Era o dia perfeito para um casamento.
Quando Olívia desceu da limusine alugada, o aroma suave das cerejeiras veio junto com a brisa, combinando com o perfume de seu buquê. Ela podia ouvir o som dos pássaros cantando, no céu sem nuvens, bem acima da capela branca.
Um dia perfeito para começar sua vida nova, como uma esposa feliz e futura mãe. O dia perfeito para esquecer da existência de Ian Lima.
Então, por que ela se sentia tão infeliz? Por que havia chorado sem parar durante as últimas seis horas, na estrada para a Pensilvânia, e durante uma hora no cabeleireiro?
— Fique quieta — disse sua avó, pegando seu braço, quando elas chegaram à porta da igreja. As sobrancelhas grisalhas de Lilibeth se franziram quando ela olhou para cima, para a neta mais alta. — Está pronta?
— Sim — murmurou Olívia. Mas não se sentia pronta.
Ela deixara oito recados para Timothy durante o trajeto de Manhattan, mas ele não atendia o celular. Provavelmente, estava atendendo seus últimos clientes, em seu novo escritório de advocacia, antes que eles partissem para Aruba, em viagem de lua de mel.
Timothy estava determinado a ficar rico para ela, dissera ele. Ele não acreditou em Olívia quando ela disse que não precisava ser rica. Tudo que queria era se sentir segura.
Segura, e nunca mais ter seu coração partido.
Mas ela não podia se casar com Timothy sem revelar que estava grávida. Ela não podia. Ela tentara lhe dar a opção de desistir do casamento. Suas mãos se apertaram. Parte dela até torcia para que ele desistisse...
— Cuidado, suas flores! — protestou sua avó.
— Desculpe. — A cada minuto que passava, o coração de Olívia batia com mais força, mais rapidamente, feia estava começando a se sentir tonta. Sua voz pareceu um grasnido: — Você prometeu que primeiro eu encontraria Timothy.
— Tem certeza? — Lilibeth Conway estreitou os olhos, em dúvida. — Dá azar se um homem vir a noiva antes da cerimônia.
— Por favor, vó!
A avó suspirou.
— Tudo bem, tudo bem. E o seu dia. — Ela a empurrou para uma antessala dentro da igreja, passou pelas pessoas e por alguns convidados que chegavam. — Espere aqui.
Olívia esperou. E esperou. Ela andava de um lado para o outro, olhando pela janelinha.
A distância, ela viu as colinas e a floresta verde. Mas não tinha nada de bonito. Ela via as pás do antigo moinho. Flint, Pennsilvânia, ficava a apenas algumas horas de carro de Manhattan, mas parecia um mundo de distância.
Ela e Timothy, ambos haviam crescido pobres, ali. Regressando no último Natal, como um advogado rico, ele recebera as boas-vindas da cidade como se fosse um herói. Timothy havia comprado a mais bela mansão da cidade e a estava reformando, para ela. Estava gastando dinheiro em todo canto, ali em Flint, contratando carpinteiros, trabalhadores, sem poupar despesas. Ele faria qualquer coisa para conseguir que ela o amasse, dissera.
Mas antes que se casassem ela precisava dizer que estava grávida. Então, deixaria que ele resolvesse se ainda queria se casar com ela.
Seria sequer justo casar com ele dessa maneira? Ela respirou fundo. Apesar das garantias dele, de que ela passaria a amá-lo, a idéia de ser sua noiva, de alguma forma, parecia... errada.
Mas seus sentimentos estavam embaralhados. O caso de curta duração que tivera com Ian provara isso. A noite em que Ian a pegou nos braços, no Rio, pareceu certa. Quando ele a beijou, na rua, em meio à explosão de música e cores fortes, ela se sentiu verdadeiramente viva pela primeira vez vida.
A paixão era perigosa. Ela precisava tentar aprender a fazer escolhas com a cabeça, não com o coração.
