Capítulo 7

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O beijo dele foi carinhoso e puro, mas Olívia sentia a fome por trás daquele abraço. O desejo de Ian parecia o dela, ameaçando consumi-la e incendiá-la.
Ele passou os braços ao redor dela. Era bem mais alto e forte e ela se sentia presa em seu abraço, incapaz de se soltar. Mas era seu próprio desejo que a mantinha presa, segurando-a como nenhum ato de força conseguiria fazer. O corpo dele estava rijo e quente junto ao seu. O ar fresco soprava, vindo do mar, revirando seus cabelos louros, e ela sentia o sol brasileiro sobre a pele. O mundo parecia ter parado no tempo, enquanto os lábios dele exigiam a rendição que ela procurava.
Ela percebeu que o segurava com tanta força quanto ele a ela. Seus dedos apertavam as costas dele enquanto ele a provocava com a língua, fazendo com que um suspiro surgisse no fundo de sua garganta.
Sabia que devia parar, mas queria mais um minuto nos braços dele. Seu corpo inteiro implorava por apenas mais um minuto...
Mas, independente do quanto ela quisesse, não podia deixar que isso acontecesse.
Para Olívia, fazer amor com um homem significava estar apaixonada, enquanto para Ian não era nada além de um momento de prazer, rapidamente esquecido, antes do raiar do dia.
Os beijos ardentes de Ian a atraíam para sua própria destruição.
— Olívia — sussurrou ele, junto aos cabelos dela. — Venha para a minha cama. Agora.
O coração dela disparou. Ela apertou o rosto junto ao peito dele, quase sem conseguir respirar, tão forte batia seu coração.
— Isso não seria sábio.
— Por quê?
Ela lambeu os lábios.
— Eu lhe disse... não posso simplesmente ser seu caso de uma noite.
Ian deslizou as mãos por seus cachos louros, que desciam por seus braços nus.
— Para mim, você é muito mais que o caso de uma noite só. Ela o olhou.
— Sou?
— Sempre estaremos ligados, Olívia. — Seus olhos escuros sorriram para ela. Seu sorriso arrogante era impossível de resistir. — Você é a mãe do meu filho.     
Apenas isso.
Mesmo sem querer, o coração dela murchou dentro do peito. Ela deveria estar contente. Por Ian querê-la como sua amante, e porque seria um parceiro ativo na criação do filho, pois isso era muito mais do que ela se atrevera a esperar.
Mas isso não a satisfazia mais. Seu coração tolo e ganancioso queria mais. Ela queria poder fazer amor com ele e ficar segura em. seus braços. Saber que poderia confiar nele, em seu coração. Saber que ele se esqueceria de buscar outras mulheres, todas aquelas mulheres lindas, com carreiras brilhantes e diplomas de faculdade...
Ele carinhosamente ergueu o queixo dela.
— Sempre irei respeitá-la, Olívia, sempre a honrarei.
— Mas ninguém mais o fará — sussurrou ela. — Todos pensarão que eu quis dar o golpe do baú e fiquei grávida propositalmente. Sempre me tratarão como uma prostituta.
Um xingamento em português escapou dos lábios dele.
— Eu matarei qualquer homem que se atreva a fazer isso. Ela sacudiu a cabeça, quando as lágrimas minaram em seus olhos.
— Não importa. A questão é se posso confiar em você para ser um bom pai.
Ian recuou, afrontado.
— O quê?
— Você nunca se comprometeu com mulher alguma por mais que uma semana. Posso confiar que você amará uma criança uma vida inteira?
— Essas coisas são totalmente diferentes!
— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — É a mesma coisa. É amor. É lealdade...
— Eu jamais abandonarei um filho. Está me entendendo, Olívia? Porque eu sei qual é a sensação. Não tive pai. Quando tinha 8 anos, minha mãe me abandonou para deixar o país com seu mais recente amante. — Ele desviou o olhar, contraindo o maxilar. — Eu jamais faria isso com um filho meu.
Ela o encarou, chocada.
