Eternidade

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05 de Junho

Penso bastante. Mais do que eu particularmente gostaria.

Penso em tudo. Penso no nada. Penso na matéria. Penso no mínimo e no máximo.

Minha cabeça cria ligações entre as coisas mais aleatórias e que muitas vezes fazem sentido. Tenho tentado ignorar as vozes irritantes em minha mente que insistem em gritar cada vez mais alto. É difícil confesso, já que mentes barulhentas são teimosas demais.

Contudo, hoje, meu interior deu trégua comigo mesmo. A causa? Bom... você.

Estou eufórico e ao mesmo tempo tão calmo. Meu coração não sabe em que ritmo se encaixar. Meu peito parece querer explodir. Não consigo tirar sua imagem da minha cabeça.

Claro que no momento que finalmente tomei coragem e te disse o que estava acontecendo, a adrenalina já corria de forma intensa por minhas veias. Sua expressão era indescritível. Este fato fez um rodo de nervosismo passar meu corpo juntamente com a brisa gélida do parque em que estávamos, parados embaixo de uma árvore alta e exuberante. Até que seu olhar capturou o meu por inteiro. Neles, não vi repulsa. Não vi raiva. Assim como também não vi pena. Não. O que refletia neles era algo maior que tudo aquilo. Maior do que eu poderia imaginar.

"Não importa" você disse." Nos limitamos a muitas coisas, Peña. Pensamos que a vida nos tira tanto, mas, às vezes, fazemos fazendo com nós mesmos. Eu não quero comenter esse erro. Não quero me privar do sofrimento, da dor que vou sentir ao te ver ir embora, porque tudo isso torna tudo mais precioso. O que torna tudo mais singular. Então, não me peça para me afastar. Não peça para te deixar. Eu não vou. Não vou a lugar nenhum."

Estava sem palavras. Não sabia como reagir. Só sabia que precisava continuar respirando.

"Lembra que te disse uma vez que 'todos nós precisamos ter pelo o que lutar'? Que não é um fardo?" você perguntou."Bom, eu seria uma idiota se não lutasse pelo garoto do outro lado do corredor, que tanto mexeu aqui dentro. Se não me permite-se dizer com convicção que amo seus olhos, seu sorriso, sua mania de ficar mordendo o lábio inferior quando está analisando suas fotografias. Seria uma idiota se não ficasse ao seu lado, Peña."

Tudo congelou ao nosso redor. Meu coração gritava. Meu peito queimava.  Quando menos percebi, puxei seu corpo contra o meu, abracei sua cintura enquanto seus braços rodeavam minha nuca. E em um gesto singelo, colei nossos lábios.

Naquele momento, meu coração sabotou minha mente. Meus questionamentos foram cessados pela primeira vez em anos. Seu cheiro adocicado me invadiu e o gosto de morango pertencente aos seus lábios carnudos infestou minha boca.

Desejei e implorei para que o ar não nos faltasse e que os segundos se estendenssem de maneira preguiçosa. Rezei para que aquele instante fosse eterno. Para que aqui dentro deixasse de ser tão oco, que o meu vazio fosse preenchido pela sua presença. Pelo fato de ter seu corpo pequeno próximo ao meu.

Me senti tão vivo. Tão preso a minha própria eternidade particular que fez um Carnaval surgir em meu interior.

Ao fim do beijo, fitei cada detalhe seu: as bochechas coradas, os lábios vermelhos, seus fios morenos contornando seu rosto e, enfim, suas orbes cor da café. Aquelas duas imensidões hipnotizantes e, naquele momento, inundadas de emoção, assim como meu coração.

Tive a confirmação de que eu te necessitava. Que eu queria que seu olhar estivesse preso ao meu. Que eu não poderia e nem queria te manter longe nunca mais.

Tive a confirmação de que te amava, Souza.

Words - IsulioOnde histórias criam vida. Descubra agora