Cuidar de sua mãe, durante os longos anos de sua doença, fez com que Olívia passasse muitas noites escuras ansiando por aventuras numa terra distante, pelos beijos ardentes de homens escandalosos. Mas o abraço de Ian lhe tocara no âmago. Ele, arrogantemente, mudara a vida dela, e nem sequer ligava.
Ela queria contar a verdade, mas como poderia? Se ao saber metade da verdade ele já presumira o pior sobre ela, achando-a interesseira, imaginando que usaria um bebê inocente para prender um homem, por meio do casamento. Ele a insultara friamente, com muita crueldade.
Ele não conhecia nada dela. E jamais conheceria!
— Olívia. — A voz de Timothy estava abafada pela porta, mas ela ainda podia ouvir sua angústia afetuosa. — Você não sabe que temos 300 pessoas esperando? Sobre o que quer falar comigo?
— Timothy. — Seu corpo inteiro ainda tremia por lembrar o que Ian lhe dissera. Ela se forçou a respirar fundo. Tentou manter as mãos firmes. Ela precisava esquecer Ian. Tinha de apagá-lo completamente de sua cabeça e tentar ficar feliz por jamais voltar a vê-lo. Ela lambeu os lábios secos. — Você pode, por favor, entrar aqui?
— Não, dá azar!
— Isso é superstição!
Ela o ouviu rir.
— Demorou tanto tempo para que eu a convencesse a se casar comigo que não vou correr riscos.
Será que ela teria que gritar a confissão de sua gravidez pela porta, para chocar as pessoas?
— Por favor, eu realmente preciso falar com você!
Ele parou, depois falou, com voz radiante.
— O que quiser dizer, eu vou querer ouvir. Apenas espere alguns minutos mais, e poderá me dizer todos os dias, pelo resto de nossas vidas.
Horrorizada, percebeu que o noivo pensava que ela, finalmente, queria dizer que o amava. E começou a suar frio na testa. Isso estava ficando cada vez pior.
— Espere — disse ela, firmemente.
Ela não tinha escolha.
— Estou grávida!
Houve uma pausa. Depois a porta foi escancarada.
O rosto pálido de Timothy estava quase branco, mas ele parecia estar respirando fogo. Ele bateu a porta ao entrar e a pegou pelo punho.
— Como isso é possível? — disse ele. — Se nunca dormimos juntos?
Os olhos dele estavam tão sérios atrás da moldura metálica dos óculos, o rosto tão diferente de sua expressão plácida, que ela recuou.
— Eu lamento muito — sussurrou ela. — Foi um erro. Eu nunca tive a intenção de magoá-lo...
— Quem é o homem? — perguntou ele, com a mão esguia apertando o pulso dela.
Ela sacudiu a cabeça, desesperadamente.
— Isso não importa. Eu nunca mais vou vê-lo.
— Quem é ele?
— Você está me machucando!
Ele jogou o braço dela para o lado.
— Então, foi por isso que você subitamente concordou em se casar comigo? Porque estava grávida e seu amante a abandonou?
— Não!
— Mas você cometeu um erro se planejava anunciar esse bebê como meu — estrilou ele. — Nem eu sou tão estúpido assim para acreditar que você estivesse grávida de mim, quando nunca me deixou tocá-la!
— Foi um engano! — gritou ela. — O pior engano de minha vida! Eu só descobri que estava grávida esta manhã. Nunca tive a intenção de enganá-lo!
— Certo — disse ele, sarcástico. Ele passou a mão nos cabelos louros e ralos. — Claro.
Ela o olhou, infeliz.
— Eu compreendo por que você quer desistir do casamento. É provavelmente o melhor...
Ele a olhou fixamente.
— O que quer dizer? Eu não vou desistir de nada.
— Mas...
— Você não vai desistir, grávida ou não — disse ele, com uma voz séria. — Você vai se casar comigo. Hoje.
Ela engoliu.
— E o bebê...
Ele curvou os lábios.
— Eu vou cuidar dele.
O noivo abriu a porta e saiu. Cuidar dele?
