Capítulo VII

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A conversa com April foi melhor do que esperávamos, tudo correu muitíssimo bem. Agora só precisamos ter certeza de que o que ela disse é verdade.

Esse é último dia de aula antes do verão, eu e Peter provavelmente não sairemos da cidade. Mamãe está ocupada com o trabalho, e eu e meu melhor amigo estamos investigando o mesmo caso. Parece que o verão vai ser movimentado.

Ando com calma até a área externa da escola e me sento na sombra de um carvalho velho que está aqui desde muitos anos atrás. Abro o livro que está dentro de minha mochila e começo a ler. Ele conta a história de uma mulher com uma doença terminal, e é um dos meus favoritos.

— Ainda não acabou esse livro, querida Úrsula? — tiro minha atenção do livro olhando para cima. Vejo Peter sorrindo para mim antes de sentar ao meu lado.

— Não, mas se eu ler rápido vou me arrepender. Quanto mais cedo você termina um livro, mais cedo você fica sem ele, entende? — eu disse, dando de ombros com um sorriso de lado.

— Sim, entendo. Eu andei pensando, nós vamos ter que ir falar pessoalmente com o namorado da April, ou falaremos virtualmente? Acho que cara a cara é melhor. Sei algumas técnicas que podem desmascarar ele, se ele mentir. — falou com um sorriso

— Você está me saindo um belo investigador. Não quer mudar de profissão? Sobra mais empregos para mim quando eu precisar. — eu disse rindo e guardando o livro, pelo visto Peter não vai me deixar continuar lendo.

— Sinto em te decepcionar, mas suas expectativas já estão indo para o brejo agora mesmo. E o que me diz sobre o namorado da April?

— Falaremos pessoalmente. Qual horário?

— O horário... Acho que agora! — meus olhos se abriram mais do que o necessário mostrando todo o meu espanto. — E essa expressão? Ah, não pense em ser a nerd agora, Úrsula. Nós vamos e voltamos antes que alguém dê por nossa falta.

— Não, nem pensar. Se quiser, nós vamos a noite e ponto final. E você não me fará mudar de ideia, Peter James.

— Você é uma careta! Vamos, pelo visto está na hora de voltar para dentro. — ele levantou-se e estendeu a mão me ajudando a fazer o mesmo.

Voltamos para dentro da escola, e fomos para nossas aulas. Se eu não me engano, ele teria química, e eu inglês. Agradeci mentalmente já que eu não sou de exatas, totalmente o contrário de Peter. Ele poderia ser a mistura dos grupos mais diferentes daqui. Com todo aquele charme ele poderia muito bem ser capitão do time, e pelo amor por números, seria facilmente do grupo dos nerds. A perfeita junção de beleza e inteligência. Não é sexy?

Meu amigo sempre foi um dos melhores alunos de qualquer matéria, desde que eu me lembre. Até hoje lembro do dia em que eu tive a certeza que nós seríamos melhores amigos. Apesar de o conhecer desde sempre, eu ainda não tinha proximidade com ele. Só nos aproximamos de verdade quando meu pai faleceu.

Não fazia muito tempo desde a notícia da morte dele e tive que voltar a frequentar a escola. O momento era difícil, mas não poderíamos deixar nossa vida de lado. Mesmo que ainda doesse muito em mamãe, ela sabia que o meu pai nunca ia querer que deixássemos tudo parado pela ida dele. Foi a carreira que ele escolheu e desde sempre os dois sabiam que existiam inúmeros riscos.

Eu estava brincando nos balanços quando algumas garotas passaram por mim e uma delas disse:

— O pai dela era um perdedor. E agora ela está sozinha, e não vai ter amigo nenhum. E vocês sabem o por quê meninas? Porquê ninguém vai querer ser amigo de uma fracassada.

Eu fiquei de cabeça baixa, me sentindo muito mal por ouvir aquelas palavras. Nem todas as crianças são boazinhas, e é um erro pensar isso. Talvez possa ser a criação que recebem, ou algum trauma. A questão é que quem sofreu com esses comentários ruins, fui eu. E não tinha ninguém para me defender. Em certa parte aquela garota tinha razão: eu era sozinha.

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