Epílogo

665 40 3
                                    

— Olha, mãe! Neve!
Após o Natal, o dia amanheceu ensolarado. Havia nevado durante a noite em Nova York. Olivia olhou para cima, sentada no sofá da sala, onde estava amamentando um dos bebês de 6 semanas, enquanto o outro dormia num cesto de vime, ao seu lado. A casa estava estranhamente escura e quieta Os empregados haviam tirado o dia de folga. Olívia estava sonhando, olhando as luzes piscantes da imensa árvore de Natal quando ouviu Cátia, agora sua filha oficialmente adotiva, batendo palmas de felicidade.
— Podemos ir lá fora, mãe? — pediu a menininha, pulando em frente à janela, do jeito que só uma menina de 6 anos consegue. — Por favor, podemos?
— E manhã de Natal! — respondeu Olívia, dando uma risada. — Você não quer abrir seus presentes?
Cátia deu uma rápida olhada na árvore e por um instante pareceu hesitar.
— Sim, mas... — Ela olhou de volta para a janela. — Eu nunca vi a neve!
Olívia ouviu um ranger na escada. Ela adorava todos os rangidos da casa de 100 anos. Principalmente quando reconhecia os passos.
— Ian — disse ela. E ela se iluminou quando ele entrou na sala. Mesmo vestindo uma camiseta branca e calça de pijama, com o queixo escuro da barba por fazer e todo despenteado, para ela, Ian era o homem mais lindo do mundo.
— Olívia! — Seus olhos escuros se acenderam com um sorriso, enquanto descia a escada. Do outro lado do sofá, ele se debruçou para dar um beijo em Olívia.
— Feliz Natal, meu amor.
— Feliz Natal — Olivia respondeu, afagando seu rosto.
— Papai? — Cátia chamou. — Podemos ir brincar na neve? Ian suspirou, se esticando e bocejando.
— Só um minutinho, pequena.
Olívia sorriu diante das olheiras dele.
— Obrigada por fazer companhia para o Gabriel, ontem à noite.
Ele retribuiu o sorriso, olhando para o bebê aconchegado nos braços dela.
— Eu não perderia isso.
A vida era um milagre, pensou ela, feliz. Desde que Ian dissera que a amava, todos os dias eram novos milagres.
Em vários aspectos. Quando Timothy levantou a arma na favela, ela pensou que estariam mortos. Sentiu Ian se virar para protegê-la e aos gêmeos, colocando seu corpo como escudo. Mas quando o grupo de guarda-costas invadiu a casa de cimento, ele deu um último grito de frustração e virou o revólver para si mesmo.
Os bebês nasceram no Bentley de Ian,  a caminho do hospital. Apesar de algumas complicações de um nascimento múltiplo, particularmente no banco traseiro de um carro, tanto Ana quanto Gabriel eram saudáveis. Mais uma dádiva para agrade-cer nesse Natal...
Natal em Nova York! Três semanas antes, Ian comprara essa mansão de nove quartos para Olívia. Com um quintal nos fundos, extremamente raro para o Upper East Side, e um jardim no alto, com a vista do Central Park, a casa era um espetáculo e custara quase 50 milhões de dólares.
Não, Ian não brincava em serviço ao dar presentes, pensou ela.
Todos os dias ele encontrava um novo jeito de fazê-la feliz. Ele não percebeu que apenas amá-la e às crianças já era o maior presente de todos.
— Onde está Ana? - perguntou Ian
— Dormindo no cesto.
— Bebê de sorte. Bocejando outra vez, Ian foi se servir de um café, na cozinha. Ele passara quase a noite toda acordado, com o filho. Gabriel só parecia interessado em dormir à noite se o pai o segurasse junto ao peito e ficasse andando de um lado para o outro, nos corredores.
Olívia olhava encantada para Ana, dormindo profundamente em seu cestinho. Ela dormia muito melhor do que o irmão, talvez porque Ana era mais madura. Afinal, ela era quatro minutos mais velha.
— Papai! — Cátia implorou, pulando de agonia. Ela já colocara o casaco por cima do pijama e as botas nos pés descalços.
— Eu posso ajudar você, garotinha — disse Lilibeth, ao descer as escadas. — Posso lhe mostrar como fazer um boneco de neve. Sou boa nisso. Deixe-me passar um batom.
— Batom? — exclamou Olívia. — Quem pretende encontrar no quintal dos fundos?
— Uma mulher nunca sabe onde encontrará seu príncipe — disse Lilibeth. — Mas eu só estou livre até a noite de Ano-novo. Harold Wynn vai me levar ao baile da Flint Factory.