Timothy estava disposto a ser o pai de seu bebê? Ele estaria realmente disposto a ajudá-la a criar seu filho? Tonta, ela saiu de onde estava. Realmente pensara que ele desistiria do casamento. Mas não o fizera, então, isso significava... Ela ia se casar. Agora. Em apenas alguns instantes seria a esposa de Timothy pelo resto de sua vida. Ela ouviu o quarteto de músicos tocando os últimos acordes de Pachelbel. Ele gastara uma fortuna com o casamento, convidando a cidade inteira, como para vê-lo numa espécie de coroação real. Como se quisesse forçar todos que os trataram mal a verem o rei e a rainha coroados.
Lilibeth veio até ela e a beijou na face , antes de puxar seu véu e cobrir seu rosto.
— Eu não pude deixar de ouvir! — disse ela, alegre. Mandando um beijinho no ar. — Grávida! Oh, Olívia, estou tão feliz por você, minha querida!
Feliz porque Olívia estava se casando com um homem que não amava? Feliz que o homem que ela amava era um bastardo egoísta e imoral, que não merecia ser pai de bebê algum?
— Mas, vó... — disse EUie, baixinho. — Eu não amo Timothy.
Os olhos da avó se arregalaram, depois se estreitaram.
— Mas vai amar — disse ela, rapidamente. — Você vai ter um filho dele.
As portas se abriram e a marcha nupcial começou. As pessoas se viravam nos bancos, esticando a cabeça para vê-la.
Em pé, no início do corredor, o corpo inteiro de Olívia tremia. O buquê sacudia em suas mãos, como se ocorresse um terremoto sob seus pés.
— Ande — sussurrou a avó, sorrindo, pegando seu braço. Sentindo-se anestesiada, Olívia caminhou à frente, com Lilibeth ao lado.
Isso parece tão errado! Mas como ela podia confiar em seus próprios sentimentos? Seus instintos só a levaram para o lado errado. Ela se apaixonara provavelmente pelo pior homem de Nova York. Sem dúvida, estaria se casando com o homem certo agora, não?
E ela já tratara Timothy tão mal! Não poderia humilhá-lo mais saindo correndo da igreja. Poderia?
Havia flores e velas por toda parte. Ela podia sentir os olhares fixos das matronas da sociedade, ouvia os cochichos das pessoas que conhecia desde a infância. A velha sra. Abernathy, que lhe dissera que jamais conseguiria nada. Candy Gleeson, ex-animadora de torcida, que zombava de suas roupas e a chamava de Stork quando estavam no ensino médio, por ela ter um corpo tão magro. Todas elas agora olhavam invejosas, acreditando no conto de fadas. Quando ela chegou ao final do corredor, Lilibeth entrou, conduzindo Olívia a Timothy. Ele segurou firme sua mão, olhando fixamente seu rosto, com uma expressão estranha, quase enlouquecida, nos olhos azuis.
— Prezados amigos, estamos aqui hoje reunidos... Comparado ao rodamoinho de emoções em seu íntimo, a cerimônia foi bem civilizada. Mas vazia. As belas palavras do padre não tinham nada a ver com o que ela estava sentindo.
Ela... esposa de Timothy? Para amá-lo? Compartilhar sua cama? Criar seus filhos?
Tinha de ser. Qualquer coisa seria melhor que amar alguém para ser brutalmente rejeitada. Era assim que Timothy devia se sentir, amando-a por tanto tempo.
Ela aprenderia a gostar de seus beijos, de alguma forma. Conseguiria seu perdão pelo erro, mesmo que levasse a vida inteira. Ela conseguiria.
Mas, quando fechou os olhos, suas lembranças da noite com Ian a sufocaram. A forma como ele cruelmente tomou seus lábios virgens. Ele tomara sua inocência despreocupadamente, como um conquistador. Ian roubou toda a ternura de seu primeiro beijo e a doçura que ela sonhara compartilhar com o homem que amasse, deixando em seu lugar algo que arderia até virar cinzas.
Ela desesperadamente afastou esse pensamento. Lutando para acalmar o ritmo de seu coração, Olívia segurava com mais força o buquê, e algumas pétalas brancas e cor-de-rosa caíram.
