Ariel passou a mão pela última vez nos cabelos, pensando que deveria cortá-los logo, pois já estavam grandes. Sorriu para sua imagem no espelho, mas percebeu que o brilho do seu olhar já não era tão forte como antes. Sorriu novamente, tentando esconder a dor bem lá no fundo.
Quando se lembrou que Deus tinha o controle de tudo, viu um sorriso genuíno brotar em sua imagem refletida e ficou satisfeito. Ser dependente de Deus era isso: aceitar a vontade Dele, mesmo que doesse, pois Ele estaria cuidando de tudo, inclusive de sarar a dor.
Ele ainda se lembrava da primeira vez que havia visto a Rebecca, no dia em que estava na sua cidade e foi visitar a irmã Delli, uma viúva idosa especial da sua igreja que morava com a cunhada. Seu marido fora um grande missionário e sua mãe sempre encontrou na simpática e sábia senhora uma conselheira muito importante. Sendo assim, ele cresceu amando as duas senhorinhas e sempre que estava na cidade ia visitá-las.
Naquele dia, ao chegar, deparou-se com uma linda moça, morena, cabelos bem compridos e olhos desconfiados. Foi ali, naquele momento que ele sentiu que ela era uma moça especial e seu coração foi se afeiçoando a ela rapidamente a cada dia que passava. Isso o deixou assustado e ansioso, não era do seu feitio sentir-se assim. Dobrou os joelhos e pediu orientação ao Senhor.
Tempos depois esteve novamente com a Rebecca na casa da sua avó e não resistiu a pedi-la para orar com ele. Ainda sentia o frio na barriga pelo modo como havia conseguido falar tudo articuladamente, sem gaguejar. Era a primeira vez em seus 23 que se sentia assim por uma garota e estava muito assustado.
Ele parou de pensar nisso, pegou as chaves do carro e saiu em direção ao culto. Durante o caminho, as lembranças voltaram a assombrá-lo. Deus havia respondido sua oração, com clareza impressionante, mas a resposta não era a que ele esperava. Deus havia dito NÃO. Ele chorou, sentiu-se tão pequenino, mas soube que a Rebecca não era para ele, pois sua história já estava sendo escrita com a do Isaac há muito tempo.
Sem querer, lembrou-se novamente do que o fazia sentir uma dor lá no fundo, que ele teimava em esconder. Apenas uma pessoa conhecia sua dor: sua amiga Raquel. Mas havia algum tempo que estavam sem se falar e ele não queria alimentar um sentimento que não havia sentido existir. Ele ia conseguir superar, com a graça de Deus.
Ariel estava indo ao culto numa igreja que não era muito de frequentar, mas fora convidado por um amigo para participar do culto de jovens. Ele era jovem e se sentia bem participando de trabalhos voltado para os jovens ou realizado pelos jovens.
Matheus teve outro compromisso e não pôde acompanhá-lo naquele dia. Sentia falta do amigo, para conversarem enquanto iam para a igreja, a fim de evitar que os pensamentos nostálgicos viessem trazer-lhe sentimentos que queria a todo custo superar.
Chegou à igreja e se impressionou com a fachada, que era muito bonita. Deixou o carro no estacionamento e antes de sair deu uma última conferida em sua aparência pelo retrovisor. Sim, ele tinha um pouco de vaidade e não se envergonhava disso. Era preciso cuidar de sua aparência, pois a sua vida devia refletir a essência Daquele a quem ele pertencia.
Antes mesmo de entrar, ele conseguia ouvir os louvores e percebeu que estava atrasado, um fato que ele a todo custo tentava evitar. Entrou meio envergonhado pelo horário, sentou-se bem no fundo tentando não chamar muita atenção, apesar do templo não estar totalmente lotado.
Fez a sua oração e poucos minutos após ter chegado, uma jovem muito simpática aproximou-se e ele notou que ela usava um crachá identificando-a como Recepcionista. Ela o cumprimentou e olhando no bloco que trazia nas mãos, lhe dirigiu a palavra.
— Seja bem vindo! É a primeira vez que vem em nosso culto de jovens? — perguntou solícita.
— Obrigado! Sim, é a primeira vez. Um amigo me convidou... — antes que pudesse completar a sua frase, ela continuou.
— Você é o Ariel Oliveira? — ao vê-lo assentir, os olhos da moça brilhando, fato esse que não passou despercebido pelo jovem. — Nossa! Desculpe, eu não sabia! Estávamos esperando por você, por favor, tem um lugar reservado junto aos jovens....
Virou-se e foi seguindo sem olhar para trás, presumindo que ele a acompanharia. Demorou uns dois segundos para ele pegar a Bíblia, água e ir seguir na mesma direção que a moça caminhava.
Andando com a cabeça baixa, atravessaram toda a nave da igreja e mesmo o trajeto sendo realizado pelo canto, Ariel se sentiu um tanto exposto. Finalmente chegaram ao local que haviam designado para ele. Seu amigo estava no altar, pois era Líder dos jovens, e o mesmo estava na direção do trabalho naquele dia.
Assim que se instalou ao lado de outros jovens, seu amigo veio em na direção do loiro para saber se o mesmo estava bem recepcionado, se estava confortável e após Ariel assentir e assegurar que não podia estar melhor, voltou ao seu lugar no altar.
O culto foi recheado de testemunhos e louvores que pareciam ter sido escolhidos a dedo. A presença de Deus estava ali e Ariel se sentiu muito bem. Como já era esperado, ele foi chamado para trazer uma palavra e o mesmo já estava preparado para a ocasião. Deus havia lhe dado uma palavra para aquela noite e pelo andamento do culto, ele percebeu que era totalmente apropriado.
Quando terminou de entregar o que o Senhor colocara em seu coração, viu uma pessoa na igreja e ficou um pouco nervoso. Uma moça, com cabelos escuros e olhar intenso, como sua... como a Rebecca.
Desceu rapidamente e abaixou a cabeça, preocupado. Pedia a Deus para libertá-lo daquele sentimento, pois além de doer muito, às vezes era uma distração. Levantou a cabeça, olhou na direção em que tinha visto a moça e percebeu que, apesar das características parecidas, elas eram diferentes.
Alívio misturado com frustração.
Observando melhor, viu como a jovem em questão era linda e estava inteiramente envolvida com o desenrolar do culto. Mesmo de longe, percebeu que ela chorava e cultuava com fervor e devoção.
Ao final, ele pensou em se apresentar para saber quem seria aquela moça que havia chamado a sua atenção, mesmo que o motivo inicial fosse sua suposta semelhança com a Rebecca, mas devido a aglomeração de pessoas na saída, bem como seu amigo solicitar sua presença para apresentá-los aos outros líderes, quando finalmente se desprendeu, não a viu mais ali.
Olá, amores!
Como prometido, segue o capítulo 4 - muito revelador. Os caminhos de ambos estão se cruzando, mas ainda não há interação entre eles? Quando será que vai acontecer? Na igreja o na faculdade? Palpites?
Semana que vem tem mais!
Abraços,
Produção PDC
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Presente do Céu
EspiritualAriel, um jovem comprometido com a palavra de Deus, dedicava sua vida a servir ao Senhor e cuidar da sua família após a perda do seu progenitor. Muito amigo da Raquel, se apaixonou por sua prima, mas não puderam ficar juntos. Apesar da desilusão, es...