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Finalmente chego a mesa onde minha família vai se sentar. Antônio continua me olhando com ar de superioridade. Eu quebraria ele no soco, mas ele é bem mais alto do que eu e seria horrível pro meu pai uma atitude dessa. Penso em perguntar se o Lucas e a família virão, mas percebo que a mesa está organizada por sobrenomes e algumas por setores. Então só agradeço e vejo o embuste ir embora.
Uma música ambiente está tocando ao fundo e várias pessoas estão chegando. Todas olham para mim (o local onde estou sentado mais especificamente) e cochicham entre si. Isso me deixa puramente constrangido. Decido levantar e ir a procura do meu pai.
Vou a recepção e pergunto onde ele possa estar. Sou orientado a ir até o segundo andar, onde tem um escritório. Pego o elevador e sigo as instruções que me dão. Ao chegar no local vejo um balcão que parece uma ilha e ao redor alguns corredores de salas e algumas mesas vazias. Não há ninguém, com exceção de vozes que ouço de algum lugar. Decido seguir até que dou de cara com Conrado e Antônio conversando. Quase discutindo. Eles não me veem, mas posso ouvir um pouco da conversa.

- Você não pode tratar ele assim, Antônio - Conrado parece irritado - você quer arruinar seu trabalho?
- E você o que faria!? - Antônio retruca - Ah, você fez aquela cena no jantar com a família Gouveia. Boa - ele começa a bater palmas, mas sem fazer tanto barulho - Eu sinto ciúmes de vocês! Mesmo você dizendo que ia pensar melhor sobre nós um dia antes.
- Eu estou confuso, Antônio! - Conrado passa a mão na nuca - Eu disse que te perdoo, mas não sei se podemos voltar.
- Não sabe? - Antônio olha pra ele seriamente - Então responda isso! - Ele parte pra cima do Conrado. Meu peito dói ao ver isso. O Lucas estava me avisando esse tempo todo o que poderia acontecer. Conrado se separa de Antônio e o olha. Ambos se beijam novamente só que com mais intensidade. Estava no canto. Observando tudo. Mas sem querer deixo algo cair. Eles se assustam e eu corro para as escadas. Vou até o andar superior e pego o outro elevador que vejo.
Quero chorar. Como ele pôde me dizer aquelas coisas na noite passada, mas gostando de outro. Eu quero fugir desse jantar, mas só penso no meu pai e na minha avó.
Chego no térreo, onde está acontecendo o jantar e vejo Conrado conversando com alguém na recepção. Eu não quero ter que cruzar com ele. Não agora. Não depois do que eu vi. Sou salvo ao ver a mulher mais linda de todas: minha mãe. Ela está tão deslumbrante com seu vestido vermelho, tomara que caia. Bolsa preta e cabelos penteados para trás. Eu vou até ela como ia quando criança. E a abraço bem forte. Sinto os olhares outra vez, mas com ela e minha vó (igualmente elegante) ao lado, posso me sentir blindado.

- Filho - ela me diz calmamente - o que aconteceu?
- Eu não quero ficar aqui - sinto um nó na garganta e uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
- Tess o que houve? - vó Cecília se aproxima.
- Eu me sinto estranho com essa gente toda me olhando e me julgando - respondo e seco a lágrima.
- Você está impecável e é meu neto! Essa gente tem inveja, porque não são você - ela me olha firme nos olhos - escuta, essa gente aqui só vê status, mas se eu sei que escondem vários podres dentro de suas vidas fantasiosas. Eu sei que sua mãe lhe criou bem e que você possui caráter - as palavras dela me deram um certo ânimo - fique mais um pouco e depois vá. Peça a recepção um motorista que eles irão providenciar.
Faço um sinal concordando e dou meu melhor sorriso falso. Seguimos até a mesa da família e meu pai está sentado a nossa espera. Ele começa a se gabar ao me ver junto com a mamãe. Meu pai tem um dom de me deixar em paz, como quando estou com... ELE VEIO!
Confesso que estava a procura dele esse tempo inteiro e que ele fica mais bonito nesses trajes formais do que usando moletom. Lucas estava com uma combinação preta e gravata slim bordô. Cabelo todo para trás o que deixava seu rosto bem destacado e quase angelical.
Nossos olhares se cruzam e ele me faz um aceno e sorri. Conrado chega na mesma hora e senta ao meu lado. Respiro fundo e tento me comportar bem, mas minhas palavras saem mais diretas do que normalmente.

- Seu namoradinho chegou - ele me diz com certo deboche.
- Ele está maravilhoso, não acha? - respondo ao mesmo tom.
- O Lucas é mais um cara loiro e bonito. Nada de mais!
- Sim, sim. Ele não tem heterochromia.
- O que você disse!? - Ele diz um pouco alto e chama a atenção dos nosso parentes.
- O que está acontecendo entre vocês? - meu pai pergunta e ele está bem sério.
- Nada não, pai - tomo a dianteira - eu fiz uma piada e o primo não entendeu.
- Sabe que ele não tem seu senso de humor, não é tio! - Conrado solta um riso forçado.
- Vou falar com o Lucas - levanto - ele foi em direção a piscina. Já volto!
- Espera que eu vou com você - Conrado se levanta ao mesmo tempo - quero ver meu velho amigo de escola - ele sussura pra mim. Seguimos de cara fechada até chegar na área da piscina - o que diabos está acontecendo com você, Tess? Nunca te vi assim.
- Pergunta pro seu namorado! A forma estúpida como ele me tratou - cruzo os braço e me certifico de não chamar muita atenção.
- Eu sei que o Antônio te tratou mal, mas não temos mais nada! - ele me segura firme pelos ombros.
- Não foi isso que eu vi! - Me solto suavemente de suas mãos - Não sabia que se atracar com o ex no escritório onde trabalham é definido como término!
- Você? - Ele dá um passo pra trás - Era você lá? - Eu fico em silêncio e o olho sério nos olhos - A gente está se acertando, mas não tenho certeza se volto. Foi só um beijo.
- Conrado - eu o seguro em ambos os ombros - não sou tão bonzinho e ingênuo a ponto de cair nessa teia de confusão em que você está - ele me olha assustado - você pensa que gosta de mim, mas faz isso porque tem medo de que se admitir amar o Antônio, vá pegar mal pra sua imagem - retiro as mãos dele - agora eu vou indo - me viro e sinto sua mão me pegar forte pelo pulso.
- Não vou aceitar você falando comigo assim! Você me ouviu? - Conrado não grita, mas fala em um tom que assusta.
- Conrado, solta o Tess agora! - Alguém intervém: Lucas - Todos estão olhando pra cá. Pensa direito, cara...
- Quem é você pra falar alguma coisa - Conrado me solta e olha ao redor. Aproveito a deixa e fujo. Vou direto a recepção, pego minhas coisas e peço um carro pra me deixar em casa. Vejo Antônio e ele me olha com uma cara de quem ganhou uma partida de poquer. Por sorte o motorista chega rápido e posso sair daquele ninho de vespas. Mas ao ficar distante do hotel, vejo Lucas tentando me alcançar.

Ele não é pra mim.
Essas pessoas não são as que quero em minha vida.
Só quero meu quarto seguro e ficar distante do Conrado.

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