— Timothy Alistair Wright, você aceita Olívia Jensen como sua esposa...
Mesmo em meio ao casamento, ela não conseguia parar de pensar em Ian!
O bastardo. O bastardo mentiroso.
—... até que a morte os separe?
Timothy olhou para ela. A luz que irradiava das janelas da igreja refletiam nos óculos metálicos, iluminando seu rosto fino.
— Aceito.
O padre se virou para ela.
— E você, Olívia Ann Jensen, aceita Timothy Wright...
As portas da igreja se abriram com força, batendo nas paredes.
— Pare!
Diante da aspereza daquela voz, toda a multidão resfolegou.
Olívia se virou.
Ian!
Ele estava vestindo a mesma roupa de quando ela o deixara, em Nova York: um terno cinza e gravata azul, elegantemente cobrindo seu corpo musculoso. Mas já não parecia mais um civilizado homem de negócios. Seus passos ecoaram nó piso, enquanto ele a encarava com uma intensidade implacável.
— Como se atreve a vir aqui, Lima? — A voz de Timothy saiu num tom alto, e ele limpou a garganta furiosamente. — Você não tem o direito...
— Você. — Ian encarou Timothy. Depois deu uma gargalhada. — Eu devia saber.
Olívia viu o tom profundamente sinistro nos olhos do bilionário brasileiro, negros como uma mina de carvão, pensou ela.
— Saia daqui, Lima — Timothy disparou. — Isso não é da sua conta.
— Não é? — Ian se virou para ela com uma intensidade fulminante. — Isso é da minha conta, Olívia?
Ele sabia!
Ela respirou fundo, trêmula. Não podia dizer que ele era o pai do bebê. Timothy poderia perdoá-la, algum dia, mas não se soubesse que o verdadeiro pai era Ian. Os dois haviam tido um desentendimento no Natal e ela ainda não sabia o motivo.
Mas ela sabia que Ian Lima era tão duro e sem sentimentos quanto o diamante que ela exibia no dedo...
Ele se inclinou à frente, olhando direto nos olhos dela.
— Isso é verdade, Olívia?
Mordendo o lábio, ela desviou o olhar, escondendo o rosto embaixo do véu de tule.
Ele levantou o véu e o jogou para trás, fazendo-a soltar um gritinho assustado. Estava tão perto que ela via claramente o rosto dele — as maçãs angulares, seu maxilar rude, a cicatriz na têmpora, o nariz que já havia sido quebrado ao menos uma vez.
A fachada de playboy abastado e magnata internacional do aço havia desaparecido. Ian Lima a pegou com a força e a brutalidade de um viquingue reivindicando sua mulher. E uma onda sensual abalou o corpo de Olívia como um raio.
— Conte-me a verdade.
Ela sacudiu a cabeça, sem conseguir falar. Sentia-se eletrizada pelo toque dele. Ele se inclinou à frente, com o rosto a uma pequena distância dela, e ela soube que ele ia beijá-la, bem ali, no meio da igreja! E ela ali, de frente para o padre, com outro homem!
No entanto, não conseguia nem erguer a mão para impedi-lo. Seus joelhos tremiam. Seu buquê soltou de seus dedos fracos e as flores cor-de-rosa desabaram no chão de pedras.
— Diga-me, maldita! — As mãos dele apertaram os ombros dela. A voz dele ecoou pela igreja. — Eu sou o pai de seu bebê?
As 300 pessoas resfolegaram ruidosamente. Ela ouviu sua avó dando um pequeno soluço engasgado e sentia os olhares de todos os convidados. Do padre, chocado. E, pior de tudo, ela sentia fúria e humilhação no rosto de Timothy.
Um calor começou a percorrê-la, fazendo suas faces darem a sensação de estarem em brasa.
— Você não tem direito de me humilhar dessa maneira — sussurrou ela. — Você é um bastardo, Ian. Um mentiroso.
— Ele? — Timothy se virou para ela, com uma expressão de ódio. — Você me manteve a distância todos esses anos para se entregar a Lima?
