Prólogo

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Era uma manhã rotineira, sem qualquer indício de algo diferente. Eu estava sentada no refeitório quando Peter veio correndo até minha mesa.

— Úrsula, você não imagina o que aconteceu! A cidade está um caos! — Peter mal respirou ou sequer me deu chances de perguntar o que havia acontecido e continuou — Assassinato, Úrsula, um assassinato!

Olhei para Peter sem acreditar no que estava ouvindo. Moramos em uma pequena e pacata cidade. Tudo aqui é muito calmo. Calmo até demais. Nada além de alguns furtos, ou coisas do gênero. Mas um assassinato? Aqui em Forest Village?

— Você está louco? Peter, você sabe onde moramos não sabe? Nada acontece aqui. Esta é a cidade mais tediosa que eu já ouvi falar. — respondi como se fosse óbvio, aliás, era o óbvio.

— Úrsula, eu não estou brincando. Houve um assassinato, de verdade. E foi ontem a noite, na floresta. — olhei para Peter ouvindo atentamente tudo o que ele dizia. Afinal, mesmo que uma parte de mim ainda não acreditasse nisso, a curiosidade ainda falava mais alto — Papai leu no jornal hoje, eu ouvi algumas partes da conversa dele e da mamãe quando estava me aprontando para vir para a aula. Foi uma garota, se chamava Susan Jhonson. Ela tinha 21 anos, era loira e alta, adorava gatos e trabalhava na cafeteria aqui perto. Pretendia cursar psicologia, mas como você pode ver, ela não conseguiu.

Peter acabou de relatar tudo que sabia e me olhava esperando uma resposta. Eu acho que já vi essa garota trabalhando na cafeteria. O que me intrigou é porquê alguém a mataria. Ela aparentava ser muito calma, e até ingênua com aquele jeito tímido que tinha até mesmo em sorrir.

— Eu acho que já vi ela um dia. Mas, você não ouviu só uma parte da conversa dos seus pais? Como sabe de tantos detalhes?

— Bom, eu andei pesquisando querida Úrsula. — ri do seu tom de voz e do seu sorriso que continha um toque de malícia — Você não ficou nenhum pouco interessada em saber de que mais estão falando? Sua mãe é a xerife, não sente medo por ela?

Querido Peter, eu não vejo motivos para me preocupar. Mamãe sempre foi ótima no que faz, e você sabe muito bem que ela não sente medo de nada. Então porque eu sentiria? — respondi dando de ombros e voltando a tomar meu suco.

Após a morte do meu pai, que serviu ao exército americano, mamãe resolveu começar na carreira de policial. Meu pai morreu defendendo as pessoas, e ela resolveu tomar o mesmo rumo. Ela sempre achou que era uma forma de honrá-lo por ter dado a vida por pessoas que sequer conhecia. No começo, ninguém a apoiava, mas ela continuou. E mesmo tendo uma filha pequena para cuidar, ela nunca desistiu. Após alguns anos fazendo um belíssimo trabalho, mamãe foi promovida e hoje é a xerife da cidade, o que me dá o maior orgulho do mundo. Orgulho da mulher forte, e determinada que ela se tornou mesmo perdendo o amor de sua vida.

— Eu sei o quanto ela é competente, e o quanto é corajosa. Mas nada parecido acontecia aqui a sabe se lá quantos anos. E eu pensei que talvez nós pudéssemos começar a investigar. Nós somos do jornal da escola Úrsula, já pensou nisso? Nós poderíamos ter a chance de ser reconhecidos por algo!

— Pare de ser tão fantasioso. Nós queremos ser jornalistas, não detetives. E isso não é para o nosso bico. Deixe de querer se envolver em coisas que não te dizem o respeito, e me envolver também. Se aconteceu mesmo um assassinato, é coisa séria, não algo para dois adolescentes que escrevem sobre a fofoca da semana envolvendo a líder de torcida. Acorde Peter, não podemos fazer isso. — respondi, talvez até mais grossa do que deveria, olhei para o meu amigo que tinha decepção estampada no rosto, que logo passou para uma expressão fria.

— Tudo bem. Se você não quiser me ajudar, eu vou fazer isso sozinho. Eu não vou perder a oportunidade de finalmente escrever uma matéria de verdade, com algo concreto e em primeira mão. — ele me respondeu seco. E com certeza mais decidido do que eu imaginava que Peter poderia ser um dia. Ele ajustou sua mochila nas costas e marchou para fora do refeitório.

Eu não poderia deixá-lo ir assim, então fui atrás dele.

— Ei, Peter! Espere! — disse enquanto corria tentando alcançá-lo. — Peter, não faz assim, volte aqui!

Peter parou, e se virando para trás olhou em meus olhos querendo saber o que eu queria. Caminhei até ele recuperando meu fôlego e comecei a falar.

— Isso é idiotice Peter, nós podemos ter outras chances de ser reconhecidos, mas isso é perigoso, você entende não é? — o perguntei com esperança de que ele me compreendesse.

— Úrsula, é você mesmo que está dizendo isso? Onde está a minha garota que nunca foge de uma aventura e que ama livros de suspense e mistério? — ele respondeu se aproximando de mim.

— Claro que sou eu. E você falou a verdade. Eu amo livros de suspense, mas eles são livros. E isso é a vida real! É um perigo real.

— É só tomarmos cuidado e sermos cautelosos. Nada vai acontecer conosco. Nada além de sucesso por fazer uma matéria no jornal da escola digna de um prêmio Nobel de Jornalismo!

— Nobel de Jornalismo? Isso por acaso existe? — perguntei arqueando as sobrancelhas.

— Sendo sincero, eu não faço a mínima ideia. - me respondeu rindo um pouco e logo ficando sério para continuar. — Mas diga que sim Úrsula. Eu sempre faço tudo que me pede, me ajude agora, por favor. — ele falou quase se ajoelhando para que eu aceitasse sua proposta maluca.

Por que era isso que essa ideia de Peter era, maluca! Nós íamos correr perigo, sei que poderíamos ganhar com isso, mas não se nossa vida fosse ceifada no caminho. Eu não deveria nem cogitar a possibilidade de um sim, mas não poderia deixar o meu amigo sozinho nessa. Por isso pensei mais um pouco, e respirei fundo antes de responder.

— Tudo bem, eu vou te ajudar. — disse enquanto observava o sorriso lindo de Peter. - Mas quando houver algum sinal de perigo de verdade para nós, vamos deixar isso de lado, combinado?

— Combinado! — ele respondeu enquanto vinha me abraçar. — Eu te amo querida Úrsula, obrigada por sempre estar comigo!

— Eu te amo também seu idiota, mas eu ainda vou te dar uma surra por me fazer aceitar isso! — recebi mais um sorriso dele enquanto saíamos do meio do corredor da escola.

***

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