Capítulo 19 - O fim da maldição

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"Eloquência positiva é aquele que persuade com doçura, não com violência, ou seja, como um rei, não como um tirano."

Blaise Pascal

"Minha rainha..."

Qiong Qi sabia estar sem saída. Os dragões a sua volta o escoltavam como guarda costas assíduos a mando de Vorlianth. Pensou que seria executado sem hesitação pela grande besta quando esta finalmente surgiu e forçou a todos assumirem novamente suas formas originais.

Entretanto, ele parecia ter outros planos ao conduzir os dragões para o território mais afastado, onde diziam que os lamentos de dor e fome jamais poderiam ser ouvidos, e por isso o povo de Dunkelheit sempre esteve à deriva, dependendo da sorte ou azar que vinha a cada dia.

Para Qiong Qi, que passou grande parte da sua vida pós guerra entre os povos humanos, aprendendo a se misturar entre eles desde que Vorlianth desapareceu, a sensação de voltar ao ponto de partida era como reviver seu passado com riqueza de detalhes. Não que ele não se lembrasse todos os dias que havia sido controlado por um humano com dons mágicos e matado sua rainha.

"Irene, eu falhei novamente..."

As criaturas que o guiavam até uma estrutura mais afastada do familiar castelo de pedras escuras e irregulares, formando padrões desordenados nas paredes, forçaram sua entrada no principal salão subterrâneo através do buraco formado pelo abandono, que nunca permitiu que fosse consertado para esconder a imensa masmorra que era mantida pelo povo de Dunkelheit.

As criaturas se empoleiraram nos andares acima ao que o dragão dourado foi deixado, observando com seus olhos atentos para qualquer movimento brusco.

Já a forma monstruosa de Vorlianth não passava pela entrada como o restante, então apenas uma forma humanóide caiu no pátio cercado por celas, porém os olhos com fendas, a postura e o andar diferentes indicavam que o tal humano não controlava mais aquele corpo.

"Por que não termina com isso de uma vez? Quer que eu veja você finalmente cumprindo seu papel?" a risada zombeteira de Quiong Qi saiu como um rosnado entrecortado, achava patético em como compartilhar o corpo com um humano como o ex-general havia feito Vorlianth se tornar misericordioso, ou melhor, uma criatura sem postura firme.

– Este lugar o trouxe muita amargura ao seu coração – a voz grave e grutural reverbera pelo local, fazendo os dragões em volta eriçarem e sibilarem como se ali fosse um ninho de cobras. – Todos sabemos que a morte não é a solução para todos os problemas.

A armadura negra imitando as escamas do dragão reluziam em dourado à medida que andava até bem perto de Quiong Qi, o qual sentiu seus músculos contraírem e seus ossos retorcerem, querendo assumir uma forma diferente. Um grunhido foi tudo o que conseguiu expressar até sentir o tato mais sensível contra o áspero do solo em cada ponta do dedo das mãos que arranhavam o chão, sua cabeça erguendo de supetão com a visão agora debaixo de Vorlianth.

Estava novamente na forma de Seokjin.

– Lute comigo e, se ganhar, eu o deixarei livre – determina, enquanto uma espada que um dos dragões encontrou para ele caía a sua frente.

Uma outra espada é entregue por uma das criaturas aladas na mão de Vorlianth, que espera Seokjin se acostumar com seu corpo e o peso de armadura ouro que vestia, antes de erguer-se com a arma na mão.

O dragão dourado nunca havia lutado com uma espada antes, mas usaria desta e depois de suas próprias mãos se fosse necessário para matar o líder e tomar seu posto, ou simplesmente sentir o gostinho da vitória uma vez. Sempre conviveu com uma humana muito ambiciosa, que não via saída para a crise de seu reino sem a conquista e a submissão de todo o restante. Aqueles sentimentos com certeza tinham o envenenado, mas Vorlianth havia aprendido com Hoseok que almejar o que não te pertence pode acarretar nas piores consequências.

VorlianthOnde histórias criam vida. Descubra agora