— Ah! — Os lábios de Ian se curvaram. Seu corpo relaxou, e seu olhar reluziu com um tom de diversão. — Então, ele nunca sequer a tocou. Maneira estranha de prender um homem para casar...
Ela foi tomada pela raiva.
— Eu não prendi ninguém para casar — disparou ela. — Timothy me ama. Ele não se importa que eu esteja grávida. Ele disse que vai cuidar do bebê!
Os olhos de Ian se estreitaram. Num instante, ele se transformou num homem totalmente diferente.
— Cuidar do bebê? — Ele a pegou pelo braço. — O que você quer dizer cuidar do bebê?
Ela sentiu um faiscar subindo por seu corpo. Como era possível que ela se sentisse tão eletrificada por seu toque? E, no entanto, tão temerosa? Ela relutou para se soltar.
— Que diferença faz? Não é seu bebê. Não pode ser. Você não pode engravidar uma mulher, certo? — ela provocou.
Os olhos escuros se fixaram nela.
— Eu sou o pai. Você pode negar isso?
Ela não podia. Mas sabia que Ian Lima não tinha ido até ali para assumir a responsabilidade pela criança que havia gerado, ele simplesmente não conseguia suportar o fato de que outro homem invadisse seu território. Com o machismo arrogante de um lutador brasileiro, Ian Lima acreditará que tinha direito a tudo e a todos. Para tê-los ao seu dispor e descartar quando quisesse.
Ele não merecia ser pai.
— Responda. — A mão de Ian desceu até sua clavícula e a sensação faiscante se intensificou, fazendo com que ela ficasse ofegante. Os rostos de algumas das pessoas que ela conhecia desde a infância estampavam choque; os de outras, com expressões maliciosas, pareciam cercá-la.
Então, ela viu sua avó, branca como cera, ficar com os lábios cor de laranja. Lilibeth sempre acreditara em Olívia. Ela assava biscoitos nos dias em que sua mãe era má. Dissera que ela não precisava ter um diploma de ensino médio para ser inteligente. Apoiou Olívia durante os longos anos em que ela cuidou da mãe doente. O sucesso de Olívia era também seu sucesso.
E agora estava tudo arruinado. Lilibeth nunca mais poderia andar de cabeça erguida no supermercado. Por causa dela.
— Eu... eu... — Olívia se sentiu fraca. — Eu... acho que vou... Ela nem conseguiu terminar a frase e seus joelhos se dobraram. Ian a pegou e segurou nos braços, antes que ela caísse.
— Coloque-a no chão! — Timothy gritou, furioso.
Ian nem olhou na direção dele. Seu olhar escuro estava fixo no de Olívia, chegando até sua alma.
— O bebê — disse ele, baixinho. — Diga-me.
— Não — disse ela, ofegante.
Ele olhou para a aglomeração nos bancos, depois assentiu.
— Tá bom.
Dando meia-volta, ele a carregou pelo corredor. E a segurava tão perto de seu peito musculoso que ela sentia as batidas de seu coração.
Aquilo parecia um sonho absurdo. A luz do sol entrava pelos vitrais e brilhava ao redor dela, ofuscando o colorido dos vestidos das mulheres sentadas nos bancos. Seu véu rasgado flutuava ao seu redor, sua cauda branca de tafetá se arrastava atrás deles, enquanto ele a carregava para fora da igreja, roubando-a de seu próprio casamento, como um centurião romano.
— Volte aqui! — A voz de Timothy era furiosa, enquanto ele os seguia, como um terrier. — Ela é minha, seu bastardo brasileiro! Está me ouvindo? Minha!
Ignorando-o, Ian empurrou as portas duplas. O sol brilhante de primavera a atingiu como se fosse um tapa no rosto. Dois seguranças de Ian bateram as portas da igreja, prendendo os convidados lá dentro, enquanto Ian a colocava em pé, devagar.
Mas ela se viu cara a cara com Timothy.
