Capítulo 32

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Gustavo

Eu não acredito. O que deu em mim? A L. nunca vai me perdoar. Passaram-se dois dias desde aquela noite. Maldita noite. Está tudo errado, confuso. Por que eu fiz isso? Eu poderia simplesmente mentir para o Luís, mas não. Eu tinha que fazer essa burrice. Perdi a pessoa que eu mais amo na minha vida, e não tem volta.

Cinco dias antes...

- Gustavo, vou ser bem direto com você: eu sei tudo sobre a morte dos seus pais. Você quer saber, não é?

- O que? Todos nós sabemos que meus pais morreram num acidente de carro.

- Se liga, cara! Falaram isso para você, mas eu escutei a verdade. Quer saber?

- Fala. – minha voz estava seca e triste, ao mesmo tempo que com raiva e feliz.

- Ah, vou falar tudo! Mas com uma condição!

- O que? Fala logo, caramba!

- Você vai terminar tudo com a Lena, vai deixar a gata magoada, valeu?

- Eu nunca vou fazer isso com ela!

- Então nunca vai saber a verdade. Muito menos encontrar com a sua mãe que está viva.

- Oi?

- Pois é, cara.

- Eu termino com a Lena. – A minha mãe!  A minha mãe estava viva!

- Vou com você. Quero estar escondido escutando tudo. Ou seja, fale alto, grite, machuque ela.

- Como você consegue?

- Consigo o que?

- Ser assim. Diz que a ama, mas quer que eu a magoe.

- Isso é problema meu.

- Fala logo!

- Seu pai morreu, mas não foi acidente de carro. Ele morreu atropelado, quando atravessou uma rua, totalmente bêbado. O seu pai era alcoólatra, Gustavo. Ele se foi antes mesmo de você nascer, deixando  sua mãe só e grávida. Esta te teve e foi embora para o Japão, onde encontrou uma ótima oportunidade de emprego. Ela deixou todos para seguir o seu sonho. – Eu não podia chorar, não na frente dele.

- E por que ninguém me contou? Por que mentiram? E qual é esse sonho que fez ela me largar?

- Queriam que você tivesse algum orgulho ou amor pelos seus pais, sei lá cara! E não faço a menor ideia de que sonho foi esse, não escutei nada além disso.

- Por que você não me contou antes?

- Não tava a fim.

- Seu filho da...

- Opa, opa! – me interrompeu. – Eu te contei, agradeça por isso. Agora você vai terminar com a Lena, ou eu não te dou o contato da sua querida mãe. Sim, eu achei o contato dela. Não é muito difícil, já que está no celular da minha mãe.

- Eu te odeio.

- Obrigado. – ele ironizou enquanto saía do meu quarto.

Era muita coisa para pensar. Meu pai era um alcoólatra, minha mãe me largou para seguir seu sonho. E que sonho era esse? Que sonho é mais importante que um filho? Por que? Por que? Eu só queria escutar isso tudo da minha avó. Mas eu não tenho coragem de enfrentá-la desse jeito, depois de tudo que ela fez por mim. Se eu pudesse definir família em uma só palavra, seria ela. Eu não posso simplesmente ignorar tudo e magoá-la.

Hoje

Como eu vou conseguir falar isso tudo para a Lena? Se eu mandar mensagem, ela não vai ler. Se eu pedir para a Bia falar com ela, não vai acreditar. Se eu for falar, não sei nem o que o Luís pode fazer. E se eu escrevesse uma carta? Será que ela rasgaria? Peguei um papel e uma caneta, e comecei a escrever:

“Você era a minha Lua, a minha felicidade. Mas eu te perdi. Não posso contar nesse bilhete o que houve. Mas acredite: nunca parei de te amar. Não me esqueça, nem se afaste, isso é maldade. Por favor, me perdoa. Se quiser que eu te conte toda a verdade, me encontre amanhã, sete horas, na sorveteria. Beijo.”

Dobrei, e num dos lados, desenhei um filtro dos sonhos. Tomara que ela entenda. Não é possível que a minha L. acreditou naquelas coisas que eu falei. Ela percebeu a tristeza na minha voz. Será? Eu sempre falei que não saberia viver sem ela. Eu fiz a minha Lena sofrer tanto... não mereço perdão. Se todo amor que ela dizia sentir por mim fosse real, não queria nem ver como ela está. Na verdade, queria estar lá e abraçá-la, falando que tudo vai ficar bem. Eu prometi que iria proteger ela de todo o sofrimento do mundo. Falhei. Eu a fiz sofrer. Eu fui o sofrimento.

Coloquei o papel no bolso. Levantei da cama e fui até a sala.

- Vó, eu já volto, não fala para ninguém que eu saí.

- Onde você vai?

- Resolver uma coisa que eu fiz.

- Gustavo, Gustavo.

- Fica tranquila, vó. Eu já volto.

E saí. Fui andando até a casa da L., cogitando a ideia de voltar. E se a mãe dela não estivesse em casa e a Lena abrisse a porta? Era melhor deixar no correio? Mas e se alguém pegasse? Melhor pedir para a mãe da L. entregar. Tenho certeza que ela estaria em casa essa hora.

Cheguei. A casa estava silenciosa. Coloquei o dedo perto da campainha. Apertava ou não? Era melhor ir embora? Mas como sou muito desastrado, acabei apertando a campainha. Corro? Não. Ninguém atendeu. Ufa! Depois eu peço a Bia para entregar, é melhor. Virei as costas e escutei uma voz:

- Em que posso aju... – virei, calando ela. – Você?

 Heey! O que vocês acharam? Tadinho do Gu :'( Não matem ele! Beijoo <3

Éramos apenas amigos..Onde histórias criam vida. Descubra agora