onze

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Outer Banks




  Acredito que tudo na vida seja algo sobre sair da zona de conforto. Alcançamos o desejável quando deixamos de fazer oque todos fazem e passamos a fazer oque nós temos medo. Afinal, oque em si seria o medo? Um peso invisível no nosso cérebro que o impede de realizar um farto valioso. Segundo Heidegger, o medo nos convida a viver na impropriedade, não atribuímos um sentido ao ato, deixamos que os outros e as circunstâncias o rotulem e os façam, nos alienamos de nós mesmos, vivemos sempre correndo algemados de obrigações frustrantes, com a vida indo para um caminho de distrações até a hora que não tenha mais vida. Vivemos num sentido impróprio que não aponta em direção alguma, como uma finalidade sem fim. Um ciclo vicioso.

O medo, é o estopim para vivermos na comodidade e desencadear a angústia, o cuidado, a preocupação exagerada.

Meu pai sempre dizia que o medo era diferente do pavor "O medo é algo saudável, é normal sentir medo, é um sinal que preza pela sua vida, ele não te impede de nada e você pode supera-los, agora o pavor não é. O pavor te impede de fazer as coisas, o pavor te impede de viver". Quando meu pai entrou no mar, eu tenho certeza que ele sentiu medo, mas ele não sentiu pavor.

Meu pai dizia para eu seguir oque eu quisesse seguir, assim como dizia ao meu irmão, e bem, ele entrando no mar seguiu oque queria. Ter filhos não impedem de ter uma vida, talvez não seja a escola hipoteticamente correta, mas ele está vivendo, seguindo um sonho que talvez tenha sido interrompido.

– Está melhor? -Desvio o olhar da xícara de chocolate quente e vejo JJ se sentar nos degraus da escada ao meu lado. Depois do banho, ele preparou um chocolate quente muito bom e eu vim para o quintal dos fundos enquanto ele tomava banho, acabei entrando em um período reflexivo.

– Estou sim, muito obrigada. Está muito bom -Elogio olhando para a xícara novamente e aproveitando que ela aquecia minhas mãos com o vapor. Apesar de ser um lugar bem quente, tomei um banho muito gelado, e por estar de tarde a brisa era mais gelada que de manhã.

– É uma das poucas coisas que sei fazer -Brinca levando a xícara azul a boca e sorrio. – Vai, preciso saber mais sobre você -Ele diz e o olho totalmente arqueando as sobrancelhas.

– Oque deseja saber? -Pergunto sorrindo de lado, tentando não fazer caras estranhas o suficiente para não parecer tão feia.

– Qual o seu sobrenome? -Começa

– Hesling. Jamay Nesta Hesling -Pronuncio meu segundo nome quase que com dificuldade, não falava muito o nome de parte materna.

– Nesta? Como o do Bob Marley? Mais legal que o meu... Maybank -Diz e rio nasalado, todos sempre falavam do Bob Marley. Robert Nesta Marley.

– Maybank? Como o banco universal da Malásia? -Questiono e ele franze as sobrancelhas.

– Tem um banco com esse nome? -Pergunta confuso, sorrio olhando agora para o chocolate.

– Tem sim, meu pai falou sobre ele uma vez. Ele tem como principais mercados domésticos operacionais da Malásia, Cingapura, Filipinas, Indonésia e parece que vão abrir um no México, Bahamas -Dou de ombros, por algum motivo lembro dessa conversa em especial.

– Você mentiu para mim, é do time Pope. É uma nerd! -Exclama me fazendo gargalhar ao levar a xícara a boca.

– Só tenho a memória boa -Dou de ombros engolindo o chocolate, nem muito doce, nem pouco, nem muito quente, nem pouco. JJ Maybank realmente sabia cozinhar, mas acho que não queria que ninguém soubesse disso.

Nothing To Lose¹  • JJ Onde histórias criam vida. Descubra agora