Capítulo 23: A Cúpula

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A MADRUGADA CHEGOU ÀS MONTANHAS Três Lobos da mesma forma como a noite alta despediu-se: em silêncio, como um segredo sussurrado ou como um último e frio beijo antes do adeus derradeiro

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A MADRUGADA CHEGOU ÀS MONTANHAS Três Lobos da mesma forma como a noite alta despediu-se: em silêncio, como um segredo sussurrado ou como um último e frio beijo antes do adeus derradeiro. Antes que Sakura percebesse, a escuridão se intensificara enquanto a alvorada achegava-se devagar. Dentro de poucas horas, o céu clarearia e revelaria a linha irregular das copas das árvores no imenso vale logo abaixo. O sol nasceria por trás dos picos oblíquos das montanhas a leste e brilharia sobre o gelo.

A proximidade da alvorada não atenuava os seus nervos, contudo.

Muito embora as temperaturas continuassem bastante baixas, pelo menos já não nevava mais. Não que fizesse diferença, ali, ela estava sempre sentindo frio, sempre esfregando a pele dos braços e friccionando as pontas dormentes dos dedos. Nos últimos dias, o frio que se instalara no seu estômago não provinha apenas da dureza do país do Ferro, mas da iminência da Cúpula dos Kages. Sakura faria a sua primeira aparição oficial como Nanadaime Hokage de Konohagakure no Sato naquela reunião que deveria decidir o futuro do país do Sangue.

Ela vinha tendo pesadelos nas últimas noites com esse evento. E o vínculo recente que estabelecera com Sasuke não estava ajudando. Apesar de conseguir relaxar perto dele na maior parte do tempo, ainda havia vezes em que os seus instintos de Kunoichi lhe diziam para não baixar a guarda, para erguer uma fortaleza ao redor do seu coração e se proteger. Proteger-se dos sentimentos que revolviam, latentes depois de tantos anos, proteger-se do efeito devastador que ele ainda tinha sobre ela — corpo e alma.

Aquele não era o Sasuke do seu mundo e, em algum lugar, havia outra versão dela mesma esperando, aflita, pelo retorno do homem que amava. Sakura não tinha direito algum sobre ele, não podia reivindicá-lo ainda que uma parte egoísta dela — que ela se recusava a reconhecer — o quisesse. Desesperadamente.

Por isso era mais fácil manter uma fria distância dele, tratando-o como trataria um subordinado por quem se sentia responsável. Assim, quando ele retornasse para a realidade a qual pertencia, ela também voltaria à sua rotina, aos amigos preciosos que tinha, e às pessoas que a ajudaram a se reerguer quando atingira o ponto mais obscuro da sua vida logo após as mortes de Naruto e de Tsunade.

Mais cedo, depois que Shikamaru revelara a posição do Chikage, um silêncio denso se estabeleceu dentro do recinto. Duas portas cerradas separavam-nos dos alunos dela, que dormiam aquecidos nas suas camas. Em algum lugar na sala de estar, os ponteiros de um relógio tiquetaqueavam, sincronizados com os batimentos cardíacos dos cinco Shinobis presentes bem como com as batidas do dedo indicador de Sakura no próprio braço.

— Você tem certeza disso, Shikamaru? — ela indagou ao homem, agarrando-se a qualquer pequena esperança de que ele pudesse ter se equivocado, de que havia um engano ou de o ouvira mal.

— Alguma vez eu já estive errado?

Sakura suspirou. Descruzou os braços rigidamente e terminou por apoiar as mãos nos quadris por não saber o que fazer com elas. Sentia-se inquieta, encurralada, atraída para uma armadilha que pensara haver conseguido evitar.

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