— Olívia! — O rosto de Ian ficou instantaneamente zangado, enquanto ele se levantava. Ele estava sentado no sofá, parecendo muito à vontade no pequeno apartamento da moça. Como se fosse a casa dele!
— Eu não vou dividi-lo! — ela gritou — Não vou!
Ele franziu as sobrancelhas, furiosamente.
— Mas que droga! Eu não vou ser espionado dessa forma. Nem por você, nem por ninguém!
— Você espera que eu simplesmente aceite qualquer história que você me conta? — disse ela, beirando as lágrimas. — Acha que devo me calar e ser grata por estar me traindo? Não vou! — Ela cerrou os punhos. — Sou sua esposa, tenho sentimentos e espero que você... espero que...
O que ela esperava?
Eu espero que você seja verdadeiro comigo, como sou com você.
Espero que me ame, como eu amo você.
Deus, como ela era tola!
— Maldito seja você — ela acrescentou, despencando no sofá, enquanto lutava para esconder as lágrimas. — Maldito do inferno.
Num instante, ele atravessou a sala. Segurou-a nos braços, com um carinho inesperado. Ele a beijou na têmpora, afagando seus cabelos.
— Ela não é minha amante, Ellie — disse ele. — Não é.
— Mas...
Os olhos dele estavam tomados pela emoção.
— Eu não teria me casado com você se pretendesse traí-la.
Ela olhou para Ian, temendo acreditar nas palavras que queria desesperadamente acreditar.
— Então, o que está fazendo aqui?
Ele sacudiu a cabeça.
— Eu não queria que você soubesse... tive vergonha.
— Vergonha? — ela resfolegou. — De quê?
— Saiba disso. — Erguendo o queixo dela, ele a forçou a olhá-lo nos olhos. — Quando a forcei a aceitar meu nome, eu lhe dei minha lealdade. E nunca quebro uma promessa. Nunca.
Ela sacudiu a cabeça, chorosa.
— Mas não é um casamento de verdade.
Abaixando os lábios, ele a beijou num abraço apertado que fez um calor percorrer suas veias.
— Diga-me que não é de verdade — disse ela.
Olívia ouviu um gritinho assustado, vindo da porta. Confusa, ela olhou e viu a morena em pé, na porta, segurando uma bandeja. A mulher fulminou Olívia com os olhos. Se não era amante de Ian, queria ser.
Olívia se virou de volta para Ian.
— Então, por que... por que você está aqui, com Cátia — disse ela, em voz baixa, querendo desesperadamente acreditar —, se ela não é sua amante?
— Ah! — Ele seguiu o olhar dela, que parou na morena. — O nome dela é Angelique Price. É uma babá.
— Babá? — repetiu ela, anestesiada. Na mesma hora, ela ouviu os passos no piso de madeira, e uma garotinha de aproximadamente 5 anos, segurando uma boneca, vindo correndo para a sala. Ela parou, olhando para Ian, com os olhos assustados.
— O que você está fazendo aqui? — disse a garotinha, em inglês, com a voz hesitante, agarrada com a boneca. — Vá embora. Eu não quero você aqui!
Ian levantou.
— Oi, Cátia. — Ele deu um passo na direção dela. — Senti sua falta, minha pequena. Angelique ligou e disse que você esteve perguntando por mim. Eu vim o mais rápido que pude.
— Não! Eu não quero você! Vá embora!
Ian a pegou nos braços e a boneca caiu ruidosamente no chão. Ele a girou nos braços, andando pela sala. Mas em vez de dar gritinhos de prazer, como faria qualquer criança, ela gritou:
— Não! Me põe no chão! Eu não quero você aqui, não quero você!
Ela não era uma menininha bonita, a não ser pelo fato de que todas as crianças são bonitas. Seus cabelos eram castanhos-acinzentados, ela usava óculos grossos, seus dentes eram tortos e era magra demais para uma menina de 5 anos. O coração de Olívia se apertou por causa da menina.
Então, seus olhos castanhos se fixaram em Olívia.
— Quem é ela?
Ele afagou seus cabelos, carinhosamente.
— Essa é Olívia. Minha esposa. — Ele se virou. — Olívia, eu gostaria que você conhecesse Cátia — disse ele, baixinho. — Ela é minha filha.
Uma hora depois, quando a garotinha foi para a cozinha almoçar com a babá, Olívia e Ian sentaram no sofá na sala da frente. A visita entre Cátia e o pai não progredira, apesar de todas as tentativas de Ian.
