Capítulo 4

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A escuridão era estranha, reduzida apenas pela fraca iluminação que vinha através das vidraças cobertas por panos rasgados. Os becos faziam curvas que se estendiam pela favela de ruas de concreto rachado e escorregadio, por causa da chuva.
Ela havia virado a primeira curva, ao saber que cometera um erro terrível. Tropeçou no chão desnivelado, pisando na saia de tafetá. Sentiu uma dor no pulso esquerdo e soltou um gemido involuntário.
— Onde você está indo?
Um homem saiu da sombra. Atrás dele, um jovem com os dentes pretos a olhou de cima a baixo.
— Está perdida, gringa?
Ela não entendeu as palavras, mas a forma insolente como eles pareceram despi-la com o olhar alertava para o perigo. Usando a mão boa, ela se forçou a levantar.
— Com licença — disse, recuando — eu vou...
O jovem bloqueou seu caminho quando um terceiro homem surgiu da sombra. Os três a cercaram, se aproximando até que ela pudesse ver o olhar malicioso, na semi-escuridão.
— Mas que bela noiva — disse o primeiro, com um inglês carregado de sotaque. — Eu fico com esse seu anel de diamante, gringa.
As mãos dela tremiam ao tirar o anel de noivado de Timothy e jogá-lo no chão. Ela torcia para que isso fosse distraí-los tempo suficiente para que ela pudesse fugir. Ela se virou para correr, mas o jovem bloqueou-a. Ele deu um sorriso e ela estava perto o suficiente para ver o dente faltando e sentir seu hálito ruim.
— Agora — disse o primeiro, com sotaque, falando atrás dela — eu vou ficar com esse vestido...
Ela gritou quando os homens se aproximaram.
Subitamente, Ian estava entre eles, protegendo-a. Ele brigou com o primeiro, dando um soco, depois um chute, fazendo com que todos recuassem. A ferocidade nos olhos dele a assustou, mesmo enquanto se agarrava a ele, diante do perigo da favela.
O mais velho passou pelos outros e estreitou os olhos para
Ian, reconhecendo-o.
— Lima — disse ele, e cuspiu no chão. — Está aqui de férias?
— Sai fora, Carneiro — disse Ian. Ele torceu os lábios, ao acrescentar, em inglês: — Esta mulher é minha.
O outro homem deu uma risada, e gesticulou para os companheiros que chegassem à frente.
— Você foi imbecil de voltar aqui.
Ian se moveu rapidamente, girando diante dos três homens, mantendo Olívia atrás dele. Numa série de movimentos acrobáticos, ele empurrou os agressores para trás, com um chute atrás do outro. Ele derrubou um deles dando uma cambalhota, e chutando com a perna oposta, num golpe mortal que atingiu a parte de trás da cabeça de Carneiro. Ian deu uma cotovelada no segundo e um soco no terceiro, jogando-o no chão e dando uma cabeçada na testa do homem. Xingando, os três saíram cambaleando pela escuridão.
Olívia se virou com o coração disparado, vendo-os sumir nas sombras do mesmo lugar de onde tinham vindo. Então, Ian a pegou pelo ombro e a virou.
— Sua tola — ele disse, entredentes. — Eles vão voltar com mais gente. Eu deveria deixá-la aqui!
— Então, deixe! — gritou ela. — Prefiro correr o risco com eles do que com você!
A mão dele apertou seu ombro, emanando ondas por seu corpo. Ela esqueceu a dor no pulso. Algo começou a tremer dentro dela.
— Você está ansiosa para entregar seu corpo a dez ou 12 homens? — perguntou ele, furiosamente. — Passar de um para outro?
Ela ficou branca com a pergunta. Depois fechou os punhos. Ela não o deixaria ser bem-sucedido em assustá-la.
— Eu quero ir para casa!
— De volta para seu amante? — perguntou ele.
— Timothy não é meu amante!
— Mas você está desesperada para voltar para ele, a ponto de arriscar a vida de nosso filho!
— Eu jamais arriscaria nosso filho! — disse ela, ofegante.
— Você fugiu! — Outro trovão ecoou e ela viu a fúria nos olhos dele. — Sabe o que teria acontecido se eu não a encontrasse a tempo?
Os reflexos do terror a atordoaram. Ian estava certo. Ela havia arriscado a vida do bebê!
— E tudo por estar tão apaixonada — disse ele, debochado.
— Eu não estou apaixonada por ele! Eu só ia me casar porque não pude ter você! — ela gritou, depois cobriu o rosto com as mãos. — Eu só quero... ir para casa!
Outro relâmpago ecoou acima deles. Ela mal sentia a chuva caindo sobre suas roupas já molhadas, mal ouvia o vento soprando em seus ouvidos.
Subitamente, ele a ergueu nos braços.
— Shh, Olívia — sussurrou ele, carinhosamente beijando-a na têmpora. — Está tudo bem. Vai ficar tudo bem.
Ele a segurou, fazendo carinho. Mas seu carinho só fez com que ela chorasse com mais força.
Ian tinha razão de estar zangado, ela percebeu. E se ele não a encontrasse a tempo? E se não tivesse conseguido salvar Olívia e o bebê de sua tola decisão de sair correndo para dentro da favela? O que teria acontecido, por causa dela?
— Não posso acreditar que eu tenha feito isso — sussurrou. — Coloquei nosso bebê em risco!
— É culpa minha — murmurou ele, junto à pele dela. — Fiz mal em assustá-la. Você está em segurança agora, querida. Vocês dois.
Ele a pegou nos braços como se ela não pesasse. Ambos estavam molhados da chuva, no desolador beco da favela do Rio; no entanto, de alguma forma, aconchegada ao peito dele, Olívia se sentia aquecida... e segura.
Talvez realmente tudo ficasse bem, pensou ela, tonta, olhando seu belo rosto. Talvez ela estivesse errada. Talvez pudesse confiar nele, no fim das contas...
— Venha, querida. — Seus olhos expressivos brilharam para ela. — Deixe-me levá-la para casa.

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