Quando a médica terminou o exame preliminar de Olívia, Ian deixou o escritório para atender uma ligação.
Uma ligação de negócios... ou prazer?
Não pense nisso. Olívia cerrou os punhos enquanto olhava para o teto. De qualquer forma, ela sabia que Ian não responderia suas perguntas.
Ela deu uma olhada para a dra. Carneiro, de trinta e poucos anos, que agora estava fazendo os preparativos para o exame de ultrassom.
Mais uma das amantes de Ian?
A dra. Carneiro espalhou um gel sobre a leve protuberância em sua barriga nua e Olívia murmurou:
— É muito gentil de sua parte fazer um atendimento domiciliar dessa forma.
— Fico feliz em fazer — respondeu ela, com um inglês carregado de sotaque. — Qualquer coisa para Ian.
Ela o chamava de Ian? Olívia mordeu o lábio.
— E uma mulher de sorte, srta. Jensen — disse a mulher.
O medo de Olívia se tornou intolerável.
— E como sabe disso?
A morena esguia, de cabelos escuros, olhou para ela.
— Ah! Acha que eu fui sua amante? — Ela deu um sorriso alegre. — Sou a irmã mais próxima dele.
O alívio transbordou em Olívia.
— Mas eu achei que seu sobrenome fosse Carneiro.
— E é. Não sou uma Lima! — a médica respondeu, indignada. — Aquelas meio-irmãs não merecem nem engraxar os sapatos dele. Não. Minha mãe o trouxe para morar conosco quando ele tinha 8 anos. Ela o encontrou perambulando pelas ruas.
— Sua mãe o salvou? — disse Olívia. — Depois que a mãe dele o abandonou?
A médica assentiu, tristonha.
— Mas ele vem salvando nós todos, desde então. Ele pagou minha faculdade. Contratou meu irmão caçula, Pedro, para ser seu segurança de maior confiança. Até teria ajudado Mateus, se ele estivesse disposto a deixar a favela. — Ela suspirou. — Mas meu irmão mais velho é orgulhoso demais. Ele recusa a ajuda de Ian.
Carneiro. O mesmo nome do líder dos homens que haviam atacado Olívia na favela.
— Acho que... talvez eu o tenha conhecido.
A dra. Carneiro pareceu triste.
— Ian conseguirá dobrá-lo, eventualmente. Ele levou anos para ganhar a lealdade de Pedro, mas Ian nunca desiste. Ele custeia minha clínica, que ajuda milhares de pessoas, todos os anos, gente que precisa muito de ajuda. Novas mães. Idosos. Crianças doentes, que morreriam sem os remédios que ele prove. — A doutora olhou para Olívia. — Você tem muita sorte. Nem todos os homens são tão honrados, nem tão fortes. E depois do que aconteceu no Natal...
— Falando de mim, Letícia?
Ian estava em pé, na porta, parecendo pouco satisfeito.
— Você sabe que eu não me canso de louvá-lo. — A dra. Carneiro deu um sorriso terno ao meio-irmão. — E chegou bem na hora. Olhe.
Movendo o bastão sobre a geléia na barriga de Olívia, ela apontou para o monitor. Olívia também olhou e instantaneamente esqueceu de tudo, quando viu um pontinho luminoso do batimento cardíaco de seu bebê, no monitor.
A mão de Ian subitamente procurou pela dela. Ele sentou numa cadeira ao lado, com os olhos igualmente fixos no monitor.
— Aquela luzinha... é o nosso bebê?
— É o batimento cardíaco — disse Letícia. — E, ali, vocês podem ver as perninhas... a espinha. A cabeça. Estão vendo?
— Um menino? — perguntou ele.
— É cedo para ter certeza absoluta, mas está vendo aquilo? Sim. Um menino, eu acho.
— Um menino! — Ian disse, exultante.
— E ali... estão vendo... — Ela subitamente franziu o rosto. — Espere. Não há... não posso...
A voz da médica foi sumindo, enquanto ele olhava o monitor, com as sobrancelhas franzidas. Olivia sentiu a mão de Ian apertar a sua.
— O que foi? O que há de errado?
Olívia olhou para ele. Seu belo rosto estava ansioso e vulnerável, enquanto ele desviava o olhar do monitor para a médica. Olívia percebeu que ele estava tentando esconder o medo.
E a percepção a atingiu como um raio: ele amava essa criança tanto quanto ela.
— O que foi? — Com o coração na garganta, Olívia mal conseguiu dizer as palavras. — O que há de errado com nosso bebê?
A dra. Carneiro se virou de frente para eles, com o rosto iluminado por um sorriso.
— Vocês terão uma menina.
— Uma menina! — disse Olívia, feliz. Ela se virou para Ian, triunfante. —Aha! Está vendo? Eu disse que seria uma menina!
— Não é menino? — perguntou Ian, franzindo o rosto.
