Chuva

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Narrador P.O.V.

O sol se retirava do cenário, se escondendo entre os montes ao longe e deixando apenas alguns de seus raios iluminarem a pequena cidade. Tons de laranja, rosa e roxo marcavam presença no céu, dando vida a um lindo degradeê e denunciando a chegada da noite. Uma leve brisa açoitava as folhas verdes das árvores e cobria delicadamente qualquer um que resolvesse dar uma caminhada, como um cobertor refrescante. Tudo parecia se encaixar naquele final de tarde, como os acordes melodiosos de uma canção. Eram os componentes de uma peça inigualável e tal fato não passou despercebido por um certo garoto que apreciava o ignorado espetáculo.

O frondoso salgueiro possuía uma aparência singular por estar coberto pela luminosidade dourada proporcionada pela luz natural que aos poucos se esvaía. Júlio não perdeu tempo, é claro. Sacou sua câmera, que estava em cima de sua mesa de estudos, posicionou-a rente ao rosto e, com um clic, capturou a imagem da velha árvore, dali da sua janela. Averiguando seu trabalho, soltou um sorriso, contente com o resultado.

"Isa vai adorar" ele pensou.

Saindo de perto do peitoril, dirigiu-se à sua escrivaninha, onde estava seu notebook carregado e pronto para mais uma rodada de edição de fotos.

Júlio ganhou seu primeiro computador de seu pai, René, que também sempre gostou de tirar fotografias. Ele o ensinou tudo que sabe, desde o jeito correto de segurar a câmera até os retoques finais de todo o processo de edição. A ideia de conseguir congelar uma fração de segundo e poder guardá-la para si atraiu o moreno no mesmo instante que lhe foi oferecida essa opção.

O rapaz apertou o botão no canto do aparelho e logo a tela se acendeu, indicando que o sistema estava acordando.

Batucando os dedos na mesa, o garoto deixava clara sua impaciência em relação ao eletrônico. Ele sempre demorava para finalmente despertar. Era uma droga.

Um tanto frustrado, Peña tomou impulso com a ponta dos pés e movimentou a cadeira giratório na qual estava sentado. Girou, girou, girou... e poderia ter permanecido assim até que o computador ligasse mas foi impedido quando um objeto em seu campo de vista.

Escondida na parte de cima de seu alto guarda-roupa, estava uma caixa de madeira de tamanho mediano e aparência um pouco velha. Porém, não era qualquer caixa. Não, era a sua caixa. Na verdade, era a caixa deles.

Júlio havia encontrado-a no sótão de sua casa quando tinha 7 anos. Ele estava explorando o local em busca de algo interessante para brincar em um dia chuvoso que o impossibilitava de aproveitar a maciez da grama enquanto criava uma história com seus bonecos e tirava fotos do céu com uma câmera tão antiga quanto o tempo, dada por seu pai.

De primeira, o objeto não o atraiu, pois quando o mesmo esteve ao alcance de seus olhos, ele estava estava empoeirado e coberto por teias de aranha. Então, não foi até ele e se ocupou em procurar outra coisa para se entreter. Mas, mesmo depois de tantos papéis rasgados, latas vazias e enferrujadas, caixas de papelão lotadas de tralhas e muito mofo, nada havia lhe agradado. Portanto, só lhe restou a mera caixa de aspecto um tanto sem graça para aqueles que a viam de longe, no canto do local.

Depois de ter retirado parcialmente a poeira do objeto, Júlio pôde ver a beleza singela do que estava a sua frente: a caixa era feita de uma madeira de cor que lembrava caramelo e a tampa dela apresentava pequenas estrelinhas que, espalhadas, enfeitavam de maneira sutil o espaço ao redor de uma lua minguante. Os dedos pequeninos do menino traçaram cada curva dos desenhos cravados na madeira de espessura nem tão fina nem tão grossa.

Não tinha nada dentro da caixa, fato que desapontou um pouco o garoto, porém olhando com mais atenção, conseguiu notar um detalhe que antes não foi captado. Era uma frase que havia sido escrita no canto da caixa, no lado direito. Ela dizia "Para quem deseja guardar aquilo precioso demais para o preto e branco da realidade."

Words - IsulioOnde histórias criam vida. Descubra agora