Foram algumas definições naquela conversa:
— Farei a limpeza como se fossem diárias: em 2 dias, mas cobrarei como 1. Será das 12 às 17 horas, nos dias de quartas e quintas-feiras. Vou comprar materiais e equipamentos de limpeza, e depois você me devolve o valor. Qualquer alteração, me fale ou deixe bilhete antes de sair. Evite me ligar. Não gosto de parar quando estou trabalhando. Estamos entendidos?
Marcos a olhou com severidade:
— Você já foi militar?
A pergunta quebrou o gelo e ela sorriu:
— Não, mas admiro a disciplina e organização deles.
— Não sei porque o seu comentário não me surpreende. — E riu alto. — Mas tudo bem! Eu aceito todos os seus termos.
Era noite de sexta-feira, quando Marcos bateu em sua porta:
— Vi que você esteve lá em casa hoje. Não acertamos em dois dias?
Amália estava passando roupa naquele momento.
— Sim! Fui cedo para dar uma avaliada no serviço, e já dei início. Tem muita coisa pra ser organizada. E as primeiras arrumações são as mais pesadas. Veja: — ela apontou para as cadeiras ao lado da tábua. — Estou terminando de passar suas roupas que a máquina lavou logo cedo.
— Essa montanha de roupas é minha?
— Sim. Aquelas ali no varal também são.
Ele saiu e deu uma espiada. As roupas tomaram todos os espaços.
— Eu tenho tudo isso de roupa?
Ela pegou um monte e mostrou a ele:
— Separei essas para te mostrar que elas têm pequenos defeitos.
— Estou impressionado. Acho que eu mesmo desconhecia aquele guarda-roupas.
— Ele é grande e acaba enganando. — ela reiniciou o trabalho. — Essa é a última de hoje. Amanhã coloco lá.
— Estou quase saindo, vim aqui para te pagar. Se quiser guardar ainda hoje, não tem problema. — Ele retirou algumas notas da carteira e as entregou. — Aqui.
— Espere! Esse não foi o valor combinado. Tem bem mais aqui.
— Não, não foi o combinado. Mas todos fomos pegos de surpresa, certo?! Quando as coisas se normalizarem, os pagamentos também se normalizam, tudo bem!?
— Ok!
— Ok! Bem, agora preciso ir. Até!
— Até!
Agora sozinha, separando as peças de roupa, Amália se lembrou dos jantares, eventos e palestras em que compareciam juntos. Os sorrisos, os selinhos, as mãos dadas. Tudo isso antes do casamento.
"Aconteceu alguma coisa com ele depois daquela momento."
Amália tinha a certeza já que sentiu imediatamente o frio, o distanciamento, a indiferença. Na lua-de-mel, a intimidade do casal minguou, ele não a procurou mais que uma vez. E o lar, outrora promissor, foi abalado.
Se seguiram noites em que ela dormiu só, e orava pelo bem de seu esposo. Um dia, ao questioná-lo, a resposta veio elucidativa e fria:
"— Estou em um propósito."
À época ela se questionou:
"— Mas ele deveria me consultar sobre isso. É o que o texto diz" — Mas preferiu aguardar.
Passados alguns dias, cuidando da roupa do esposo, encontrou marcas de batom em uma cueca. O desespero, a dor. Ela sentiu o seu mundo ruir, mas o desmoronamento veio quando soube que Jussara, uma das vozes do coral, transava com o seu marido. A informação chegou até ela através da esposa de uma integrante do círculo de orações das mulheres de Deus. O seu marido reconheceu o carro do bispo saindo de um motel, fotografou e o seguiu. Assim que os dois desembarcaram, tirou novas fotos e entregou para sua esposa. Amália chorou por um dia e uma noite, pedindo pelo seu casamento. Na manhã do dia seguinte, estava de alma lavada. Saiu do quartinho entoando cânticos e agradecimentos. Foi direto atrás de Jussara e, em uma conversa franca, a perdoou. Agora, nos encontros que conduzia, Amália entoava com força e devoção, a superação que alcançara e, mais ainda. o rebanho se espelhava nela.
Terminou de dobrar a última camiseta, e juntou com as outras em um monte. Pegou a chave e, com dificuldade, destrancou a porta da cozinha de Marcos.
"Preciso avisar que essa fechadura está com problema."
E levou as roupas, colocando no guarda-roupas.
"É muita mesmo." — Pensou consigo olhando.
Organizou tudo e saiu.
Longe dali, Marcos guiava pela autoestrada. No seu percurso para a festa, pensava consigo:
"É uma parceria muito conveniente."
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Ehso
RomanceFoi por sofrimento e constrangimento que Amália, aos 35 anos, saiu de Goiânia quase fugida. Em Brasília ela encontrou pessoas pouco conhecidas, mas que estavam dispostas a apoiá-la. Nessa nova etapa da vida conhece Marcos, 28 anos, seu vizinho. Um r...