— Sim — disse a médica.
— O quê?
— Um menino... e uma menina. A menina estava escondida atrás do irmão.
Olívia e Ian piscaram, sem entender. A médica deu uma risada.
— Olhem. — Eles olharam para onde ela estava apontando. Em meio às linhas irreconhecíveis e imagens embaçadas no monitor, Olívia, primeiro, não conseguia ver sobre o que ela estava falando. Depois, ela viu. Outra pequena luz. Outros braços e perninhas. Outro formato de cabeça. Outro bebê.
— Dois batimentos cardíacos. Gêmeos. Parabéns!
— Gêmeos? — Olívia disse, ofegante.
Dois bebês para amar. Dois bebês para cuidar. Dois bebês que precisariam de tudo que seus pais pudessem lhes dar!
Puxando o ar pela boca, ela olhou para Ian. Apenas alguns meses antes, ele fizera uma vasectomia, para evitar ter filhos. Agora seria pai de dois. Uma família pronta. Como ele iria encarar a notícia?
— Você já escolheu nomes? — perguntou a médica.
Olívia balançou a cabeça.
— Tudo aconteceu tão de repente. Não chegamos a pensar nisso. — Ela tentou ver o rosto de Ian. — Poderíamos chamar a menininha de Lilibeth. Ou talvez de Lili?
Ele finalmente se virou. Olívia ficou chocada de ver seus olhos escuros brilhando, cheios d'àgua.
— Ela se chamará Ana.
— Oh, isso é maravilhoso! — exclamou a irmã — Nossa mãe ficaria tão orgulhosa!
Ellie ergueu o queixo e disse:
— Mas minha avó...
— O nome de minha filha é Ana — ele informou, friamente.
Olívia cerrou os dentes. Exatamente como um homem que não liga para os sentimentos de ninguém, só os dele! Mas, por outro lado, se sua mãe adotiva realmente o salvara da fome, nas ruas, isso parecia algo bem pequeno para pedir. Ela fechou os olhos.
— Ana — ela disse, em voz alta. — Ana Jensen. — Ao abrir os olhos, ela assentiu. — Tudo bem, Ana.
Mas Ian não pareceu grato. Ele a encarava, com as sobrancelhas franzidas.
— Jensen? — disse ele. — O sobrenome deles será Lima.
Ela sacudiu a cabeça.
— Você espera que eu vá criá-los em Flint, com um sobrenome diferente do meu? — protestou ela.
— Criá-los em Flint? — disparou ele. — Você perdeu a cabeça? Você vai morar aqui, comigo... todos vocês!
— Posso ficar até que eles nasçam. Mas depois disso? Você realmente espera que eu fique para sempre seqüestrada em sua cobertura, como uma princesa presa numa torre?
— Achei que poderíamos criar as crianças juntos, sou o pai delas.
Ela assentiu.
— E você sempre terá acesso a elas. Vamos combinar sobre a guarda. Mas... — ela ergueu o queixo — ... você não é meu marido. Não terá acesso a mim.
Gêmeos.
Olhando novamente para os batimentos cardíacos no monitor, Ian subitamente viu tudo claramente, pela primeira vez.
Ele havia pensado que, para ele, seria suficiente trazer Olívia para o Rio. Cuidar dela, mantê-los em segurança. Mas agora ele via que estava errado... tão errado!
Um filho. Uma filha.
Sem o seu nome.
Seus preciosos recém-nascidos não estariam protegidos. Eles seriam... bastardos. Exatamente como Ian fora.
Ele ainda lembrava da dor de sua infância. Primeiro, ele não tivera pai... depois, mais tarde, ficou sem mãe. Sem dinheiro, sem casa.
Ele precisou ficar durão, rápido.
Não queria que seus filhos crescessem dessa forma. Precisava protegê-los. Tinha de mantê-los em segurança.
As mãos dele seguraram na beirada do sofá, enquanto ele olhou novamente para as pequenas luzes no monitor.
Ele ouviu o sussurro de uma mulher, de muito tempo atrás. Você vai se casar comigo? Vai?
Mas ele não lhe fizera perguntas. Apenas ficara furioso. Casar com ela? Ele ficara incrédulo por ela tentar prendê-lo depois de saírem três vezes. Se você não se importa comigo, sussurrara ela, então, para mim chega.
Ele nunca mais a veria. Rapidamente a esquecera. Até que recebeu a ligação de um advogado brasileiro, no Natal, no último ano. Ela havia sido encontrada, surrada até a morte. Seu nome estava no testamento.
O corpo todo de Ian ficou tenso enquanto ele contraía o maxilar. Não cometeria esse erro novamente. Havia muito em jogo. Olívia era sua nova chance de fazer as coisas direito, desde o começo. A felicidade de seus filhos dependia disso.
Permitir que Olívia os levasse para os Estados Unidos?
