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Não sei o que deu na minha cabeça, pra ficar estático daquele jeito. Não disse uma palavra a mais e saí rapidamente de perto do Lucas. Ele deve me achar patético, mas eu sei que alguma coisa poderia acontecer alí. Vi muito isso em filmes. O suficiente pra saber que essas "cenas" acontecem uma vez a cada eternidade, na vida de alguém.
Chego em casa um tanto perdido. Me lembrando da tarde que passei com o Lucas. Sou então desperto do transe pelo Conrado — Tess? Você está bem? — faço um sinal de sim com a cabeça e dou um sorriso forçado.

— Se você diz — ele segura uma de minhas mãos e me leva até o sofá — senta aqui comigo! — ele sorri — Senti sua falta esses dias.
— Ah... — não consigo pensar em nada além do que foi dito pelo Lucas em relação ao ex noivo do meu primo.
— Tem sido uma loucura no hotel! — ele começa a tagarelar sobre toda a organização do jantar, contratação de pessoal extra para poder dar folga aos funcionários e várias outras coisas. Eu só faço sorrir e concordar com ele.
— Conheci um vizinho — finalmente falo — o Lucas.
— Sério? — Conrado parece surpreso — É bem raro ver o Lucas por aqui.
— Gostei dele é uma pessoa bem divertida! — não percebo, mas dou um sorriso de leve.
— Ele é mesmo, mas nunca fomos tão próximos. Só a vó Cecília que é amiga dos pais dele. Eles também não vivem aqui. Devem estar de férias ou algo assim.
— Eu só conheci a mãe dele a Maria Eduarda.
— Não dou um dia pra estarem aqui. Talvez a vó os convide pra jantar ou almoçar amanhã — ele me olha um instante — vou ficar com ciúmes se você ficar muito próximo do Lucas.
— O que!? — fico surpreso com o que Conrado diz — deixa de...
— O jantar está pronto! — vi Cecília aparece no exato momento, me interrompendo.
— Estamos indo! — respondemos ao mesmo tempo.
— Capaz! Vocês falando juntos — ela ri — lavem as mãos e venham. Hoje teremos visitas.

Meu coração dispara. Será que os convidados são Lucas e os pais. Seguimos para o lavabo e não paro de pensar no que o Conrado disse. Tento ser o primeiro pra chegar logo na sala de jantar. E pra minha surpresa, os convidados são meus pais.

— Surpresa! — meu pai me agarrar e me levanta como uma criança.
— Meu Deus, amor! — minha mãe se aproxima, mas pera aí! "Amor?" — Deixa eu abraçar ele um pouco — o pai me solta e nos damos um abraço apertado, os três.
— Velhote! O senhor chegou! — Conrado entra no abraço também.
— Ah! Não! Quero um abraço em família também! — minha vó se junta e estamos em um abraço apertado de família.

Rimos e enfim nos soltamos, graças a campainha que toca. Digo que vou atender e não dou tempo de ninguém discordar. Ao abrir a porta da frente dou de cara com Lucas e a mãe.

— Oi, boa noite! — Maria Eduarda me cumprimenta.
— Boa noite — fico sem graça por vê-los, mais ainda em ver o Lucas — podem entrar!
— Tessinho, quanto tempo! — Lucas ri e noto que ele segura uma sacola com duas garrafas de vinho (provavelmente).

Ainda impactado pelo choque de ver ele duas vezes no mesmo dia. Os acompanho até a sala de jantar. Minha vó cumprimenta Maria, como uma velha amiga. Conrado e Lucas se cumprimentam apenas com aceno de cabeça, com exceção dos meus pais. Ele faz questão de apertar aos mãos de Thulio e dar um beijo no rosto da minha mãe.