Quanto mais ele tentava cativar a menininha, mais ela reclamava e o rejeitava.
— Eu contratei Angelique através de uma agência. Não sabia que tinha uma filha, até o último Natal — ele disse a Olívia, esfregando a cabeça com as duas mãos. — Droga, ela morou no Rio todos esses anos e eu nunca soube.
— Onde está a mãe dela? — perguntou ela, baixinho. Os olhos escuros pareceram assombrados.
— Ela está morta.
— Morta?
Ele contraiu o maxilar.
— Yasmin era dançarina, cheia de vida. Quando a conheci, eu estava construindo a mina de Saskatchewan. Nós só saímos algumas vezes, durante algumas semanas. Em nosso terceiro encontro, ela me pediu para casar com ela. Achei que estivesse querendo dar o golpe do baú para me prender. Então, não perguntei nada. Simplesmente a deixei. — Ele desviou o olhar para o piso de madeira. — Quando eu lhe disse que ela não significava nada para mim, ela falou que bastava, que amava muito outra pessoa, e não ia perder mais tempo comigo. Nunca me ocorreu que ela poderia estar grávida.
Ela o encarou, de boca aberta.
— Oh, Ian — sussurrou Olívia.
— Depois, eu descobri sobre Cátia, e não pude suportar a idéia de ter abandonado minha filha durante cinco anos. Eu precisava me assegurar de que nenhuma outra mulher engravidasse sem o meu conhecimento...
— Então, você fez vasectomia. Ele assentiu.
Ela engoliu. Tudo fazia sentido.
— O que aconteceu com Yasmin?
Ele passou a mão pelos cabelos.
— Ela tentou sustentar o bebê sozinha, mas não conseguiu, depois de se machucar. Mais tarde eu descobri que ela tentou entrar em contato comigo, quando Cátia estava com 6 meses. Ela me mandou uma carta. Mas eu nunca recebi. Wright providenciou isso. Ele a ameaçou.
O queixo dela caiu.
— Timothy?
Ele curvou os lábios, num sorriso sem humor.
— Sim.
— Timothy? — ela resfolegou. — Ameaçou a mãe da sua filha?
— Quando eu descobri, no Natal, ele me disse que estava tentando me proteger. Ele escreveu uma carta a Yasmin informando que se ela algum dia voltasse a tentar falar comigo, ele mandaria prendê-la por extorsão. — Ele contraiu o maxilar, melancólico. — Em vez disso, se ofereceu para comprar o bebê dela, por 10 mil dólares.
Ela o olhava de boca aberta.
— Dez mil dólares!
— Ela ficou aterrorizada, pensando que ele poderia roubar o bebê, então, nunca mais tentou entrar em contato comigo. Mas, sem família e sem apoio, ela acabou trabalhando como prostituta de luxo, no Rio. — Ele olhou, com uma expressão vazia. — E foi assim que ela morreu. Um de seus clientes bateu nela, até matá-la, no Natal.
Olívia puxou o ar, quase sem compreender todo aquele horror.
— E Cátia?
Ele balançou a cabeça.
— Yasmin sempre a mandava para uma babá, enquanto atendia os clientes. Cátia sabe que a mãe está morta, mas não sabe como ela morreu.
— Graças a Deus! — disse Olívia. — Pobre criança...
Era uma tragédia terrível. Olívia tivera uma crise de ciúmes por conta de uma bela amante que havia sido puro fruto de sua imaginação.
Durante todo o tempo, sua rival não passara de uma criança órfã.
Interpretando mal a longa pausa, Ian disse, friamente:
— Não se preocupe. Eu sei que Cátia é minha filha, não sua. Seja qual for o motivo insensato de minhas expectativas quanto a você ser minha esposa, eu não espero que me ajude a criá-la.
Olívia se endireitou no sofá.
— Bobagem — disse ela. — Ela é sua filha. Tem de morar conosco.
Os olhos dele se arregalaram.
— Você... faria isso? — perguntou ele.
— E claro! — Ela franziu o rosto. — O que não entendo é o motivo para que ela ainda esteja morando nesta casa, com uma babá. Por que ela não foi morar com você, já que você tem a guarda?
— Eu trabalho longas horas e viajo muito para Nova York. Achei que seria melhor para ela ficar em sua casa...
Ela o interrompeu com um olhar.
