Capítulo III

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— Nós podemos começar indo a cafeteria em que Susan trabalhava. — ele me falou dando de ombros. 

— O que vamos fazer lá? 

— Não seja boba Úrsula. O que mais poderíamos fazer lá? Investigar. Nós vamos conversar com os colegas de trabalho dela e fazer algumas perguntas. 

— Eles não vão estranhar dois jovens indo lá fazer perguntas de um caso que diz respeito a polícia? — ergui uma sobrancelha. 

Na hipótese mais óbvia, os colegas dela vão estranhar nossas perguntas. A polícia provavelmente já foi interrogá-los. Nós só somos do jornal da escola. Fazemos matérias sobre assuntos escolares e sobre os alunos. Nunca falamos de algo que acontece fora de lá. Para isso existe o jornal da cidade, o Morning News. 

A verdade é que eu ainda estou com um pé atrás em relação a isso tudo. Se eu dissesse que não estava curiosa, eu estaria mentindo, mas isso não anula o sentimento estranho que tenho quando penso demais nesse assunto. Eu já listei infinitas vezes tudo que pode dar errado. Até onde sabemos, esse homem pode ser um serial killer. Não sabemos quem são os alvos dele, e as suas motivações. É como se estivéssemos no escuro tentando achar o interruptor da luz. Susan não foi a primeira, e provavelmente não será a última, não temos o que esperar desse cara. 

As coisas são imprevisíveis, e de uma hora para a outra tudo pode dar errado. Eu penso na minha mãe e em Peter, no perigo que eles podem correr. Mamãe trabalha com isso a anos, mas não é imortal. E Peter é meu melhor amigo. Eu não posso viver em um mundo onde eles não existam. Os dois são minhas bases, onde encontro forças sempre que estou esgotada. Se algo de ruim acontecesse com algum deles, ou com ambos, meu coração se partiria em cacos. Desde que me lembro, os dois estão ao meu lado. Quando aprendi andar de bicicleta, Peter aprendeu comigo enquanto mamãe aplaudia nossa pequena conquista, depois de tanto tentar nos ensinar. Quando viajamos para a Flórida, mamãe corria comigo na praia e tirava fotos engraçadas de nós duas nas lanchonetes. Peter teve toda a paciência do mundo me ensinando a dirigir um carro. E quando eu passava de raspão pelas latas de lixo, ele ria e continuava me ajudando. 

— Ei, você ouviu algo do que eu falei? — saí de meus pensamentos quando Peter me chamou. 

— Ah, desculpa. Pode repetir? 

— Calma, deixa eu pensar... — ele colocou a mão no queixo, fazendo uma cara de pensativo. — Não. Levanta dessa cadeira e veste uma roupa melhor, nós vamos até a cafeteria. Quando chegarmos lá, você entra na história que eu disser. 

— Você é um chato, sabia? — disse levantando da cadeira. 

Peguei uma roupa melhor no meu guarda-roupa e fui me trocar no banheiro. Quando sai estava vestida em uma calça jeans, com uma regata branca, com uma jaqueta e um coque despojado estava em meu cabelo. Peguei minhas botas e calcei, enquanto Peter pegava algumas de suas coisas para pôr na minha mochila. Procurei meu caderno de anotações e uma caneta, quando achei pus também dentro da mochila e nós descemos as escadas. 

— Mamãe, eu e Peter vamos sair! — falei em um tom de voz mais alto para que ela escutasse. 

— Voltem antes do almoço, sim? Qualquer coisa, é só me ligar. Cuide dela, Peter. — ela disse saindo de sua sala e chegando perto de nós dois. 

— Claro, tia Greta. Pode deixar. — ele disse sorrindo. 

— Até mais, mãe. Precisamos ir. — falei beijando sua bochecha e puxando Peter para fora de casa. 

— Olá, eu sou Peter e esta é Úrsula. Nós queríamos fazer algumas perguntas, pode ser? — Peter perguntou ao garoto de altura mediana, que pelo nome que li em sua roupa se chamava Cristopher. Ele era consideravelmente bonito. Seus cabelos eram castanhos e seus olhos tinham o mesmo tom. Sua cara estava fechada, mas eu não duvidaria se existisse um belo sorriso por baixo de toda aquela carranca.

— Desde que seja rápido, sim. — Cristopher respondeu cruzando os braços. 

