Prólogo

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Christian

Observava calado o que as pessoas tratavam ao meu redor. Francesco e suas obrigações de nunca carregar o peso das mentiras em seus ombros. Diana e seu rancor que pouco sabia disfarçar. Alessandro com seu instinto protetor capaz até mesmo de livrar Diana das decepções que seus pais lhe causaram. Por um momento não fui capaz de reprimir um sorriso ao notar que eles realmente acreditavam que isso seria o suficiente. Uma boa e quase entediante conversa serviria para pôr as coisas em seus devidos lugares.

Levanto-me, caminhando para fora daquele sufocante escritório. Ouvi-los discutir sobre conflitos familiares de certo modo me deixava raivoso. Mediante as incertezas, todos sabiam que tinham uma família. Sabiam que amorosos ou não, todos continham laços sanguíneos, e a única dúvida cruel que me atormentava era a possibilidade de encontrar alguém que compartilhasse tal laço comigo.

Alguns dias atrás, Alessandro me relembrou sobre a minha história oculta, a que pouco me interessava. Acreditava fielmente que não precisava saber como me tornei o alvo de Aron ou por onde andava minha mãe. Pensar em sua morte era como imaginar algo incapaz de me ferir. Nada parecia tão doloroso como o peso que carreguei por aos achando ser o causador de nossa mãe.

Subo as escadas, adentrando um dos quartos de hóspedes que Alessandro disponibiliza em sua casa. Os pais de Diana voltariam à Itália ao anoitecer e finalmente teríamos de volta nossa rotina pouco regulada. O céu ainda era claro quando me deitei sem a camiseta escura e meus sapatos. Meu possível sono sendo interrompido por Giovanna.

Esfrego meu rosto ao observar minha prima trazer consigo Helena, amparada em seus braços.

— Que merda aconteceu? — Meu corpo involuntariamente segue até as duas. Helena estava de pé graças ao seu braço rodeando os ombros de minha prima. Olho para Giovanna que apenas ergueu as sobrancelhas.

O rosto de Helena ainda transparecia medo, diferente de Giovanna que parecia fria e meramente calculista. Ajudei a colocar o pequeno corpo da garota sobre a cama, ignorando a raiva pelo silêncio de ambas.

Giovanna se senta na poltrona ao lado batendo discretamente seu pé contra o piso claro no chão. Seus olhos encontraram os meus.

— Fomos a um bar e alguns homens a abordaram quando fui ao banheiro — Desvio meu olhar a Helena,crendo que ela negaria, mas não o faz.

— Porra, Giovanna. Porque não a levou junto com você ao banheiro?

— Helena parecia bem conversando com a rapaz que cumpria seu expediente. Minha ausência não durou dois minutos, Christian — Aquilo me enfureceu.Seja o fato de deixá-la sozinha ou deixá-la na presença de um homem.

Paro ao lado da cama, Inclinando meu corpo próximo ao de Helena. Seu queixo tinha marcas, como se dedos fortes a tivessem segurado ali. Minha mão verifica a pele marcada, ouvindo baixos resmungos dela sobre isso.

— Alessandro autorizou que saíssem? — A questiono. Helena apenas acena negativamente. Suspiro, indignado por tamanho descuido.

— Tem os responsáveis por isso? — Giovanna negou, se levantando logo após.

— Vou pegar algumas maquiagens de Diana — Aceno, ciente dos pensamentos que envolviam os produtos.

Desisto, me sentando ao seu lado sobre o acolchoado. Seu olhar estava apreensivo, talvez apavorado. Seu silêncio denunciando o quão nervosa a garota estava.

— Eu pedi para que Giovanna me levasse até lá — Encaro seus olhos, as íris fixas em mim.

— Eu já disse centenas de vezes que poderia acompanhá-la, Helena. Justamente para evitar que merdas como essa aconteçam. Porque resolveu beber hoje? — O cheiro de whisky, mesmo que fraco, não era o suficiente para passar despercebido.

O rosto de Helena endurece. Seus olhos se desviam, quebrando o contato intenso entre nós. Meus dedos segurando em seu queixo, trazendo seu olhar de volta para mim. meu braço retraindo novamente ao sentir seu corpo doer pelo contato no lugar ferido.

— Não te acharei fraca por beber em uma falha tentativa de esquecer algumas coisas. Por muito tempo minha vida se resumia a Vodka e negação — Lhe ofereço um sorriso discreto, disposto a vê-la se sentir melhor.

Helena suspirou, se sentando sobre a cama com uma leve dificuldade. Observo os movimentos da garota, temendo que seus gestos a trouxeram para perto.

— Eu não consigo esquecer o que fizemos — Suas palavras me pegam desprevenido. Meus olhos semicerrados a encaravam, surpresos e culpados. 

— Devia.

— Foi meu primeiro beijo. O primeiro com o meu consentimento — Suspiro abaixando meus olhos. Mas, logo seu questionamento ressurge. 

— Se arrepende? — Sua ousadia me surpreende. Não parecia a mesma garota que vi chegar aqui. O receio quase me faz acreditar que Helena ansiava por isso novamente. Por Deus se não estivessem aqui julgaria meu autocontrole.

— Não, porra — Minha mão acariciou sua bochecha, lenta e delicadamente — Helena, precisa esquecer aquilo. Combinamos que seria assim. Estávamos alterados pelos últimos acontecimentos, Eu não devia tê-la beijado.

— Christian, eu não consigo.

O fato era que tamanha hipocrisia também não me deixava dormir tranquilamente. Não havia como esquecer o maldito beijo. Seus lindos olhos expressivos, brilhando por um pedido silencioso. Eu não deveria ter me deixado levar pelo desejo a tempos reprimido. Entendia que seus medos a tornavam proibida e mesmo que existisse alguém capaz de curá-la, esse não seria eu.

A parte racional me auto criticava por relembrar o que lhe aconteceu. Eu jurei protegê-la e acabei por perceber que aquilo estava além dos meus limites. Seu pedido de sinceridade ao me perguntar se em toda minha medíocre vida eu gostei verdadeiramente de alguém. Eu não sabia respondê-la ou como fazer isso. Eu não era o irmão mais apto para compartilhar sentimentos com outra pessoa, Temia que meu destino terminasse como o de Marco.

Somos interrompidos por Giovanna, adentrando o quarto com pequenos produtos em suas mãos. Me levanto bruscamente do seu lado parando ao canto do quarto, deixando que Giovanna arrumasse as marcas avermelhadas em seu pescoço.

— Não é confiável mas só se percebe se visto de perto — Giovanna se afasta, me deixando avaliar o que fez.

— Não precisaríamos dessa merda se vocês seguissem nossas normas de segurança — Digo ainda convencido de que aquilo era um grande erro.

— Só precisamos apresentá-la como uma Valentinni, Christian. Depois dessa noite, creio que nenhum homem voltará a tocá-la.

Giovanna acena, confiante em suas palavras. Assim que Alessandro anunciasse Helena, todos estariam proibidos de se aproximar sem sua permissão e representar um irmão para ambos não me livrava inteiramente dessa ordem

Stuck For Blood - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora