Fotografias

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16 de Outubro

Estou olhando as fotos que tiramos hoje.

Deve ser 01:00h da madrugada. A insônia me atacou mais uma vez. Dr. Reynolds diz ser normal levando em conta o fato de que, por conta do tratamento, meu corpo transita da agitação para a calmaria de maneira brusca. Resquícios de adrenalina ainda percorrem meu corpo mesmo depois de ter recebido uma dose de uma substância, da qual não sei o nome, para me tranquilizar.

Ainda não fizemos progresso clínico. Os efeitos do tratamento levam tempo para aparecer. Mas admito que meu coração tem agido de modo estranho. Creio que ter sido desafiado pela medicina deve ter mexido com seu jeito de operar dentro de mim. Só espero que ele se comporte.

Contudo, agora, concentrado em seu sorriso que foi capturado por minha Polaroid e posto no papel esbranquiçado, pela maneira como ele começou a bater mais forte, deve estar pouco ligando para o meu desejo de se manter calmo.

As fotos ficaram lindas, Souza. Bom, tirando o fato de que o filtro preto e branco não foi muito com a minha cara já que estou parecendo um fantasma. Acho que vou acatar seu pedido a mim sobre tomar um pouco de sol.

Aqui está tudo muito quieto. Um tanto frio pois, assim que finalmente desisti de tentar dormir, optei por abrir as janelas do quarto.

O vento forte faz com que as folhas verdes do salgueiro chicoteiem violentamente. O aroma de chuva invadiu minhas narinas nesse momento.

Você deve estar adorando, não é? Você tem um amor imenso por chuva.

Também tenho um apreço gigante por ela. Sinto como se ela tivesse o poder de nos fazer desejar os dois lados da moeda: o morno de uma caneca de chocolate quente e brisa gélida que passa pelas frestas das janelas, sorrateira.

Andei pensando sobre isso. Ultimamente, também tenho estado em um impasse. Realizar o tratamento está sendo como construir um castelo de cartas. E eu não sou muito bom com equilíbrio, Souza.

Tenho tentado relaxar. Não pensar muito. Mas acho que refletir é um dos efeitos colaterais de se ter a sua vida em cima de uma corda bamba.

Estou admirando a segunda foto que tiramos.

É engraçado. Sua vivacidade é tanta que parece querer transbordar do papel.

Isabela Souza... você é a criatura linda que já fotografei por ser, simplesmente, real. Verdadeira.

Em um mundo de máscaras, seu único escudo é a mais plena bondade e a mais pura força que você guarda dentro de si. E eu amo tudo isso.

A terceira foto já carrega um ar mais idiota. É incrível como, até quando fazemos caretas, você fica linda.

Isso é um ultraje, sabia?

A quarta tirei quando você estava distraída olhando para cima, tendo toda a vasta imensidão azulada do céu diante de você.

Aqui não dá para ver, porém, quando estávamos lá, no parque, depois de eu ter tirado essa foto e ter chegado perto de você o suficiente, eu vi. Eu vi e me rendi completamente.

Eu vi o céu refletido em seus olhos castanhos, Souza. Naquela hora, eu consegui ver mas sei que você o carrega para todo lugar que vai. Dá pra sentir. E é maravilhoso.

Não importa o que aconteça, não o esconda, Isita. Todos devem presenciar essa luz tão radiante que você carrega aí, dentro do peito.

Eu te amo, garota de Ipanema.

P.s.: De acordo com o seu calendário, parece que "aqueles dias" começaram. Por isso, comprei remédio para cólica e peguei um livro na biblioteca para ler quando estiver deitada. Vou deixar tudo na sua casa amanhã.
(Não se preocupe. Não esqueci dos seus chocolates).

Words - IsulioOnde histórias criam vida. Descubra agora