três

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Outer Banks


Agatha com certeza chegaria para deixar um estrago grande o suficiente para as pessoas ficarem consertando tudo até o final do verão. O céu estava escuro mesmo sendo a tarde, estava coberto de nuvens escuras carregadas e barulhentas, indicando que ora ou outra a tempestade se aproximaria para deixar todos dentro de suas casas, o comunicado foi claro: garanta abrigo protegido durante o furacão e não saíam nas ruas. E estando aqui onde estou acho que estava quebrando todas as regras possíveis que a polícia e os repórteres deram durante toda a semana.

Coloco os pés na areia sentindo o contato gelado dos grãos e leio a placa "perigo, praia fechada", talvez surfar durante uma tempestade seja loucura demais. Mas ao olhar para o tamanho das ondas a voz do meu pai vem logo na minha cabeça: "é toda sua, vai lá e arrebenta."

O mar estava agitado, ondas por toda sua extensão e bem mais altas do que em todos os outros dias de surf que já tive na ilha. Elas quebravam até mesmo fora da zona de arrebentação mas logo criavam outras apontando para todos os lados possíveis, estava claro que o mar estava puxando só de ver a violência com que o mar batia nas rochas.

Prendo o leash no meu pé logo deixo todos os meus pensamentos de lado ao entrar correndo na água, pulando em cima da prancha e sentindo no mesmo momento a água gelada arrepiar todo o meu corpo, conforme furava as ondas meu cabelo ia ficando molhado pela água que espirrava e começava a sentir os fios encharcados batendo contra minhas costas, que até então estavam secas, e essa sensação de frio, o arrepio, a adrenalina de fazer algo que você sabe que não deveria estar fazendo me motivou a remar até a parte das rochas, onde as ondas conseguiam ser mais consistentes e quebravam menos.

– E vamos lá -Brinco comigo mesma ao chegar no outside e olho para o mar completamente agitado atrás de mim.

Minha prancha mexia conforme a ondulação do mar e sabia que deveria ter muito equilíbrio para não cair da prancha e estar sujeita a me chocar contra as rochas que não estavam muito longe de mim. O perigo do mar agitado e da maré alta é a água ter coberto outras rochas e eu passar por cima delas.

Remo contra uma onda média que vinha e me levanto rápido forçando os pés a descer da crista até a base da onda -o drop-, forcei meus joelhos fazendo curvas na onda, indo para cima e voltando para baixo com auxilio dos meus braços -a rasgada-, e não menos importante quando peguei aceleração o suficiente subo na onda com a prancha e deixo a ponta dela apontar para o céu enquanto meu corpo ficava completamente inclinado, forço meu pé que estava na frente para a prancha voltar deitada para a água e caio em pé girando, finalizando a manobra.

Volto a remar para o outside e quando me viro vejo duas pessoas agitadas e felizes entrando no mar, eram dois garotos sem camisa, eles estavam em uma parte mais longe de onde eu estava, a parte "segura", os dois garotos pareciam animados e acho que eram os mesmos que eu via sempre na praia, um garoto que anda com eles surfa muito bem.

Volto ao meu foco de tentar treinar aéreos, mas as vezes acabava rindo das más escolhas deles com as ondas oque fazia com que eles caíssem dela varias vezes -e ainda bem que não estão na parte das rochas se não com certeza já teriam se chocado contra elas-.

Volto para a base da onda acelerando cada vez mais e quando sinto aquela sensação de estar no ar coloco rapidamente a mão no nose da prancha e giro, sinto minha cintura doer um pouco por conta do roxo e quando percebo que fiz o giro completo foi o exato momento que a prancha se chocou contra a água, me fazendo perder o equilíbrio e firmar os pés e erguer os braços para me manter em pé.

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