"É hora de parar. Não aguento mais" — Amália olhava o relógio — "Foi mais de 1 hora quarenta minutos de caminhad..."
Seu pensamento é interrompido por um carro, buzinando e parando poucos metros à sua frente. Algumas pessoas olhavam a cena. Quando ela reconheceu o veículo, se aproximou cautelosa e, a 1 metro da janela ela olhou para o interior do automóvel.
— Marcos?
— Você é bem inteligente. — E sorri. — Vem! Entra aí. Te dou uma carona.
Amália olhou para os lados e não se sentia confortável em entrar no veículo de um homem.
— Ainda vou terminar a caminhada.
— Pela sua cara e pelo estado da sua roupa, acho que você já caminhou até mais do que devia.
Em seu íntimo ela concordou. Amália forçou demais naquele dia.
— Eu...
— Eu preciso falar com você. — o rapaz interrompeu o que ela diria.
A curiosidade a venceu.
— Certo! Vou aceitar a carona.
Ainda um pouco receosa, ela abriu a porta do carro e entrou. Ao sentar, a costura do seu short cedeu em toda a sua perna esquerda, expondo a coxa grossa e branca.
— Uau!
Por instantes Marcos não conseguiu deixar de olhar, até que ela cobriu com as mãos ordenando:
— Vamos!
Novamente ele a olhou nos olhos e sorriu:
— Claro.
Dali ele se calou e, como se ponderasse, guiou o carro lentamente rumo à casa. Amália viu que ele tinha o rosto pouco avermelhado e sua aparência era bagunçada, mas permaneceu calada, tentando pensar onde ele estivera e no que fizera.
"Boêmi..."
— Sabe... — Ela teve o raciocínio interrompido. — É... Me desculpe se alguma coisa que falei te incomodou. Apenas queria muito te dar essa carona. — Ele parou o carro e ofereceu: — Se quiser descer, tudo bem, eu entendo.
Com o olhar grave, compenetrado, ela perguntou:
— Você quer falar comigo, não é?
— Sim. Preciso.
— Não precisa se preocupar com nada, Marcos. Não me incomodou.
Ele engatou a marcha e saiu com o carro, voltando para casa.
— Mesmo assim, vai desculpando qualquer coisa.
— Sem problema.
No seu íntimo, Amália achava graça da situação. Mas não sorriu.
O carro estacionou e ela desembarcou. Quando passava pelo portão lateral, veio a pergunta:
— Sobrou alguma coisa do almoço?
— Sobrou sim. Você quer?
— Quero. Estou sem uma refeição descente faz tempo.
— Certo. Vou tomar banho e te aviso.
— Ok!
Após 20 minutos, Amália abria a porta da cozinha e, logo, Marcos chegou:
— Se importa? — Mostrou a garrafa de cerveja.
— Não. Fique à vontade. — Ela respondeu voltando ao fogão.
Ao vê-la assim, algo lhe chamou a atenção:
— Uau! O que é isso nas suas costas?
Ela parou de imediato o que fazia e correu ao quarto. Voltou de lá vestindo uma blusinha de gola, que lhe ocultou a parte. Só então respondeu:
— Não é nada.
Mas Marcos percebeu que, após a pergunta, Amália se fechou mais. Mesmo assim, durante a refeição, ele observou a simplicidade da casa e a organização das coisas, então quebrou o silêncio:
— Amália, você pode me ajudar?
— Em quê exatamente?
— Preciso de uma diarista para organizar minha casa, e é difícil encontrar uma pessoa de confiança hoje em dia. Será que você teria alguém para indicar? — Ele pegou o prato, se serviu e voltou ao seu lugar. Deu mais um gole na cerveja enquanto aguardava a resposta a garota.
Pensativa, ela apoiou os braços na mesa.
— Olha, não conheço quase ninguém na cidade, mas posso perguntar lá no templo.
— Tudo bem, mas, olha só: estou vendo que a sua casa é bem organizada e limpa. Você não poderia fazer esse serviço para mim? — ele juntou um bocado de arroz e feijão e levou à boca. — Meu Deus do céu!
— O que foi? O que aconteceu. — ela ficou aflita.
Por uns instantes Marcos ficou olhando para ela enquanto engolia e se servia de outra porção.
— Essa comida esta, simplesmente, divina.
Ela corou na hora.
— Na hora do almoço estava melhor.
— Só acredito se almoçar contigo um dia. — Amália riu. — Vou encarar isso como um sim.
— Sobre a proposta de serviço, não sei se posso aceitar.
— Pensa com calma, é para limpar e organizar, não precisa cozinhar. Lavar e passar eu já pago por fora. Você faz o seu horário. — Marcos bebericou a cerveja.
— Isso é precisão ou realmente você confia em mim?
— Um pouco de cada coisa. Até porque eu sei onde você mora, logo, se precisar quebrar suas pernas, bem, é só vir até aqui.
Ambos riram desatinadamente, até que ela parou séria, perguntando:
— Isso foi mais uma das suas piadas, né?!
— Talvez.
Riram mais um pouco, até que ela respondeu:
— Tudo bem! Aceito o desafio.
— Certo! Então está aqui.
Marcos já pegou a chave extra no bolso e entregou.
— Peraí... como você sabia que eu aceitaria?
— Não sabia. Mas o seu "não" eu já tinha. — ele se levantou: — Olha, se você for cozinhar o seu almoço, e quiser fazer um pouco mais, eu compro. A comida estava uma delícia.
O coração de Amália pulou dentro do peito com o elogio.
— Eu te aviso.
E ele saiu.
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Ehso
RomanceFoi por sofrimento e constrangimento que Amália, aos 35 anos, saiu de Goiânia quase fugida. Em Brasília ela encontrou pessoas pouco conhecidas, mas que estavam dispostas a apoiá-la. Nessa nova etapa da vida conhece Marcos, 28 anos, seu vizinho. Um r...