— Na casa onde a mãe foi espancada até a morte?
— Você está certa, está certa. — Ele fechou os punhos, pressionando as pálpebras. — A verdade é que eu a quero comigo, todos os dias, mas ela se recusa a sair daqui. Quando tento arrumar suas coisas para levá-la, ela começa a gritar sem parar e se agarra à Angelique.
— Eu não gosto daquela mulher, Ian. Não confio nela. — Ela o quer, acrescentou ela, em silêncio.
— Cátia perdeu a mãe. Ela não me conhece. E eu simplesmente não consigo chegar até ela. — Ele apoiou a cabeça nas mãos. — Achei que se eu lhe desse alguns meses, ela aceitaria sua nova vida, como minha filha. Agora estou no fim da linha. Não sei o que fazer. A não ser convidar Angelique para também vir morar conosco.
Angelique? Morando com eles? Ela o encarou, espantada.
— Você só precisa ser firme.
— Ser firme? — ele deu um sorriso desolado. — Com uma criança de 5 anos? Arrastá-la, chutando e gritando, para tirá-la de sua casa? Não tenho coragem, Olívia. Não posso fazer isso. — Parecendo exausto, ele acrescentou: — Deus me ajude, não sei mais o que fazer.
Ela o encarou por um instante. Gentilmente, esticou o braço e afagou os cabelos dele. Ele parecia terrivelmente abatido. Ian Lima, o bárbaro de Wall Street, o temível da indústria do aço, parecia derrotado e destruído.
Olívia afagou seus cabelos. Fechando os olhos, ele deu um suspiro, virando a cabeça para o carinho.
Ela precisava fazer algo. Não podia suportar vê-lo sofrendo daquela forma. Nem a pobre criança. Ela precisava consertar a situação.
— Eu vou ajudá-lo — disse ela.
Ian abriu os olhos para olhar para ela. Sua expressão pareceu bastante vulnerável. Como um menino. Pela morte de Yasmin. Pela dor da filha. A criança nem sabia que ele existia, até alguns meses atrás...
— O que vai fazer?
Ela o beijou suavemente, na testa.
— Vou falar com ela. Vai ficar tudo bem, Ian — disse ela. — Eu prometo.
A esperança terrível nos olhos dele, enquanto a via ir, quase partiu seu coração.
Ela seguiu pelo corredor, até a cozinha, mas não encontrou Catia, nem a babá. Franzindo o rosto, Olívia subiu. Ela parou, quando ouviu vozes, além da porta de um quarto.
— Seu pai não ama você — ela ouviu Angelique dizendo. — Ele é igual ao outro homem malvado, aquele que eu contei. Aquele que machucou sua mãe. Eu sou a única que pode mantê-la segura. Se você for com ele, ele só vai bater em você e gritar. A menos que eu esteja com você. Então, lembre-se, não vá sem mim! Depois... —A voz dela mudou, passando a um tom calculado. —... eu vou me casar com ele e nunca mais terei que trabalhar...
A menininha disse algo tão baixinho que Olívia não conseguiu ouvir. A babá fungou.
— Ah, ela. Ela não é sua nova mãe. Mas não se preocupe. Nós logo vamos nos livrar dela.
Olívia escancarou a porta. Ela viu a babá presunçosa e a criança chorando e foi tomada de intensa raiva.
— O que está dizendo a ela? — perguntou.
— O que quer dizer? — disse Angelique, com um sorriso inocente. —Apenas dizendo que ela seja uma boa menina para o pai. Vamos descer para almoçar, madame?
Olívia agarrou o braço da outra mulher.
— Mulher horrenda. Você... está despedida.
— Despedida! — Um temor genuíno surgiu nos olhos dela. — Não pode me despedir! Só o sr. Lima pode fazer isso!
— Saia! — Olívia gritou, e a mulher correu. — Saia, antes que eu bata em você com o meu sapato!
Catia deu um gritinho aterrorizado e Olívia caiu de joelhos, diante dela.
— Está tudo bem, meu bem — disse ela, baixinho. — Está tudo bem. Angelique só estava sendo malvada. E errada. Seu pai a ama. Ele jamais machucaria você!
Ela tentou abraçar a criança, mas a menina afastou-se chorando. A pobre Catia realmente acreditava na mentira maldosa que Angelique lhe contara. Desesperadamente, Olívia disse:
— Nós queremos que você venha para casa conosco, para ficar...
— Não!