— Mas você é um Lima — disse ela, confusa. — Seu pai era dono da metade das minas de ouro do mundo, antes de morrer. Suas irmãs mais velhas se casaram com gente da realeza européia. Você já era rico de nascença, muito antes de fazer seu primeiro milhão no negócio do aço!
Ele curvou os lábios cruéis.
— Isso é história.
— Não é verdade?
Ele a pegou pelo braço, olhando-a.
— A verdade é que eu a quero, Olívia. Criando meu filho. E em meus braços, em minha cama. — Ele acariciou seu rosto até o pescoço e passou o polegar no mamilo, provocando-a. Depois sussurrou: — E sempre consigo o que quero.
Ian baixou a boca até ela, num beijo ardente. Ela sentiu a rigidez do corpo dele junto a si. Ela não queria nada mais do que se render.
Não conseguia resistir ao desejo de Ian. Sua força. Seu poder. Seu calor.
Quando ele a beijou, Olívia enrascou os dedos na parte de trás da camisa preta, sentindo o beijo como uma corrente elétrica em seu corpo e o vento em seus cabelos, enquanto permaneciam ali, sob o sol da varanda da cobertura, de frente para a praia de Copacabana, e ela já não podia afastá-lo.
Tinha de ceder. Não havia escolha...
Então, ela percebeu que o celular dele estava vibrando em seu bolso.
Contendo um palavrão, ele olhou para o visor para ver o número. Sua expressão mudou.
Depois ele se afastou de Olívia para atender à ligação!
— Bom dia — disse ternamente. — Cátia. Eu vou mais tarde, por favor!
Olívia piscou, perplexa, esforçando-se para recuperar os sentidos. Ela ouvia o som carinhoso, quase apelativo da voz dele, e suas faces ficaram vermelhas de humilhação.
Dois minutos antes ele estava beijando Olívia, decidido a levá-la para a cama.
Mas já tinha se esquecido dela. Ele a soltara em meio a um beijo, para falar com outra mulher!    
Eu só posso estar fora de mim, pensou ela, colocando as mãos sobre a cabeça. Verdadeiramente insana!
Ian pôs a mão sobre o fone.
— Desculpe — disse ele, friamente, como se Olívia ainda fosse apenas sua funcionária. — Volto num instante.
Ela ficou olhando, enquanto ele saía da varanda, passando pelas portas corrediças de vidro. Chocada, lutando contra as lágrimas, Olívia se virou para olhar a vista da praia de Copacabana e o mar aberto.
Ela esteve tão perto de ceder!
Como podia pensar em confiar em Ian? Ele não tinha nada do homem calmo e leal de quem ela precisava. Não se parecia em nada com Timothy...
Mas, espere. Timothy também não era um bom homem.
Ele andava comprando e vendendo bebês no mercado negro. Tirando crianças de mães pobres e entregando-as a casais ricos, que podiam pagar suas taxas ilegais.
Timothy, um frio vendedor de bebês? Ela ainda achava isso difícil de acreditar. Embora fosse verdade que ela, às vezes, se sentia desconfortável perto dele. Quando ele a pediu em casamento pela primeira vez, ela tinha 15 anos, trabalhava longas horas na lanchonete Dairy Burger e lutava para conseguir cuidar da mãe doente. Timothy tinha 25 anos e era recém-formado em direito pela Universidade de Yale. Ela ficara incrédula com seu pedido, mas ele continuou tentando. Ele até se oferecera para ajudar a sustentar Olívia e sua mãe moribunda.
Mas ela não quisera a caridade de Timothy. Não seria certo tirar vantagem de seus sentimentos, nem fazê-lo pensar que o relacionamento deles podia ser mais que amizade.
Até o ano passado. Depois que sua mãe se foi, Olívia não tinha motivos para continuar em Flint... e Timothy lhe oferecera outra coisa que ela não pôde resistir: um emprego na cidade de Nova York.
