Capítulo 1 - Prazer, Joe Roach

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Eu não sei quem você é, não sei onde vive, o que faz todos os dias e muito menos como conseguiu esse livro, mas sei que você deve "ouvir" essa história. Meu nome é Joe Marcus Roach, é um verdadeiro prazer te conhecer mas vamos pular as formalidades, sei que quando menos esperar já será mais um dos meus amigos mais íntimos, não são muitos mas são os melhores que eu podia querer.

As coisas nem sempre foram tão boas como são hoje, viver em uma casa com todas as modernidades inúteis e, porque não, fúteis que o ser humano inventou não era algo muito visível no meu horizonte e nem algo que tinha prioridade na minha vida, afinal, nem sempre as tive. Venho de uma família humilde do subúrbio de Austin, no Texas, lugar da sede mais famosa do FBI, isso deve ter contribuído para o meu maior sonho. Cresci com a vontade de proteger as pessoas ao meu redor, algo que passou a ser uma parte tão persistente na minha mente que se tornou uma certa obsessão.

É, eu consegui, talvez até mais do que eu esperava, cheguei na Delta com apenas 20 anos, minha mãe, é claro, morta de preocupação não entendia a proporção da minha felicidade e da minha ansiedade em proteger as pessoas, não demorou muito para perceber minha ilusão. Seja um militar do mais alto escalão ou um simples policial, você está lá para proteger os interesses dos mais poderosos, isso é fato, mas que não permeava minha mente inundada de altruísmo. Você pode até não me entender muito bem mas a minha história de verdade não começa aí.

A missão do meu time no Delta era simples mas de imensurável importância, deveríamos proteger as Portas de Ferro a todo custo. As portas de ferro eram o ápice do desenvolvimento tecnológico mundial, lembro como se fosse hoje daquele dia três de dezembro. Dois homens não acharam pouco se explodir e ainda levar muita gente junto (olhe que isso já é muita coisa) mas decidiram instalar uma epidemia no meio de Nova York. Estando contaminados com o vírus Ebola, que foi um grande problema anos atrás, e se explodindo, seus corpos distribuíram o vírus por toda a Manhattan. Caótico, foi caótico, mas a evolução da tecnologia não era só para coisas fúteis (antes que vocês desandem a me xingar) mas a evolução da biotecnologia ajudou na rápida detecção e na eliminação desses vírus, mas não sem perdas. Foram longos três anos de medo, e muitas mortes.

A necessidade de acabar com isso era iminente, vários estudiosos se candidataram, alguns tinham mais diplomas do que dentes na minha boca mas um jovem inglês chamando Steven McCoy foi o felizardo. Ele não precisou de muitos laboratórios para criar uma ideia genial, só precisou de um livro de história. Lembrou das barreiras criadas em tantos impérios para criar a barreira do século XXI. Feitas de ondas eletromagnéticas super poderosas, distribuídas por cada centímetro de fronteira, algo impensável a 10 anos atrás. Para adentrar então em qualquer território, qualquer individuo ou objeto precisa de um chip. E se você não tiver o chip? Vira espetinho. E muita gente achou isso uma boa forma de dar adeus ao mundo.

Depois de muitas polêmicas e muitos debates um grupo de cientistas do mundo todo capitaneados por McCoy iniciou os trabalhos de implantação da barreira e de logística para uso dos chips e controle das entradas, mas é claro, sabiam que a cada segundo, a cada minuto, tentariam burlar a barreira. Para isso foi montado um time, os GA's (Guarding Angels), responsáveis por impedir qualquer falha, nem que fosse por um milésimo de segundo, a verdade é que, lá nós não tentávamos ser perfeitos, tínhamos de ser perfeitos. Fui recrutado para esse time no meu primeiro ano no exército, meus talentos com tecnologia e meu pequeno interesse pela ciência me destacou entre os demais, o que foi necessário para surgir essa oportunidade. Deixei então o subúrbio de Austin, para uma boa casa em um bairro de classe média em Tulsa, Oklahoma, propositalmente no meio do país (o que dava mesmo alcance para todas as fronteiras)