As lágrimas encheram os olhos confusos da menina sem mãe. Ela respirou fundo, rezando para encontrar uma forma de fazê-la ouvir.
— Você terá seu próprio quarto e uma porção de brinquedos e...
— Não! — Ela deu um gritinho. — Eu não vou!
— E irmãos — Olívia continuou, desesperada, mal sabendo o que dizia. — Um irmãozinho e uma irmãzinha, dois bebês para você brincar, muito em breve...
Os gritinhos subitamente cessaram.
Olhando para ela, Catia sugou o ar com um soluço. Olívia temia dizer algo que fosse atrapalhar.
— Bebês? — A garotinha finalmente disse. — Um irmão e uma irmã?
Olívia assentiu. Ela colocou as mãos sobre a camiseta branca larga, mostrando sua barriga inchada.
— Seu pai e eu vamos ter gêmeos, Catia. No começo de novembro.
— Mas, então, por que vocês me querem? — perguntou ela, hesitante.
Piscando para conter as lágrimas, Olívia afagou seus cabelos escuros.
— Os bebês precisam de uma irmã mais velha para ensiná-los como brincar.
— Ah! — disse Catia, ansiosa. — Eu posso fazer isso, posso ensinar como brincar com a bola, andar de bicicleta e muitas coisas...
— Eu sei que pode. — Olivia estendeu a mão. — Nós a queremos em nossa família, Cátia. Nós a amamos. Precisamos de você.
— Precisam? — A garotinha olhou timidamente.
— Sim! — As lágrimas escorriam pelo rosto de Olívia e ela nem tentou secá-las. Em algumas horas ela já passara a amar aquela garotinha que queria desesperadamente fazer parte de uma família, ser amada. Da mesma forma como Olívia quisera, um dia...
Na expectativa, Olívia esperou, de mão estendida. Cátia colocou a mãozinha sobre a dela. A alegria transbordou do coração de Olívia.
— Você não vai se arrepender — sussurrou ela. — Eu prometo. Você sempre estará segura e feliz, conosco.
Juntas, elas desceram a escada.
No salão, ela viu Angelique Price falando com Ian, que estava em pé, junto à lareira, com uma expressão séria. Mas, tendo conhecido seu coração, Olívia agora percebia que aquela arrogância era apenas uma máscara que ele usava sobre um coração muito sensível.
Um coração exatamente como o dela.
— Sua nova esposa está com ciúme da criança, sr. Lima — dizia a bela babá, colocando a mão no braço dele. — Ela é louca! Não deixe que ela tire a criança de mim. Acho que ela pretende fazer mal à menina. Está tentando se livrar de mim para mandar Cátia para o colégio interno, ou pior. Se ama sua filha, pelo amor de Deus, não deixe que ela me despeça!
Os dois olharam para Olívia e Cátia, descendo a escada. O rosto de Diogo se iluminou, estarrecido, ao ver a filha segurando a mão de Olívia.
— Estou pronta papai — disse a garotinha. — Eu quero ir para casa, com nossa família.
— Oh, pequena — ele disse.
Ela abriu os bracinhos finos para ele. Ian correu até a metade da escada e pegou a menininha nos braços. Desse vez, não havia dúvida no sorriso radiante.
— Afinal — disparou ela —- alguém tem que ensinar esses bebês a brincar!
Ele abraçou a criança com força, olhando para Olívia, por cima de seu ombro.
— Obrigado, Olívia — sussurrou, com lágrimas nos olhos.
— Obrigado.
— Ela não merece confiança — disse Angelique. — Em quem você vai acreditar, nela, ou em mim?
Com a mão livre, Ian pegou a mão da esposa.
— Se não me engano, minha esposa a despediu — disse ele, friamente. — Você tem cinco segundos para se retirar desta casa.
— Você não faria isso.
Ele deu um passo na direção dela e Angelique partiu. Ian se virou de volta para sua pequena família.
— Venham — disse ele, ternamente. — Vamos para casa. — Ele beijou as costas da mão de Olívia. E em seus olhos ela notou uma nova ternura, repleta de promessas quentes.
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Baile de amor
RomanceNo sedutor calor do Carnaval do Rio de Janeiro, Olívia sucumbiu ao charme de seu carismático chefe, Ian Lima. No entanto, depois de possuí-la, o bilionário brasileiro não a quis mais... até descobrir que ela estava grávida. E Ian não aceitaria nada...