— Eu não posso acreditar que você tenha feito isso. — Os óculos de ferro tremiam sobre seu nariz. Seus olhos estavam vermelhos e molhados, embaçando as lentes. — Esperei você quase dez anos. Fiz tudo para ganhá-la. E você abre as pernas para Lima, que trata as mulheres como prostitutas?
Cada palavra foi como uma punhalada no coração dela.
— Eu...
— Você é minha, Olívia — gritou ele, esticando os braços para ela. — Minha...
Ian entrou no meio dos dois. Ele fechou os punhos, abrindo as pernas musculosas, numa pose de quem parecia estar pronto para qualquer coisa. Mesmo em seu terno sob medida, ele parecia um guerreiro que poderia lutar... e matar... quando quisesse.
— Olívia não é sua. Nem o bebê. O que exatamente você está planejando, Wright?
O medo ficou estampado no rosto de Timothy. Ele recuou.
— Agora — Ian disse, baixinho, se virando para Olívia. Ele tirou uma mecha dos cabelos dela, afastando-a com um gesto que foi ilusoriamente gentil. — Você vai me dizer o nome do pai de seu bebê.
Ela esfregou a testa.
— Você jurou por sua honra que não poderia me engravidar — murmurou ela. — Sua honra.
Os olhos escuros de Ian varreram seu rosto, tirando dela todos os segredos, deixando-a vulnerável e nua. Ele a apertou mais forte.
— Eu sou o pai, Olívia. Diga!
— Eu o odeio! — disse ela.
— Diga! — explodiu ele.
— Está certo! — ela gritou. Lágrimas de mágoa e ódio escorriam por seu rosto. — Você é o pai!
Timothy deu um gemido ruidoso. Ela se virou para ele, desesperada.
— Eu sinto muito. Sinto muito...
Ela esticou a mão, mas ele deu um tapa na mão dela. Amargurados, ele se virou para Ian.
— Fique com ela e seja amaldiçoado. Ela está carregando um filho seu. Isso me enoja. Outra ordinária para você. Outro bastardo...
Ian o socou no queixo. Olívia gritou, enquanto Timothy caía como uma pedra sobre o gramado verde.
O brasileiro se virou para ela e o ódio em seus olhos a fez recuar, confusa. Ele piscou, encarando-a. Seus olhos subitamente pareciam tristes, como se ele estivesse assombrado por fantasmas de muito tempo atrás.
Depois, ele bruscamente deu as costas, sem dizer uma palavra. Diante do seu sinal, dois carros pretos encostaram.
Enquanto um segurança abria a porta, Ian a fez entrar no banco traseiro, segurando-a, enquanto colocava seu cinto de segurança. Ela relutou, mas ele a segurava de forma implacável. Suas mãos pareciam algemas de ferro, embrulhadas em seda.
E outro roçar acidental dos dedos dele a fez sentir fogo nas veias. Como é que ela podia lutar contra seu próprio desejo? Como? Ela engoliu, tentando controlar as batidas de seu coração, enquanto olhava pelo vidro de trás.
— Timothy...
— Ele vai ter dor de cabeça. — Os dentes dele trincaram. _Mas merece pior.
Por quê? O que Timothy teria feito? Mas ela não se atreveu a perguntar. Tinha assuntos muito mais urgentes com que se preocupar.
— Para onde você está me levando?
— Para o aeroporto. — Ele estava sentado ao lado dela, enquanto o motorista dava partida no carro. Ela sentia a pressão da coxa dele junto à dela passando pelas camadas do vestido de noiva.
Ele a olhou, com os olhos negros como ônix. Depois deu um sorriso com as pálpebras caídas, do tipo que fazia as mulheres se entregarem a ele.
— Agora — disse ele — você me pertence.
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Baile de amor
RomanceNo sedutor calor do Carnaval do Rio de Janeiro, Olívia sucumbiu ao charme de seu carismático chefe, Ian Lima. No entanto, depois de possuí-la, o bilionário brasileiro não a quis mais... até descobrir que ela estava grávida. E Ian não aceitaria nada...