Nervosismo. Era o que me descrevia no primeiro dia, com o tempo vi que a magnitude da responsabilidade combinava comigo e eu me sentia estimulado e determinado a viver com ela. Tudo estava muito bem, estava ganhando bem, tinha a Catherine, minha melhor amiga que não tardou a se transformar também na mulher da minha vida. Mas tudo não ficaria assim pra sempre, por dentro eu tinha certeza que a nossa "perfeição" não era eterna e muito menos tão perfeita assim, havia falhas, que um dia alguém perceberia, muitas vezes eu as vi, mas não conseguia corrigi-las, era um sistema muito complexo. Mas não imaginava que eu seria aquele que iria usá-las.

Tudo começou no dia 27 de setembro de 2026, quase dois anos após a implantação das Portas de Ferro, era mais um dia de trabalho, como sempre ia ao QG bem cedo. Foi tudo muito rápido, e a lembrança é bem turva na minha mente, em um rápido momento estava cercado de vários homens sem falar nada com nada, desandando a me acusar de coisas que não sabia nem que eram possíveis, falando nomes incompreensíveis, parecia um pesadelo. Algo bloqueava a minha mente quanto aquilo, quando realmente processei o que estava acontecendo estava numa sala, com um só homem.

Iluminação não era uma prioridade para salas de interrogatório, muito menos o design da porta. A porta era blindada, e a sala devia ser 3x3, com uma mesa e duas cadeiras, e lá estava eu e o agente Bayer, pelo menos era o que estava escrito no seu distintivo.

- Você deve saber porque está aqui. Isso me poupa te apresentar as acusações - Disse ele. Dava para perceber, o olhar seguro, o sentimento de superioridade ambulante, era dos mais poderosos, os protegidos.

- Não, senhor - Achei que falar senhor seria bem necessário agora - Vocês devem estar enganados, pegaram o cara errado.

Não deu para desviar, nem iria. O gosto de sangue na minha boca, começou a desencadear uma onda de ódio que eu nunca tinha sentido. Quem era ele para bater em um inocente? Quem era eu para estar ali? O que irão fazer comigo? A impotência que você tem perante os poderosos é algo indescritível.

- Hoje, um ataque terrorista matou mais de 1000 pessoas em Washington, na porta do nosso presidente, Sr. Roach. - Disparou.

- E por que só eu estou aqui? - Ele notou o tom alterado da minha voz, não era só ela que já estava alterada, todo eu estava alterado.

- Incrível, Incrível - Disse ele, com um pequeno ar de riso e ironia, já estava ficando irado, isso só podia ser brincadeira, minha vontade era de acabar com aquele sujeito que com certeza era só mais um se divertindo com o monte de poder que se coloca na mão desse tipo de gente - A polícia chegou rapidamente ao local lá eles encontraram artefatos de origem externa e também restos mortais de estrangeiros não cadastrados. Pessoas não se materializam do nada, Sr. Roach. Elas passaram pela barreira. E sabe o que encontramos com eles? Isso. - Sacou um celular e colocou na mesa, não entendia o que estava vendo e o medo começou a tomar conta de mim.

- Isso está errado. Estão armando para mim.

- Claro, claro. De repente, apreendemos um celular que tem nada mais e nada menos que quarenta ligações para o senhor. Esse celular é do Afeganistão. Então, o que alguém do Afeganistão que resolve se explodir, quer tanto com o senhor?

Eu não sabia o que dizer, não tinha saída. Eu não recebi ligações do Afeganistão, ou de qualquer lugar perto de lá. O que me incomodava era a certeza que alguém tinha planejado isso tudo, e quem seria? Não tinha inimigos, muito pelo contrário, tinha muitos amigos, não havia feito nada errado. Então, por que?

- Quero um advogado.

- Claro - E saiu, me deixando ali na sala escura, pensando no que aconteceria.

Cartas Para Um DesconhecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora