17 - Onde está o King?

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- Onde está o King? Perguntou-me a Nicole naquela mesma noite no playcenter, quando saímos do Maxi-motion 2000.

- Ficou apavorado com o Michael Jackson do Thriller. Saiu correndo. Respondi.

- Eu não falei que o Ralf morre de medo do Michael com a jaqueta vermelha? Gritou minha amiga saindo para procurá-lo.

- Juro pra você que é a primeira e última vez que venho nessa tal Noites do Terror, brother. Como alguém pode pagar pra ficar com medo?

- Cara, tinha um Jason enorme com o facão enfiado na guela de uma mulher vestida de noiva. Sinistro. Cadê a Nicole e o King?

- Adivinha?

- Michael Jackson do Thriller?

- Michael Jackson do Thriller.

- Você sabe que ele morre de medo da jaqueta vermelha, Led. Seu burro!

Já estávamos descendo a escadaria da igreja quando vimos o carioca bombado passando lá em baixo na rua, após a praça.

- É agora, Nicole, vamos ver se o King está com eles.

Corremos um pouco até que o Flávio nos reconhecesse. Ele parou e fez a pergunta antes mesmo de nós:

- Vocês viram o Caê por aí?

- Aí, cara, a gente tava mesmo atrás do Ralf, o nosso colega, o fortinho.

- Ah, esse aí é o King, né? Estava bebendo com a gente. Ele saiu com o Caê da arena pra comprar mais vinho e não voltaram.

- Se vocês zoaram meu amigo, vão se foder com a gente, hein. Avisou a Nicole.

- Calma aí, gótica doida! na mesma que vocês. A gente tá dormindo fora da cidade, quero ir embora e o Caetano não aparece. Aquele tonto vai ficar aí, completou o carioca.

- Então o colega deles também é tonto como o King. Podemos ampliar a área de busca. Disse.

Mas o King não tinha nada de tonto. Poderia muitas vezes se fazer.

- Vamos voltar na arena buscar o resto da turma, disse a Nicole. De lá procuramos os quatro.

E foi o que fizemos. Karuma estava próximo ao palco dormindo encostado no poste de luz. O Urubu não estava mais lá, resolvi sair e descer até a estação de trem. Deveria ter parado em algum lugar para comer. À direita descia uma pequena viela mal iluminada. Aproximadamente na metade, uma luz alaranjada brilhava de forma bem fraca, piscando às vezes. Parecia um estabelecimento. Resolvi passar na frente. Chegando próximo à pequena portinhola, percebi ser um pequeno bar. Engraçado, podemos ir a Encruzilhada cem vezes e sempre terá uma portinha que você nunca viu antes. A luz pendurada na fachada denotava um lugar misterioso, esquecido pelo tempo. Entrando no lugar, uma antiga balança vermelha em cima do balcão, um baleiro amarelado e uns salgados bolorentos na vitrine embaçada de gordura. Atrás do balcão uma prateleira com bebidas antigas e vulgares. Um homem grande e gordo ouvia um radinho antigo a pilha. Num canto um senhor com um boné azul de candidato a político, no outro, sentado olhando para o calendário pendurado na parede estava o Urubu, comendo um bolinho de carne verde.

- Amigo, coloca uma cerveja pra mim, por favor? Pedi, sentando-me ao lado do Urubu. Ele mal se mexeu.

O dono do bar me serviu e voltou para o seu radinho, que tocava umas modas antigas de viola.

- Mas que filho da mãe, pedi uma cerveja, ele me colocou uma dose de pinga com limão.

- Pedi uma maria mole e ele fez a mesma coisa. Só tem pinga nessa joça.

Funerária do RockOnde histórias criam vida. Descubra agora