Capítulo 1 - Curiosidade

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Curiosidade Incansável
"Procure saber o que as coisas realmente são, não simplesmente o que parecem ser."

Henry David Thoreau

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Sede.

Jimin sentia muita sede quando acordou, ainda atordoado, numa espécie de gaiola que estava suspensa no ar. Uma vertigem o tomou ao perceber a distância que estava do chão, então só foi capaz de apertar os olhos e se agarrar nas grades numa forma de se assegurar que não cairia.

Park Jimin tinha um medo irracional de altura, mal conseguia ficar com os pés um pouco acima do solo que já sentia o frio na barriga. Não conseguia passar por pontes ou escalar uma mísera árvore sem as pernas virarem gelatina, seu pai o dizia que estava tudo bem ter medo de algo e ele era muito agradecido por ser tão compreensivo.

Seu pai.

Ele estava com seu progenitor quando tudo aconteceu. Era a primeira viagem que faziam juntos em seu caminhão de carga e estivera muito ansioso para poder finalmente passar um pouco mais de tempo com seu pai que vivia nas estradas fazendo entregas.

Sua vida havia sido bem pacata no geral, morava numa casinha simples em uma cidade pequena, com pessoas humildes e sem toda a pressa das cidades grandes. Passava boa parte do tempo ajudando a mãe nos afazeres de casa para poupar suas articulações gastas e se mostrar útil diante das suas obrigações como auxiliar do lar. Aprendera de tudo, desde a cortar lenha para que se aquecessem no inverno até a cozinhar pratos tão deliciosos quanto os da mãe.

Era o orgulho da família Park.

Porém agora não sabia o que seria dele ao estar preso em um lugar desconhecido, que era quente e seco ao ponto de fazer até seus lábios racharem. Tentou forçar sua cabeça a lembrar de qualquer coisa que o ajudasse a saber como chegou ali, estavam seguindo por uma alameda com árvores bem altas, e pelo cheiro gostoso deveriam ser pinheiros.

Então uma movimentação fez seu pai reduzir a velocidade, com medo que algum animal atravessasse de repente e fosse atropelado. Eles estavam transportando uma quantidade considerável de carne para ser beneficiada em indústria e a viagem não poderia ser longa para que o produto chegasse nas condições adequadas ao destino. Entretanto, reduzir um pouco a velocidade era mais seguro no momento e Jimin ficara de olhos bem atentos como foi pedido, atento a qualquer movimento.

A cabine do caminhão era aconchegante e o Park mais novo facilmente dormiria ali, olhando para a foto que seu pai mantinha colada no para-brisa de sua família, na foto ele ainda era apenas um bebê de corpo cheinho e bochechas coradas enquanto seus pais eram um casal de jovens sorridentes no fundo da casa em um dia ensolarado.

Aquele seu momento de distração foi o suficiente para não perceber que algo saía por entre as árvores e acertava com uma força descomunal o baú frigorífico. Vira o Sr. Park tentar recuperar o controle da direção e gritar para que se segurasse, ele não pode fazer nada além de se apoiar na maçaneta da porta e rezar para que o veículo parasse de girar.

Jimin também lembrava quando finalmente o freio fez surtir algum efeito e o caminhão parou metros a frente atravessando toda a pista, o asfalto marcado pela borracha dos pneus. Depois disso só se recorda de estar muito tonto e do pai sair trêmulo da cabine.

E então veio o segundo impacto que o apagou.

Com um suspiro alto ele voltou a abrir os olhos para observar melhor o lugar, evitando olhar para baixo e que outro golpe de vertigem o assolasse. As paredes em volta eram bem altas e formadas por blocos de pedra, mal conseguia ver o teto onde a corrente estava pregada, segurando a gaiola de ferro escuro suspensa no ar.

VorlianthOnde histórias criam vida. Descubra agora