Deixando de lado seu livro de gravidez e uma lata vazia de sorvete de morango, Olívia encolheu embaixo das cobertas e ficou olhando a lareira branca. Ela ouvia a chuva forte caindo na janela do quarto. Dias de sol, noites de chuva. Ouvindo o estalar do fogo e o vento soprando fora, fechou os olhos e recostou a cabeça sobre o travesseiro de Ian.
Que tarde estranha.
Depois do ultrassom, Ian a levara para fazer compras, insistindo para que ela levasse tudo que tornasse sua estadia mais confortável. Na verdade, ele realmente gostou da tarde que passaram juntos. Ele flertara com ela. E ela se viu flertando de volta.
Depois, já no meio do jantar à luz de velas, servido pela empregada, quando ela estava em seu segundo prato de lasanha com brócolis cozidos, Ian recebera uma ligação telefônica. Sem qualquer explicação, ele beijara a têmpora de Olívia, e a deixara jantando sozinha!
Olhando o fogo, ela imaginou quem teria ligado para ele.
Graças a Deus que ela tivera o bom senso de recusar seu pedido de casamento. Ele só estava aliviando sua culpa, fingindo fazer a coisa certa. O que ele teria feito, se ela tivesse dito sim? Provavelmente, a mesma coisa que estava fazendo agora... ido direto para os braços de outra mulher.
Poderia ser uma ligação de negócios, disse a si mesma. Algum problema a resolver com uma mina de aço na Mongólia. Poderia ser sobre negócios, certo?
Sim, claro.
Mas ele pedira para ser sua esposa. Ela ainda não conseguia acreditar. O playboy do mundo ocidental a pedira em casamento. Será que alguém acreditaria? Ninguém.
Então, quem poderia acreditar que ela recusara?
Ela puxou a colcha até as orelhas para tentar afastar os pensamentos inquietantes. Os lençóis tinham cheiro de limpeza, com um leve aroma de sua colônia. Ela fechou os olhos, apertando o rosto contra o travesseiro. Ela bocejou, sentindo-se mais exausta do que se sentira em toda a vida.
Mas sabia que não podia dormir. Não, com ele entrando a qualquer momento, vindo se deitar com ela, na mesma cama. Ela bocejou. Tinha de estar pronta para lutar contra não apenas a sedução, mas também com o desejo traiçoeiro de seu próprio corpo.
— Olívia.
Ian a sacudia. Ela sentou no meio da cama, onde estava espalhada. A lareira era só cinza e o vento que soprava junto às janelas havia parado.
Ela percebeu que já era de manhã. A chuva havia parado, e quando ele abriu as cortinas, ela viu o céu cinza-rosado, acima do oceano Atlântico. Estava desorientada, de pijama e cabelos desgrenhados.
Ian, por outro lado, estava impecavelmente vestido. E lindo. Barbeado. Ele agora estava de calça cinza, com um colete cinza bem talhado e camisa amarela. O corte elegante de suas roupas só enfatizava o corpo musculoso e rijo do guerreiro que havia por baixo.
Ficou pensando no que ele teria feito na noite anterior.
Ela não estava com ciúmes, dizia a si mesma, vorazmente. Nem perguntaria. Por ela, Ian podia sair com modelos todas as noites. Na verdade, Olívia ficaria até contente, pois isso significava que não estava tentando seduzi-la.
— Bom dia, amorzinho. — Ian segurava uma bandeja de prata. Ela viu ovos, torradas, frutas e suco de laranja num copo de cristal. E uma rosa vermelha.
— Eu lhe trouxe café da manhã. Ela sentou na cama.
— Café da manhã? — perguntou, contente, quando sua barriga roncou.
Ian se inclinou sobre ela, colocando a bandeja em seu colo, e ela sentiu o cheiro do sabonete, sentiu seu calor masculino e, subitamente, precisou lutar contra a fome que sentia, ainda que apenas comendo torrada.
— Dormiu bem?
Ela rapidamente olhou para o alto, torcendo para que ele não a tivesse visto olhando suas costas.
— Sim, obrigada.
Ele retribuiu o sorriso, com franqueza.
— Como estou indo?
— Em quê?
— Em servi-la.
Ela olhou para a rosa na bandeja.
— Você, provavelmente, poderia arranjar um emprego no Dairy Burger, se o negócio do aço não der certo.
O sorriso dele se expandiu.
— Obrigado. — Ele abriu o guardanapo e o colocou sobre o colo dela. — Tenho um dia movimentado programado para nós.
— Você não vai trabalhar hoje?
— Não, vou lhe mostrar a minha cidade. Quero que você a ame tanto quanto eu.
— Por quê?
— Isso faz diferença? — Ele franziu uma sobrancelha. — Aceite minha oferta. A menos, é claro, que já esteja satisfeita com os guias sobre as cidades estrangeiras.
