A noite vinha chegando quando nos instalaram em três quartos. King e eu ficamos no último quarto do corredor. No primeiro foram instalados Urubu e o Karuma. E na outra ala do castelo, em um quarto solitário, antes da escadaria da torre, ficou a Nicole. O nosso cômodo lembrava um daqueles quartos que aparecem nos filmes antigos, provavelmente do século retrasado. Os móveis eram coloniais, com uma enorme cama, com colunas de madeira maciça que iam até uma altura considerável. Em torno delas, um mosquiteiro circundava, dando a impressão que dormiríamos na cama de algum príncipe medieval. Abajures amarelados nos criados, um grande espelho oval, com bordas entalhadas em madeira, tapetes e papéis de parede arcaicos, cheiro de lugar fechado. Uma impressão de estarmos numa viagem no tempo.
- Aquela mulher não parece um desenho animado? Perguntou King já pulando de costas no colchão.
- Cara, você não achou nada esquisito nesse tiozão? Indaguei arrumando o travesseiro da cama.
- Claro, porra. Tudo é esquisito. Ordem do Dragão, o castelo, os funcionários. Você não percebeu? Esse lugar deve ser um ponto turístico. Igual no Playcenter.
- Estou muito desconfortável em ficar aqui, de verdade. Deveríamos ter aceitado o convite do tiozinho lá da cidade..
- Eita, já viu esse quadro?
- King, não mexe aí, porra. Vai quebrar esse negócio, aí sim vamos ficar presos nessa cidade.
- Relaxa, vou quebrar não. Você acha que o tiozão é viado?
- Deve ser, tem cara. Respondi. E a tia Helga?
- Com certeza pega mais mulher que você, Led, seu virgem.
Acordamos umas nove da noite, com a mulher nos chamando. Tomamos banho e descemos. A mesa era como o resto da casa, antiga e enorme, com candelabros enormes no centro. O jantar estava ótimo, aliás, não lembro, até aquela altura de minha vida, ter comido algo tão bom. O seu Vladimir desceu do seu quarto, que provavelmente era na torre. Acompanhou-nos sem tocar na comida, parecia bem a vontade com a gente, riu das piadas de King, falou um pouco sobre a tal irmandade, a tal Ordem dos Dragões. Mas não disse nada mais sobre isso. Apenas comentou sobre algumas de suas viagens, em especial, pelo que lembro, sobre uns dias que passara na Grécia. No mais, apenas a esquisitice e os olhares profundos para a gente, em especial para a Nicole, que parecia já afetada pela sua busca incessante pelos seus olhos. O Urubu tentava impressionar o velho. Falaram da cultura gótica, um pouco da arquitetura, literatura e tal. Eu estava mesmo querendo ir logo para a cidade.
Bastou deixar os entornos do grande castelo para podemos perceber o quão linda é a noite em Minas Gerais. Paramos o Caronte Negro na estrada para poder observar as estrelas, que naquela noite eram infinitas.
- Eita, que bonito! Exclamou o King. Olha como brilha aquela estrela.
- Aquela não é exatamente uma estrela. Corrigiu o Urubu, este que você está apontando é um planeta. Vênus.
- Mentiroso esse Urubu, inventa as coisas na hora para parecer inteligente. Devolveu King.
Mas era mesmo Vênus. O nosso parente que ferve tanto que chega a ser mais quente que Mercúrio, o primeiro planeta do Sistema Solar. Depois de alguns anos o Urubu me ensinou direito sobre astronomia e o quanto é importante sabermos sobre os astros. Mas naquela noite eu só pensava nos astros de rock mesmo, e estava louco para chegar logo na arena de eventos. Urubu não, estava absorto diante de toda aquela nuvem galáctica, observando a imensidão, sem sequer imaginar que sua vida também mudaria para sempre naquela viagem. Aliás, as vidas de todos nós mudariam.
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Funerária do Rock
Misteri / ThrillerCinco jovens da cidade grande encontram mistérios indecifráveis quando decidem assistir a um show de rock numa cidadezinha do interior.