— Ah! Já sei de quem o Tess tem a beleza — Lucas olha pro meu pai — me desculpa Thulio, mas é a mais pura verdade — as pessoas começam a rir, com exceção de Conrado que dá um sorriso forçado.
— Você não muda, piá! — meu pai ri — Só não fique dando em cima do meu filho na minha frente, ou você vai ser o jantar.
— Meu Deus, Thulio! —  minha avó interrompe — Maria Eduarda está aqui!
— Não se incomode, Cecília. Eu sei do filho que tenho — todos se sentam a mesa. Meu pai e a vó Cecília ficam em ambas as pontas, minha mãe e Conrado ficam em uma das laterais e eu acabo ficando do mesmo lado em que os Lucas e Maria Eduarda estão. Conrado me lança um olhar sério e começa a conversar com minha mãe algo que não posso entender.
O jantar é finalmente servido e a conversa flui naturalmente. Lucas praticamente é quem mais fala e tem argumentos para tudo o que é discutido a mesa. Conrado pouco fala e só me olha e olha para o Lucas com certo desdém. Já não sei o que fazer em relação a isso até que a vó Cecília intervém e me pede para mostrar a sala de música ao Lucas e chama Conrado pra ajudar ela com as louças.
Meus pais ficam na sala de estar conversando com Maria Eduarda. Não havia dito uma palavra ao Lucas até chegar na sala de música e acender as luzes — queria saber tocar alguma coisa — confesso.
— Eu toco piano — Lucas me toma pela mão e senta no banco do piano — sente aqui — ele bate no espaço ao lado dele no banquinho.
— Não, eu fico bem aqui...
— O Conrado não está aqui pra ficar me julgando com aquele olhar de ciúmes — ele ri e começa a tocar algo — eu também teria ciúmes de você com outro cara, mas não entendo ele.
— Como assim? — decido sentar ao seu lado.
— Conrado é seu primo e... — ele para de tocar e se volta pra mim — ele tem o Antônio. Está claro que ele gosta de você, mas eu não vejo como um gostar de amor romântico. Parece mais egóico.
— E como você sabe dessas coisas? — fecho a cara e olho para o piano — Vocês nem são amigos ou coisa assim. Só está falando bobagem.
— Escuta — ele volta a tocar.
— Estou ouvindo — falo com certo deboche.
— Bobo — ele solto um riso — eu... é... já perdi alguém assim. Não era uma situação como a dele, mas estávamos em uma época ruim do nosso relacionamento — ele para de tocar um instante — na época não tinha saído do armário. Estava com minha namorada só por conveniência — ele olha pra mim e percebe que estou atento ao que diz — ela tinha um amigo, por quem era apaixonada, mas eles só se enrolavam e acabavam afetando pessoas ao redor. Eu fui uma, mesmo não tendo certeza do que sentia por ela. Me dei conta de que ela só mantinha a relação porquê não queria ficar só.
— Que complicado — digo e aperto teclas aleatórias do teclado — o que aconteceu?
— Eu terminei depois de uma festa em que vi eles ficando — ele sorri — acho que foi preciso um porre pra eles perceberem que se gostavam. E pra que eu percebesse que acho garotos mais atraentes.
— Como foi com sua família?
— Minha mãe aceitou mais — ele se ajeita e fica sentado com as pernas abertas de frente pra mim — meu pai viu com certa repulsa e aproveitou a deixa pra pedir o divórcio.
— Nossa! — fico assustado — Isso foi recente?
— Sim, sim. Meus pais ainda vivem juntos. Ele está em casa agora. Na verdade a gente veio pra cá, como uma última tentativa de ser uma família. Doidera, né?
— Complicado. Eu acho — respondo e ficamos nos encarando por segundos. Posso sentir o que quero e que nossas energias se atraem, mas também sinto uma confusão sentimental em relação ao Conrado.
— Esse corte valoriza seu rosto — sinto seus dedos gelados tocando minhas bochechas. Até que sua mão percorre até minha nuca e me puxa para um beijo. E que beijo! Me ajeito e fico de frente para o Lucas que me segura pela cintura, me encaixando em seu colo. Seu corpo é quente e definido, debaixo do cardigã preto e camisa gola polo Branca por debaixo.
Sinto uma energia que vai do meu corpo ao dele. Uma sinfonia.
— Espera! — eu interrompo e me desfaço dos seus braços. Indo em direção a uma estante de livros.
— Me desculpa — ele fica ainda no banco, mas me olhando — eu não consigo parar de pensar em você. Desde quando te vi no café.
— Não é isso — o que estou dizendo? Eu também pensava nele. Eu quis o beijo também — eu vou pro meu quarto. Diga que me senti mal e fui pra cama — me retiro sem dar me despedir.
Corro até o quarto e faço questão de trancar a porta. Meu corpo está reagindo ainda ao beijo do Lucas, ao corpo dele. Estou excitado e querendo mais e mais. Nem quando namorei o Yure, me senti assim. Nem quando Conrado e eu nos beijamos, me senti assim.

O que diabos está acontecendo comigo?

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