Capítulo 4 - Olhos negros

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14 de maio de 2019

Dean não conseguia dormir e, por Deus, esteve tentando por horas. Na verdade, por dias. Há quatro dias Castiel tinha saído para procurar respostas e há quatro dias o caçador não conseguia dormir mais de três horas por noite. Não, não estava preocupado, o anjo sabia se cuidar, certo? Certo, já provou isso muitas vezes antes quando não estava sendo morto ou seriamente ferido, mas se sentiria muito melhor se recebesse alguma notícia. Quem se importava se não tinha sinal de celular no Céu?

Suspirou e finalmente levantou da cama, desistindo de dormir. Molhou o rosto, tentando se livrar do cansaço, e colocou o robe azul antes de sair do quarto. Era o que vinha fazendo nos últimos dias quando o sono não era forte o suficiente para calar seus pensamentos. Além da maldita ausência de Castiel, havia também a conversa que teve com Sam, sobre sentir coisas pelo anjo. Tudo bem, ele se preocupava com Castiel. Não gostavam quando ficavam distante por muito tempo, não gostava quando o outro sumia sem avisar ou quando se arriscava sem necessidade – e nunca havia necessidade, e as vezes se irritava com a teimosa, com a falta de noção e com a ingenuidade acima do normal.

Tudo bem, talvez sentisse algumas coisas, mas com certeza não diria isso em voz alta. Ou mesmo mentalmente. Afinal, não precisava dizer nada, precisava?

Saiu pelo corredor e se arrastou lentamente até o quarto de Sam, fazendo uma careta ao notar que o cômodo ainda estava vazio. Descobriram que na cidade vizinha uma mulher foi atacada pelo o que suspeitavam ser demônios, a mulher tinha as mesmas características que Amy e havia testemunhas, Sam assumiu a missão de conseguir respostas como consequência do estupido pedra-papel-tesoura. Uma grande injustiça, era o que achava. Não sabia o motivo de ainda insistir em tomar decisões daquela forma se o irmão sempre vencia.

Um cantarolar chamou sua atenção. Era baixo e suave, ecoando pelo corredor. Dean fechou o robe, apertando o laço ao seu redor, e caminhou cautelosamente pelo corredor, um pouco inseguro por não ter sua arma em mãos. Respire, nenhum demônio ia invadir e começar a cantar! Continuou seguindo a voz, caminhando até a cozinha. Respirou aliviado e sentiu todo o seu corpo relaxar ao reconhecer a garota. Amy estava de pé, diante do balcão, cantarolando enquanto remexia uma massa consistente em uma tigela de alumínio.

― Sem sono?

Ela pulou de susto e ergueu a cabeça, assustada com a súbita presença, então sorriu. Dean a admirava por isso. Amy parecia estar sorrindo em qualquer situação, um sorriso sincero e – quase – sempre sem malicia.

― Hey, garoto ― saudou sem parar de mexer a massa ― Pelo visto não sou a única, hum?

Dean esboçou um sorriso pequeno e se aproximou, apoiando-se no armário que havia ao lado do balcão.

― Está com tanta fome a ponto de fazer pão?

Amy o olhou confusa, sem entender. Para esclarecer Dean indicou o balcão e ela riu, negando.

― Não... isso é uma distração, e são cookies, não pão.

― Parece uma distração deliciosa, qual é o motivo?

― Pesadelos.

O sorriso sumiu e o olhar azul foi desviado para a superfície enquanto ela arrumava as formas ao lado da tigela. Dean se sentiu subitamente mal e endureceu o pescoço.

― Sinto muito, Amy, não queria...

― Sem problemas, sei que não teve intenção. É só algo que preciso superar.

Dean sabia que ela estava mentindo, o sorriso estava lá, mas agora era forçado e o olhar não encontrava mais o seu.

― Tudo bem, eu entendo, de verdade. Todo mundo precisa de um tempo pra superar situações como essa e tudo o que aconteceu com você ainda é recente.

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