Café

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29 de Maio

Fiquei pensando na possibilidade de que os pingos de chuva fossem mais fatais do que realmente são. Como seria se eles nos ferissem.

Também pensei na possiblidade de ser a vítima em uma acidente de avião. Mas eu não estaria dentro dele. Na verdade, eu seria atingido por ele. Refleti sobre como seria a sensação. Creio que tive uma noção quando de te vi passar pela porta da cafeteria em que eu estava, acomodado em uma espécie de sofá ao lado da grande vitrine, bebericando meu café.

A pressão em meu coração foi quase insuportável ao seu olhar se encontrar com o meu. Era como se o buraco que havia se formado em meu peito tivesse se alargado e quase me engolido por inteiro.

Fazia dias que estava te evitando.

Não sabia o que dizer. Não sabia como iria conseguir conversar ou só te olhar sabendo que iria te perder.

Iria te perder para mim mesmo.

Minha mãe e meu irmão já carregam o fardo que possui a certeza que posso "partir dessa para melhor" a qualquer momento. Não posso suportar saber que carrega essa peso também.

Não fique chateada ou com raiva, por favor.

Você ficou?

Acho que não. Talvez eu devesse ter te contado porquê me afastei assim tão de repente. Quem sabe, isso diminuiria o impacto que levou meu interior ao fitar-te naquele ambiente aconchegante. Mas a expressão que continha seu rosto ao se sentar em minha frente, destruiu-me um pouco por dentro, confesso.

Queria tanto ter coragem para te contar...

Mas será que seria mais fácil? Será que iria ser mais doloroso ter consciência da verdadeira bomba relógio que sou?

A resposta é "Eu não sei".

O silêncio se alastrou sobre nós. Não me atrevi a dizer nada. E nem você. Tudo estava tão quieto. Quieto o bastante para eu não ter notado que você havia se levantado e rodeado os braços por meus ombros.

Você me abraçou, lembra? Mesmo sem eu ter dito nada. Mesmo não te dando uma explicação do meu sumiço.

Me abraça mais vezes?

Foi a melhor sensação do mundo. Meu coração batia forte em meu peito mas de uma maneira tão boa. Me senti tão vivo.

E nós ficamos lá. Abraçados. Aconchegados.

Lembro de ter te pedido desculpas por tudo. Por ter sido um idiota, por não ter respondido suas mensagens, por não ter explicado o que estava acontecendo. Porém, você só segurando meu rosto com suas mãos macias e depositou um beijo em minha bochecha, logo depois sussurrando que estava tudo bem.

Depois de um tempo lá, ter assistido você ir embora e ter visto que havia deixado seu número embaixo do copo de isopor em que você estava tomando seu café com leite, tive a confirmação que não iria conseguir ficar longe de você, Isita. Nem se eu quisesse.

E eu não quero.

Eu nunca quis.

O meu interior sempre gritou isso mais nunca parei para ouvir.

Se eu sou rendida? ÓBVIO 😢❤👉👈

Words - IsulioOnde histórias criam vida. Descubra agora