Talvez ela estivera errada em aceitar. Mas não podia se enganar. Jamais teria conseguido o emprego sem a ajuda dele. Todas as outras secretárias de Ian não apenas haviam terminado o ensino médio, mas também eram formadas na faculdade. Ainda assim, contra todas as probabilidades, ela se saíra bem em sua função de secretária júnior. Aprendera rapidamente. Era benquista pelos outros funcionários.
Ao menos até Jessica espalhar os boatos de que Olívia estava tentando subir no trabalho subindo em cima do chefe.
Ela respirou pela boca. Talvez ela realmente fosse a promíscua que achavam que era! Ela quase concordou em ser amante de Ian, sabendo que ele jamais se casaria com ela. Sabendo que ele jamais a amaria, que quando se cansasse dela na cama Ian seguiria em frente. Sabendo que todos acreditariam que era uma golpista, uma secretária gananciosa que se aposentaria de seu emprego assim que engravidasse do chefe!
Ian voltou à varanda.
— Desculpe, querida — murmurou, esticando a mão para ela. — Onde estávamos?
Ela se afastou, bufando.
— Você deve estar brincando!
— Você está aborrecida?
— Por que você estava me beijando, depois parou para atender uma ligação de outra mulher!
Os olhos dele esfriaram.
— Você não é minha dona, querida. Não se ache no direito de saber os meus segredos.
— Por que não? — disse ela, lutando contra suas lágrimas furiosas. — Desde o instante em que você me seduziu, agiu como se fosse meu dono. Como se fosse meu dono, para me ignorar ou desfrutar, conforme quisesse...
Um dos guarda-costas tossiu ao abrir a porta de correr que dava acesso à varanda.
Ian se virou, de cara feia.
— Sim?
— A médica está aqui, senhor.
Os olhos de Ian ainda estavam enevoados quando ele se virou para Olívia. Contraindo o maxilar, anunciou:
— A médica chegou.                        
— Médica? — repetiu ela, ainda franzindo o rosto.
— Sim.
— Mas eu lhe disse que meu pulso está bem!
— A médica não é para seu pulso. É para nosso bebê.
Nosso bebê. Ouvir estas palavras saindo dos lábios dele causou coisas estranhas dentro dela. Fez com que ela o perdoasse por qualquer coisa. Ela desesperadamente lutou contra esse sentimento!
— Já que você acaba de perceber que estava grávida — continuou ele —, estou imaginando que não tenha feito um pré-natal, em Nova York.
Ela balançou a cabeça.
— Só um teste de farmácia.
— Foi o que pensei. De agora em diante, meu filho terá cuidados de qualidade. Letícia vem para lhe fazer um checkup. Um ultrassom.
Letícia? Ele chamava a médica pelo primeiro nome? Ian subitamente sorriu e seu lindo rosto reluziu de charme.
— Venha. Chega de discussão. Vamos ver nosso bebê.
Ele estendeu a mão, esperando.
Olívia relutantemente pegou a mão dele. Ao sentir os dedos enlaçando os dela, uma corrente a percorreu... não somente de desejo, de algo mais.
Inteireza.
Não! Ela não podia se permitir imaginar que eles fossem uma família. Numa família de verdade, uns amavam aos outros, se protegiam mutuamente, confiavam uns nos outros. Ian e Olívia poderiam criar o filho juntos, mas jamais seriam mais que pais solteiros...
Ela dizia essas coisas a si mesma, mas seu corpo não ouvia. Enquanto ele a conduzia para dentro, deixando a varanda, ela não conseguia deter a sensação de que aquilo era o certo.
Esse homem é para você, seu corpo insistia. Você é para ele.
Quando Ian sorriu para ela, seu coração deu um nó estranho, uma sensação diferente de tudo que ela já havia sentido. Ela se maravilhou com a beleza masculina de seu rosto. O sol brasileiro radiante acariciava sua pele morena, reluzia em seus cabelos negros, fazendo com que seu belo rosto o fizesse parecer um anjo misterioso.
—Você está pronta, meu amor? — Ele abaixou a cabeça para dar um beijo nos nós dos dedos dela.
— Venha, meu amor, vamos ver nosso bebê.

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