Olívia conteve um sorriso. Lilibeth se tomara muito próxima, desde que ela voltara aos EUA. Mas ela insistia em ficar em sua própria casa, em Flint, embora freqüentemente passasse os filiais de semana em Nova York, visitando os netos e fazendo compras na Quinta Avenida. Ela se tornara a rainha de sua cidade, dirigindo por toda parte sua Ferrari amarela, recebendo Ian em sua casa, quando ele fora fechar o negócio da compra da antiga fábrica.
Ele havia criado uma nova subsidiária para vender objetos metálicos no exterior e decidiu que Flint seria o local perfeito para a fábrica. Como Olívia não estava disposta a viajar muito, porque os bebês já tinham nascido, Lilibeth, de fato, se tornara sua anfitriã. Ela recentemente comprara a maior mansão na rua principal de Flint, a casa que ficara à venda depois do chocante suicídio de Timothy Wright.
— Jamais gostei daquele homem — disse Lilibeth, quando ficou sabendo do negócio da venda dos bebês. — Eu sempre lhe disse para esperar pelo seu verdadeiro amor, Olívia. Não está feliz por ter me ouvido?
O sorriso de Olívia sumiu. Ela ainda ficava perturbada quando se lembrava de Timothy atirando em si mesmo, dentro daquela favela horrível. E, no entanto, ela admitia para si mesma que estava feliz por ele nunca mais voltar a ameaçar sua família, nem tentar roubar o bebê de outra mulher, para ganhar dinheiro.
Pegando o filho mais pertinho, ela observava a avó, agora muito chique, com o batom laranja que era sua marca registrada, com um casaco felpudo, indo correndo para o lado de fora, brincar com Cátia.
— Papai, você também precisa vir! — insistiu a garotinha, parando na porta. — Venha, agora! — ordenou ela, tão mandona quanto o pai. Depois saiu correndo para o quintal, para brincar.
Ian ficou olhando e sacudiu a cabeça.
— Acho que vou ter que brincar na neve. — Ele suspirou. — A menos que precise de mim — acrescentou ele.
Ela sorriu para ele, com o amor transbordando em seu coração.
— Eu sempre preciso de você. Mas agora acho que Cátia precisa mais. — Olívia olhou para baixo, para seu bebê faminto mamando avidamente em seu peito. Os olhos dele se fecharam e ele dormiu, enquanto ela afagava seus cabelinhos.
— Seu filho vai me manter ocupada por um tempo.
Por vários momentos os dois ficaram olhando para os bebês.
— Obrigada pelo melhor presente de Natal que qualquer homem poderia receber. — Os olhos de Ian cruzaram com os dela. — Eu amo você, Olívia.
Ela abriu a boca para retribuir, mas ele a deteve, com um beijo suave, que logo se tornou algo mais provocante.
Ian a olhou com uma expressão maliciosa, erguendo uma sobrancelha.
— Vou lhe dar seu presente de Natal mais tarde.
— Outro presente? Você já me deu esta casa!
— Tenho uma outra coisa em mente. — Pelo olhar faminto que ele demonstrava, Olívia sabia exatamente o que Ian pretendia lhe dar. Seu coração começou a bater mais forte. Já fazia um bom tempo que eles não faziam amor. Tinham estado tão ocupados, desde o nascimento dos bebês...
— Assim que eles dormirem, você será minha . — sussurrou ele. Esticando a mão para abrir o closet do corredor, ele pegou um casaco preto e colocou por cima da camiseta, depois parou junto à porta e a olhou. — Eu sempre quis fazer amor com uma mulher que não estivesse usando nada, exceto um colar de dia¬mantes de 100 quilates.
— Mas eu não tenho...
— Você não olhou embaixo da árvore — disse ele, malicioso, depois saiu.
Olhando pela janela e vendo a avó, o marido e a filha atirando bolas de neve, Olívia percebeu que nunca fora tão feliz. Ela deu uma olhada nos bebês que dormiam. Nunca sonhara que a vida poderia ser assim. O destino havia criado algo muito melhor do que ela conseguiria imaginar para si mesma.
O destino e Ian.
— Eu também amo você — murmurou ela, e ao ouvir o sopro suave do vento, e o ressonar dos bebês, abençoou o dia em que seu chefe a seduziu no Rio de Janeiro.


*****

Baile de amor Onde histórias criam vida. Descubra agora