Que tipo de lar eles teriam, entre dois continentes, entre duas famílias? Seus filhos mal conheceriam o pai. Talvez eles também o odiassem...
Droga, ele xingou, sem som. Não! Ele não deixaria os filhos sofrerem, não deixaria que fossem arrancados do pai que os amava! Seriam respeitados. Seriam amados.
Por ambos, pai e mãe.
Olívia era tradicional, não era o tipo de mulher moderna que ficava feliz em assumir a maternidade sozinha.
Já não é ruim o bastante que meu bebê vá nascer sem ter um nome?, dissera ela. Não é ruim o suficiente que eu seja mãe solteira, ruim o bastante que todos pensem que sou prostituta? Você é tão egoísta aponto de querer que isso seja verdade? De tirar a última gota de orgulho que ainda tenho?
Ele podia resolver esse problema. Para todos.
Subitamente, ficou tudo claro.
Ele olhou diretamente nos olhos de Olívia.
— Você vai se casar comigo. O queixo de Olívia caiu.
— O quê?
Ele jamais pensara que pediria a mulher alguma, mas foi estranhamente fácil.
— Você ficará aqui. Vamos criar nossos filhos, juntos. É simples, Olívia. Você será minha esposa.
Ele esperou que ela exultasse de felicidade, que o abraçasse, proclamando sua gratidão. Mas ela não o fez. Ela se retraiu.
— Pare com isso, Iam. Você não é do tipo que se casa. Ele franziu o rosto para ela.
— Eu mudei de idéia.
— Apenas pare! — Piscando com força, ela se virou para a médica. — Os bebês são saudáveis, não são? Meu ciclo nunca foi muito estável, portanto, só fiz um exame de gravidez recentemente. Mas nunca bebi álcool, nem...
— Não se preocupe. Eles parecem ótimos — disse a médica, desviando o olhar de um para o outro. — A gravidez vai indo bem. Só precisará se cuidar. — Ela olhou seriamente para Ian. — Você terá de ajudá-la.
— Sim, claro. — Bosta, ele estava tentando tomar conta dela, como jamais cuidara de mulher alguma, estava tentando transformá-la em sua esposa! Inclinando-se à frente, ele insistiu: — Olívia, eu estou falando sério. Quero me casar com você.
Ela lançou seu olhar azul sobre ele, depois desviou. Ela não acreditava.
A idéia era irônica. Ele jamais pensara que estaria tão disposto a abrir mão de sua liberdade, mas ali estava ele, implorando para que uma mulher se casasse com ele. Para ser rejeitado!
Mas Olívia seria dele. Ian queria ficar com ela por causa dos filhos, sim. Mas também por ele mesmo. Ele a manteria com as crianças, a manteria na cozinha e em sua cama.
Ian já resolvera. O casamento era a melhor coisa, a única solução para todos.
Ele observou novamente o monitor. Ver os dois pontinhos luminosos dos batimentos cardíacos fez seu coração inchar no peito. Ele olhou para Olívia. Seu rosto meigo o encarava.
— Gêmeos — disse ela, baixinho. — Você consegue lidar com dois?
— Posso lidar com mais que isso. — Mas duas crianças precisavam de ambos os pais. Ele abriu a boca para informá-la que eles se casariam naquele dia, querendo ela, ou não.
Depois, vendo seu belo rosto, ele parou.
Ele seduzira Olívia. E a engravidara. Interrompera seu casamento e a arrastara para o Rio. Virará sua vida de cabeça para baixo.
Ela era mãe de seus filhos. Merecia cuidados. Então, por que não ser gentil? Em vez de provocá-la até se casar, por que simplesmente não a cortejar? Afinal, ele sorriu para si mesmo, nunca tivera alguma mulher que resistira por tanto tempo.
— Vai ficar tudo bem — ele esticou o braço para afagar seus cabelos, dominando a impaciência em seu sangue. — Você vai ver.
Agora, a necessidade de casar era óbvia para ele. Ele não podia imaginar por que ela recusara, mas não deixaria que seus caprichos femininos o impedissem de fazer o que seria melhor para todos. Ele não poderia.
Essa noite ele lhe daria a chance de recuperar o fôlego. Tanto ela quanto os bebês precisavam de uma boa noite de descanso. Amanhã ele a seduziria com toda a sua habilidade. Provocaria Olívia com o romance que todas as mulheres ansiavam. Ele a convenceria e lhe daria um dia de romance. Um dia.
Depois, querendo ou não, Olívia seria sua esposa.
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Baile de amor
RomanceNo sedutor calor do Carnaval do Rio de Janeiro, Olívia sucumbiu ao charme de seu carismático chefe, Ian Lima. No entanto, depois de possuí-la, o bilionário brasileiro não a quis mais... até descobrir que ela estava grávida. E Ian não aceitaria nada...