— Bem... — Era tentador. Ela certamente sempre sonhara em viajar, quando menina. Mas...
Ela deu uma mordida na torrada, depois sacudiu a cabeça, resoluta.
— Você não vai me fazer mudar de idéia com um pequeno passeio, Ian. Depois que os bebês nascerem, vou levá-los para casa.
— Casa pode significar muita coisa. Uma cidade, um prédio. — Pegando a rosa vermelha do vaso na bandeja, ele suavemente afagou o rosto dela, com as pétalas aveludadas. — Casa pode significar família.
A sensação da rosa sobre sua pele provocou um arrepio que se estendeu por todo o seu corpo, depois ela sentiu algo remexer abaixo de seu coração, até mais forte do que no dia anterior. E dessa vez ela soube que não era seus batimentos cardíacos.
Eram seus bebês.
Ela resfolegou, se endireitando na cama, empurrando a rosa e a bandeja sobre o cobertor. Ela colocou as mãos na barriga. Não sentia nada por fora, mas por dentro...
— O que foi? — Ian se inclinou acima dela, ansioso. — O que há de errado? Vou chamar a médica.
— Não. — Ela sentiu de novo. Uma mexida pequenina, mas aconteceu. — Senti um dos bebês se mexendo!
— Sentiu? — Sua expressão habitual de arrogância havia desaparecido. Ele parecia estranhamente inseguro.
— Sim. — Com uma risada encantadora ela pegou a mão dele e colocou sobre a barriga. — Bem aqui.
Ele esperou.
— Não sinto nada.
Ela moveu a mão dele acima do osso da bacia.
— Vai sentir. — Ela suspirou. — Embora possa levar alguns meses.
Ele a olhou.
— Se você pode esperar, eu também posso — disse ele, baixinho.
O ar entre eles ficou eletrizado. Com a mão sobre a barriga dela, em pé, acima da cama, ele sentiu seu coração disparado. As pupilas dela se dilataram. Olívia não conseguia respirar.
— Eu não serei sua amante, Ian — ela sussurrou. Ele deu um sorrisinho.
— Não quero que seja. Ele não a queria mais?
Ela deveria estar aliviada, mas, diante das palavras dele, uma dor fria atingiu seu coração. Ela subitamente soltou a mão dele e o bebê se mexeu, em protesto.
Não vou perguntar onde ele foi, ontem à noite. Não vou, disse, a si mesma. Tenho orgulho demais...
— Onde você foi, ontem à noite? — disparou ela, depois teve vontade de chutar a si mesma.
— Onde eu fui? — Ian entortou a cabeça, olhando para ela. — Somente minha esposa teria o direito de fazer esta pergunta.
— Qualquer esposa sua nem ia querer saber — disse ela, baixinho. — Ela provavelmente teria um ataque do coração.
— Olívia. — Ele se ajoelhou ao lado da cama. — Você não tem qualquer motivo para ficar enciumada. Cheguei em casa logo depois que você adormeceu.
— Chegou de onde? — A voz dela saiu num tom indignado e suas faces ficaram vermelhas, de constrangimento. — E não estou com ciúme!
Mas é claro que estava. Desesperadamente. Ela estava melancólica há meses, observando, de seu cubículo, quando ele deixava o escritório, sempre com belas mulheres a tiracolo.
E seria exatamente assim, se ela fosse sua esposa. Ele a levaria para a cama, pagaria suas contas, daria um nome aos seus filhos... mas nunca lhe daria sua lealdade, ou seu coração. E ela ficaria com a alma murcha, até morrer.
Será que ela sobreviveria, se ele a seduzisse?
Mas... será que sobreviveria, se ele não o fizesse?
— Deixe-me mostrar minha cidade, Olívia — disse ele, baixinho, pegando a mão dela. — Você não se arrependerá.
O desejo de ficar segurando aquela mão, de ficar com ele pelo tempo que pudesse, sufocava cada pedacinho do que lhe restava de bom senso. Pegando a rosa, ela saiu da cama.
— Tudo bem — disse ela, olhando para a rosa vermelha, ainda na mão. Ela tinha cheiro de ternura, de verão e felicidade. — Mas nós só iremos como amigos, certo? Só isso!
Ele entrou no closet e escolheu um vestido branco, de renda.
— Vista isso.
— É adorável. — Segurando o vestido nos braços, ela pegou suas coisas para ir tomar um banho. — Mas só amigos, Ian — alertou ela. — Não serei sua amante. Estou falando sério!
— Não, não será minha amante. — O sol refletiu nos olhos dele, ao sorrir. — Eu lhe dou minha palavra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Baile de amor
RomanceNo sedutor calor do Carnaval do Rio de Janeiro, Olívia sucumbiu ao charme de seu carismático chefe, Ian Lima. No entanto, depois de possuí-la, o bilionário brasileiro não a quis mais... até descobrir que ela estava grávida. E Ian não aceitaria nada...