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É sexta-feira

O voo sai em uma hora

Madrugada fria, choveu mais cedo

- Pai? - Estamos sentados em um banco do aeroporto, minha mãe e Conrado estão em uma lojinha comprando um presente para a vó Cecília.

- Acho que já sei do que se trata - responde ele.

- Do que? - Olho para ele esperando uma piada ou algo do tipo.

- Sobre sua avó, certo? - O semblante dele é tão tranquilo e sorridentemente calmo que às vezes me pergunto se meu pai realmente existe.

- É... - seguro em sua mão - estou nervoso. Você conversou com ela?

- Eu estou nervoso também - ele me abraça - que nem consegui dormir. Mas respondendo a maior pergunta de todas, sim, conversamos hoje mais cedo.

- E o que ela disse?

- Muitas coisas, mas a principal delas é que ver você é o maior presente que ela poderia receber na vida.

Fico calado durante alguns minutos.

- Posso perguntar uma coisa? Tipo um conselho de pai.

- Pode sim! - Ele sorri - Eu me poucas vezes namorei, umas duas vezes...

- Você está gostando do Conrado? - Ele me interrompe e eu fico boquiaberto com isso.

- É. Não. Tipo. O que? Hã?

- Percebi a forma que vocês se olham e a aproximação de vocês nas últimas semanas.

- Talvez seja isso.

- Filho, uma coisa que aprendi é que o tempo tem revela o que deve acontecer e o que não deve.

- Você acha que ele e eu não devemos insistir nisso?

- Não, eu acho que você e ele devem dar um tempo para entender o que realmente está acontecendo. Você se sente só? Carente?

- Confuso, em relação a isso. Mas eu me sinto bem por outro lado. Gosto da ideia de ter um pai que me escuta.

Ele me abraça bem forte e começamos a chorar.

- Nunca me imaginei pai. Até que comecei a cuidar do seu primo, mas é diferente com você. Me sinto mais completo. Só falta a sua mãe me dar uma brecha! - Ele começa a rir e eu também.

- Ela é dura na queda mesmo, mas o senhor está no caminho certo!

- Falando nisso. Por que eles estão demorando tanto? Daqui a pouco começam a chamar os passageiros.

- Acho que a mamãe - bocejo - passou em alguma livraria.

- Você acha?

- Claro! Quer apostar quanto?

- O que garoto? - Ele me olha sério - Vinte reais, topa?

- Cinquenta e mais vinte se ela comprou um livro do Nicolas Sparks.

- Fechado - ele ri e aperta minha mão - vá passando logo a grana!

- Calma... - eu aponto em direção a minha mãe e Conrado - agora é a hora da verdade.

- Gente! Desculpa a demora! - Diz minha mãe - É que eu parei em uma livraria e tive de comprar "Uma Longa Jornada"! Amo o Nick!

- Sem falar na fila que estava para comprar os doces da vovó! - Conrado suspira profundamente - Estava grande. Tinha me esquecido como era chato comprar essas coisas aqui.

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