Quando chegamos na cafeteria, sentamos em uma mesa em um lugar mais afastado, onde as pessoas não ouviriam nossa conversa. Pedi um café e Peter um pedaço de bolo de chocolate. Ele retirou seu notebook da mochila, e eu peguei meu caderninho e minha caneta. Esperei uma reação de Peter, afinal, não sabia o que ia acontecer. Foi quando ele chamou Cristopher.

— Tudo bem, vou tentar ser o mais breve possível. Você conhecia Susan Jhonson? — meu amigo perguntou enquanto virava uma foto de Susan que estava no notebook para o garoto ver. Percebi que Cristopher se sentiu um pouco desconfortável com a pergunta. 

— Sim, Susan era uma grande amiga minha. Ela trabalhava aqui fazia dois anos, um mês antes de eu entrar como garçom. Ela me ajudou muito, e logo nos aproximamos e formamos uma amizade. Fazíamos tudo juntos, até que Susan sumiu e depois foi encontrada morta. — ele pôs as mãos no bolso da calça e olhou para baixo. Pelo que percebi, ele gostava muito dela. 

— Cristopher, antes de Susan sumir, você notou algo de estranho? Como se ela estivesse ansiosa, com medo. Ou se até estava sendo ameaçada. — perguntei para ele. 

— Por que está me perguntando isso? O que vocês querem? — ele franziu a testa. Não soube o que responder, mas ainda bem que Peter me salvou antes que eu falasse algo de errado. 

— É que estamos fazendo uma pesquisa. Estamos estagiando no Morning News, e queríamos fazer uma matéria sobre ela. Como uma homenagem. Mas também estamos um pouco curiosos. — Peter falou e eu assenti, e mais rápido que o necessário, o que fez o garoto me olhar estranho.

— Ah, sim. Para falar a verdade, eu notei que Susan estava inquieta. Sempre que alguém entrava na cafeteria, ela olhava como se estivesse com medo de alguém vir aqui. Mas ela não disse nada de estar sendo ameaçada, e eu olhei o celular dela depois do seu desaparecimento e não havia nada demais. 

— E ela tinha algum inimigo? Alguma pessoa que tinha algo contra ela ou um motivo para querer que algo ruim a acontecesse? — Peter perguntou, enquanto eu anotava tudo que o garçom dizia. 

— O que? Não, claro que não! Ela era ótima. Todas as pessoas gostavam dela. E sua morte foi um choque, muitas pessoas estavam presentes no seu funeral e todas claramente muito abaladas. — ele disse com uma expressão incrédula. Depois dessa declaração, a investigação só ficaria mais complicada. 

— Eu entendo. E, você lembra de algo da noite em que ela sumiu? 

— Era uma noite comum. Era o dia dela de fechar a cafeteria, eu fiquei com ela aqui até tarde. Limpamos tudo e deixamos a cafeteria organizada para o outro dia. Só faltava arrumar o balcão, eu iria ficar com ela até ela acabar de fazer isso, mas ela disse que não precisava e eu fui embora. — ele disse com um tom de voz mais triste, vi nas suas expressões que ele sentia culpa por ter ido embora. — No outro dia, Susan não apareceu, nem no outro. Passaram quatro dias, até que veio a notícia que ela estava morta. Foi um choque para todos nós. A cafeteria fechou e todos fomos para o funeral, tristes. Até hoje o ar da cafeteria não é o mesmo, não sem ela. Sabe, Susan era uma garota muito alegre. Um pouco tímida muitas das vezes, mas era também espontânea, divertida. Fazia tudo com um sorriso no rosto. Ajudava todos e seu coração era bom de verdade. Mas eu sei que seus últimos dias não foram bons, e eu faria de tudo para mudar isso... — vi que o pobre garoto estava prestes a chorar, então olhei para Peter com um olhar que dizia que deveríamos parar por aqui. Ele assentiu e eu olhei para o garoto em pé antes de dizer: 

— Muito obrigada Cristopher, já temos o que precisamos. Eu sinto muito por sua amiga, de verdade. 

— Eu sei que sim. — ele respondeu com um sorriso triste em seu rosto e saiu de perto de nós. 

— Isso vai ser mais difícil do que eu pensei, querida Úrsula. — Peter me falou. Observei Cristopher atendendo uma mesa, e eu respondi:

— Eu sei Peter, eu sei.

***

Oi galera! Como vocês estão?
Não esqueçam de deixar a estrelinha, é super importante pro livro continuar. E me contem o que acharam desse capítulo.
Toda sexta vou publicar um capítulo novo, sei que pode demorar, mas tento fazer o melhor para deixar essa história boa. E isso exige pesquisas, concentração, tempo livre, enfim. Um beijão e até a próxima!

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