24 - Epílogo

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Os cariocas estavam descendo a ladeira, vindos do mirante. Demos um abraço sincero em nossos novos amigos do Rio, prometendo-lhes uma visita. Compramos uma sacola de pão de queijo, abastecemos e calibramos o caronte negro, nos esprememos no banco de trás, pois agora teríamos dois passageiros a mais, para a alegria da Nicole.

A volta foi tranquila como deveria ser, com aquele gostinho de fim de viagem. Uma melancolia que iria nos acompanhar por todos os nossos passeios com a saudosa opala caravan 1978. No final, todos os maus momentos iriam virar narrativas emocionantes nos bares de São Paulo, e posteriormente nos churrascos entre amigos e família, quando, já alcoolizados, virávamos oradores de nossas aventuras.

Eu já estava pensando na primeira carta que eu iria mandar para a Verônica. Karuma estava roncando, pois iria trabalhar na Galeria do Reggae na manhã seguinte. Nicole teria ainda um tempo para contar como foram seus anos para seu pai, Urubu estava feliz, pois ganhara um beijo da pessoa mais importante de sua vida e King já estava planejando surfar em mares cariocas. Todos felizes.

Descendo a Serra da Cantareira, vimos as luzes da grande São Paulo. A terra que engole gente. Que entorta os sonhos. Que traz o jovem à realidade. Eu iria fazer os cursos que meu pai pedia, e talvez até cortasse o cabelo. Mas nunca deixaria meus sonhos de lado. Uma parte de minha história ficou em Minas Gerais. Agora era a hora de pensar um pouco na minha vida aqui.

Geralmente o dono do carro é o último a chegar em casa, mas não lembro bem o motivo que fez o Urubu passar antes na casa dele.

Saímos do caronte para esticar as pernas e estávamos bem perto de nosso amigo Urubu, quando o seu pai saiu do portão, abraçou inesperadamente o filho e nos contou, com muito pesar, que nosso avô, Epaminondas, o vô Epa, tinha morrido no fim de semana. Um infarto fulminante.

Pela primeira e única vez, e para o desespero de todos nós, nosso amigo Urubu chorou. 

Funerária do RockOnde histórias criam vida. Descubra agora