Capítulo 16 - Um coração partido dói mais que asa quebrada?

97 19 12
                                    

"Você quer um coração? Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem [...]"

O Mágico de Oz

Namjoon estava visivelmente nervoso e Hwasa não precisava virar o pescoço para olhá-lo e saber que sua testa se vincava em pensamentos perturbados. Sentia as mãos suadas contra sua couraça, segurando com força exagerada em seu pescoço enquanto os outros caçadores afiavam lâminas e carregavam cartuchos e aljavas.

Sabia que o problema do caçador não era a altura ou a floresta em chamas que sobrevoam em alta velocidade, fazendo com que infiltrassem em rastros e nuvens de fumaça escura com cheiro de enxofre.

O dragão grunhia sempre que identificava ser cinzas de alguma criatura, lamentando tantas perdas. Após algum tempo Namjoon pareceu sair de seu transe para deslizar a mão em uma forma de carícia que o próprio não sabia muito como fazer, porém ainda assim auxiliou para que Hwasa se mantivesse focada no caminho que tomava para cruzar o céu o mais depressa.

De qualquer forma, a complicação que vinha criando raízes na mente do caçador ferreiro era o fato de estar no comando de uma missão de combate e busca. Wonho havia sido um imprudente ao nomeá-lo para o cargo, sem perguntar ou esperar que pensasse sobre.

Agora, caso não fosse cauteloso, poderia perder ainda mais companheiros, como foi na cidade. E ele não saberia lidar com aquilo naquele momento.

Lembrava de sua família o ensinando como fazer o manuseio das armas sem se queimar e como o seu descuido por não seguir as ordens adequadamente fizera o ferro quente cair nos pés de seu pai uma vez. Foi um erro bobo, que o fez ficar com uma marca pelo resto da vida.

Haviam erros que não podiam ser cometidos, pois podiam custar coisas valiosas demais para ser possível recuperar.

Quando o corpo escamoso se agitou, a cabeça abaixando para um ponto no chão, Namjoon tombou um pouco a cabeça, visualizando então uma grande cratera que seria a entrada para o coração da floresta.

– Segurem-se! – gritou sobre o ombro, confiando que haviam o escutado e segurariam firme enquanto Hwasa inclinava-se, fazendo um arco fechado em direção ao chão enquanto as asas rasgavam o ar e, de repente, se comprimiam para não esbarrarem nas laterais do buraco.

A velocidade com que o vento batia fez o caçador fechar os olhos e sentir seu corpo pesar em direção ao chão, como quem desce por uma montanha-russa, trazendo uma sensação de enjoo para os que não aguentavam o movimento brusco.

Quando o dragão vermelho fez uma curva e passou a planar sobre o ar úmido da gruta em que estavam, Namjoon decidiu que aquele era o melhor momento para dizer algo. Soltou então o pescoço de escamas avermelhadas e girou o corpo para olhar os outros caçadores.

– Estamos quase chegando ao coração da floresta e a partir daqui nenhum de nós nos aventuramos antes. Não sabemos o que nos aguarda ao certo e não podemos baixar nossa guarda em momento algum. Precisamos sair deste lugar com o garoto de Gahyeon e o pai dele, assim como qualquer outro humano que venhamos a encontrar. Estamos entendidos? – diante dos acenares e alguns gritos que ecoaram pela caverna, Namjoon expressou um pequeno esticar de lábios.

Sentia que podiam conseguir.

Quando o brilho fraco das pedras que ornamentavam a gruta foi substituído pelo sol radiante que iluminava o coração da floresta, ao invés de toda a fumaça negra, Lenora voltou para o alto, grunhindo satisfeita ao ver vários dragões ainda em suas vidas normais.

VorlianthOnde histórias criam vida. Descubra agora