Capítulo 5 - Interrogatório

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Dean voltou à consciência lentamente, como se estivesse se livrando de um veneno paralisante aos poucos. Estava deitado em sua cama, podia sentir o macio sob suas mãos e o aroma que só seu quarto tinha – cheiro de comida. Piscou os olhos e tentou se mover, gemendo de dor com o ato. Todo o seu corpo doía. Sua cabeça latejava e os nós de seus dedos doíam como se tivesse socado repetidamente uma parede ou alguém. Será que havia entrado em uma briga? Mas com quem? Só havia ele e Amy no bunker e não se lembrava de ter saído.

Seu corpo entrou em alerta e ele tentou se levantar, mas uma mão o impediu e o forçou gentilmente contra a cama. Sentiu um pano úmido em seu rosto.

― Vai com calma. Isso pode ficar mais dolorido do que já está ― ouviu a voz de Amy alertar.

Finalmente conseguiu abrir os olhos. Ardiam com o esforço e a luz, mesmo assim a olhou. Amy o encarava com preocupação, o pano em suas mãos estava manchado de vermelho e não havia mais sorrisos. Os cabelos dela estavam soltos e bagunçados, havia marcas de dedos arroxeadas e rastros de sangue seco em seu pescoço, seu rosto também estava mais pálido, suas roupas sujas e havia um ferimento perto do seu ombro esquerdo.

― O... o que aconteceu? ― ele tentou perguntar. Sua garganta estava seca. Engoliu em seco e ignorou a dor, sentando na cama e apoiando as costas na cabeceira.

Amy abaixou o olhar e apertou o pano com força, fazendo algumas gotas caírem sobre a cama.

― Você a atacou.

Dean olhou para a porta, procurando pelo dono da voz, e encontrou Jack entrando no quarto. Não havia acusação em seu tom, apenas incerteza e preocupação. Dean intercalou o olhar entre os dois, confuso.

― Como assim ataquei?

Concentrou sua atenção em Amy e seus olhos se arregalaram, mal conseguindo respirar ao olhar das suas mãos para o pescoço dela, a compreensão o acertando como um soco no estômago. Não sabia o que diabos tinha acontecido, mas Jack não criaria algo assim e não brincaria numa situação como essa. E, além disso, Amy não estava negando.

― Meu Deus, Amy! Eu fiz isso com você?! ― pegou as mãos dela e a puxou para mais perto. Ficou aliviado ao notar que ela não tentou se afastar ou sequer estremeceu com seu toque, mas ainda podia ver seu esforço para não chorar e forçar um sorriso.

― Fique calmo ― Amy pediu com a voz surpreendentemente tranquila, que não combinava com suas mãos geladas ― Não era você, eu soube desde o primeiro segundo.

― Nós ligamos para Sam e Cass. Eles estão vindo ― Jack informou se aproximando da cama.

― O que aconteceu? ― Dean perguntou.

Jack e Amy se entreolharam, hesitando em falar qualquer coisa.

― Preciso saber ― Dean insistiu.

― Até onde vão suas lembranças? ― Jack indagou.

Dean limpou a garganta e forçou suas lembranças sem muita dificuldade.

― Eu e Amy passamos parte da madrugada na cozinha. Ela fez biscoitos, chocolate quente e me contou muita coisa sobre a vida dela. Não me deixou beber cerveja. Tá tudo claro na minha cabeça, depois disso... já estou aqui, com vocês.

― Certo... er, tudo bem. Eu vou contar... só tente não surtar, tá legal? Lembre-se de que não era você, não foi sua culpa ― Amy garantiu ainda hesitante, afagando suas mãos.

― Só conta de uma vez, Amy.

Com a voz mais firme que conseguiu, Amy começou a narrar os acontecimentos da noite anterior. Desde o momento em que o encontrou no corredor com os olhos negros até o momento em que Jack apareceu e ele ficou inconsciente, contou todos os fatos, mas não entrou em detalhes, Dean notou isso. Sentiu um aperto em seu peito e uma raiva profunda atingi-lo. Só a possibilidade de ter tido um demônio comandando seu corpo já era o suficiente para enfurece-lo, mas não era apenas isso, poderia ter ferido gravemente ou mesmo a matado. Importava-se com Amy, não poderia negar, mas antes de tudo ela era uma pessoa inocente, importante para Castiel e que já tinha passado por coisas demais na vida, não merecia nada disso, nenhum daqueles ferimentos.

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