A criança caída - Parte I

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22 de maio de 2019

Amy sentou em um só impulso, arfando. Seus pulmões estavam queimando por falta de ar e sua visão estava embaçada. Podia sentir o chão firme e úmido sob seu corpo, a areia grudando em suas mãos e alguns grãos se prendendo em suas unhas curtas. Esfregou os olhos com as costas das mãos e piscou repetidas vezes, tentando enxergar ao seu redor. Quando finalmente conseguiu sua cabeça se encheu de dúvidas.

Onde diabos eu estou?

Era noite, estava sentada sob uma areia escura, no meio de uma floresta. Ergueu-se em um salto, limpando as mãos enquanto olhava desesperadamente ao redor. Seus cabelos estavam soltos, estava usando apenas seu pijama e seus pés estavam descalços, irritados pela exposição ao frio e à sujeira. Não sabia onde estava, não havia nada – nem ninguém – à vista e não tinha ideia de como tinha chegado até ali. Obvio.

Se algum ser, anjo ou demônio, me colocou aqui pra morrer lentamente eu vou ficar muito irritada.

― Amy!

A voz baixa a chamou e a fez estreitar os olhos para enxergar na escuridão entre as arvores, não foi necessário muito, segundos depois uma figura jovem e atenta se aproximou com passos apressados.

― Jack? O que faz aqui? Como conseguiu me encontrar? ― perguntou abraçando a si mesma.

O garoto usava uma calça de moletom e uma blusa qualquer, pronto para dormir, mas havia um sobretudo o cobrindo. Amy achou, por um momento, que ambos estavam no mesmo barco, mas Jack usava um sobretudo e sapatos, com certeza teve tempo para se preparar antes de chegar até ela.

― Posso explicar depois, acho que não temos muito tempo ― Jack respondeu com pressa, olhando-a de cima a baixo, parecia procurar algo.

― Por que não teríamos?

― Não parece ferida, mas não gosto desse lugar.

Amy se calou, não podia negar. Estar sozinha durante a noite em uma floresta desconhecida com certeza não a ajudou a manter a calma, mas sabia que tinha algo a mais, um alerta no fundo de sua mente que fazia seu coração bater rápido e suas mãos tremerem levemente, como se quisesse avisá-la de que estava em perigo.

― Você está com frio? Pegue.

Antes que ela pudesse negar, Jack retirou o sobretudo e colocou sobre os seus ombros. Maneou a cabeça e cedeu, vestindo-o completamente.

― Tem ideia de onde estamos? ― perguntou um pouco mais aliviada pelo aquecimento.

― Não.

― Não pode... sabe, abrir as asas e nos levar de volta?

― Já tentei, não consigo. Algo nessa floresta me impede.

Ótimo, resmungou mentalmente.

― O que fazem aqui?

Os dois viraram abruptamente, procurando pelo desconhecido. Uma mulher de cabelos longos e loiros os encarava com desconfiança, estava suja e cansada, mas estava pronta para atacar. Seus olhos eram completamente negros e havia uma faca erguida em sua mão. Um demônio. O corpo inteiro de Amy retesou e Jack deu um passo, colocando seu corpo na frente.

― Não queremos problema ― ele informou erguendo as mãos, mostrando que estava desarmado.

― Não deviam estar nessa floresta, como conseguiram chegar? ― a mulher retorquiu sem abaixar a guarda.

― Não queríamos, pode apostar ― Amy se apressou em dizer, inclinando-se para o lado para que pudesse ser vista parcialmente pela mulher ― Simplesmente aparecemos aqui, do nada, mas prometo que não queremos confusão.

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