15 de Maio
O ambiente limpo mas capaz de transmitir mais doenças que água de esgoto; o som das rodas pertencentes às macas enferrujadas são tão irritantes quanto o bip dos diversos aparelhos ligados à mim, prendendo-me a cama gélida como um condenado.
O cheiro de água sanitária paira sobre ar tão conhecido por mim como a própria palma de minha mão; o pequeno sofá próximo a janela de "meu" quarto e os demais móveis típicos de hospitais estão organizados de uma forma assustadoramente calculada, fazendo-me rezar para poder colocar os pés em casa novamente.
As fungadas de minha mãe denunciavam o que eu já sabia: suas companheiras durante os dois dias que estamos aqui foram as lágrimas.
Sua expressão de agonia e cansaço intenso somada a vermelhidão de seus olhos eram como facas em meu peito. Facas que continuam indo mais a fundo a cada ano, a cada mês, a cada dia, a cada minuto. E elas afundam mais centímetros ao terem conhecimento que eu sou a causa de seu sofrimento.
Termos médicos são uma merda, então, explicando para você de uma forma mais resumida, meu coração às vezes bate mais acelerado, como se estivesse correndo em uma maratona, ou bate de maneira mais lenta, quase parando. Nesses dois casos, minha ida ao hospital é indispensável.
O porquê disso?
Bom, (sem termos médicos, novamente) nasci com um problema no coração que eu chamo de "corda bamba": meu coração, ao ter carga de mais, perde o "equilíbrio", fazendo com que tenha batimentos ligeiros demais ou lesados demais.
Um bug total. Eu sei.
A sensação é de estar no meio de um apagão debaixo d'água. Respirar no momento de um dos meus ataques é a coisa mais difícil e dolorosa que alguém posso sentir. Ou pelo menos, era o que eu achava. Porém, ao ver o estado da minha mãe durante todos esses anos, ao ver sua essência se esvaindo aos poucos como cinzas, a dor que sinto em relação ao meu problema se torna insignificante à que sinto observando-a do outro lado do vidro que nos separa todas as vezes que volto aos fios e ao maquinário clínico.
Tudo poderia mais fácil sem mim, não acha? Sem despesas, sem ter que acordar no meio da noite e ver seu filho deitado no chão do quarto com os lábios roxos, sem ter que deixar meu irmão mais novo, Miguel, na casa da babá para levar o "Com o Problema no Coração" ao hospital... sem sofrimento.
Minha mãe já perdeu meu pai para um motorista bêbado do lado errado da estrada. Perder o filho...
Entende agora a razão de não ter respondido suas 60 mensagens perguntando o motivo de não ter ido à aula?
Entende a razão de tanto temer o fato de estar sentindo algo tão forte por você?
Seu olhar castanho me desarma, Souza...
Seu sorriso aquece meu coração tomado por cicatrizes...
Sua alegria desperta um Carnaval em meu peito...
O que vou fazer se você falar comigo mais uma vez?
Esqueça-me...
Vai ser melhor assim...
Nada a declarar sobre esse capítulo... (e eu não estou chorando, tá...😢)
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Words - Isulio
Fanfic"Palavras. Às vezes inofensivas. Às vezes nem tanto. Às vezes tão óbvias, outras tão confusas. Contudo, são poderosas de uma forma que não podemos imaginar. Elas podem se tornar escadas, abrigos, faróis, barcos e até seu próprio quarto, desde que es...