquele babaca tava importunando ela.

— Qual é o seu nome?

— Luna.

— Meu nome é Marcos, o dele é Paulo e o daquele rapaz que saiu daqui é Nogueira. Aquele babaca te machucou, Luna?

— Só o meu braço que dói um pouco.

— Em breve poderemos leva-la ao hospital, se quiser. — Ofereceu Paulo.

— Não é preciso. Estou bem.

— E agora? — perguntou Paulo, olhando para Marcos.

— É torcer para que tudo dê certo como o Nogueira.

Quinze minutos depois o comodoro estacionava frente à panificadora e o grupo correu para dentro do veículo.

— Você demorou! Pensei que tinha sido preso.

— A frente da boate está tomada pela polícia e socorristas. Um caos. Só tirei o carro porque um policial militar abriu caminho.

— Então vamos! Acelera! — Marcos estava agoniado.

— Calma homem! — Nogueira tentou passar serenidade.

— Não vai demorar para que rondem por aqui, Vamos!

— Tá! Tá! — Nogueira engatou a marcha e saiu vagaroso. — Pra onde?

— Pega a rodovia no sentido Plano Piloto e segueaté encontrarmos o posto de combustível. — Olhou para o casal no banco de tráse completou. — Lá poderemos conversar.

EhsoOnde histórias criam vida. Descubra agora