Capítulo 4 - A única saída

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        Eu não esperava passar a noite sozinho mas até que era uma ótima oportunidade para tentar entender alguns pequenos problemas. Bem pequenos. Eu só estava numa cela solitária no meio do nada na prisão mais segura do mundo. Por que? Bom, eu não sei. Mas alguém me colocou aqui e agora eu tenho a difícil missão de encontrá-lo e provar que ele é o culpado por tudo.

         A fome começava a bater e eu não tinha nenhuma experiência com prisões (graças a Deus) só realmente esperava que não demorasse para chegar. Mas, mesmo assim, eu não conseguia pensar muito nela. Pensava no Sr. Hincliffe, em Catherine e em como eles vão conseguir me tirar daqui isso, é claro, se houver alguma chance.

         Era incrível, não podia deixar de admirar a mente brilhante por trás disso tudo. Mexer no código a ponto de criar um overclock, isso sem falar em invadir meu computador... É coisa de profissional, bem pensado e previamente analisado. Alguém que observa tanto a barreira quanto a mim mesmo há um longo tempo. Essa pessoa com certeza também sabe exatamente o que fazer agora, será que irá sumir do mapa? Ou terá planos maiores? Com a ideia do overclock, eles podem estudar ainda mais a barreira, entender mais do seu funcionamento e perigosamente descobrir ainda mais coisas que podem fazer com ela. Isso transformaria nossa fonte de segurança na maior arma do nossos medos. Sem saber se podemos confiar nela, nossa sociedade que já se acostumou a viver sob sua guarda ficará exposta e sem defesa, criando um caos nunca antes imaginado.

         Enquanto pensava nisso, a portinha de baixo da porta se abriu. Dela uma bandeja com dois pães, ovos mexidos e uma xícara de chá. Não pensei duas vezes e a devorei, com a mente permeada por esses pensamentos e previsões. O futuro não era muito animador, para nenhum de nós. Nem a comida.

         Me levantei e resolvi me deitar, não havia o que pensar mais, a essa hora, lá fora, todos os meios de comunicação já devem estar falando da minha prisão, do meu futuro julgamento. A mídia e seu poder, não havia como duvidar dela se era a única fonte que temos. A comoção que isso tudo irá criar, provavelmente já há pessoas clamando para minha execução, especulando sobre as razões, sobre o futuro, sobre o que fazer. Iria fugir um pouco disso, somente na hora de dormir realmente fugimos dos nossos problemas, provavelmente por isso é tão agradável.

         A sirene das prisões não era a melhor trilha sonora para se acordar, aqui era assim: Cinco horas da manhã e todos acordam para as tarefas diárias, a limpeza dos corredores, roupas, um tempinho para o banho e um tempo no pátio, isso tudo apertado em uma hora, a única que podíamos ficar fora das celas. E então tive a primeira oportunidade de me ver depois de todo o ocorrido.

         Mesmo não fazendo tanto tempo, o estresse havia acabado comigo. A barba que nunca gostei começava a crescer, tinha cabelos rebeldes bem pretos que nunca gostei de pentear mas eles estavam bem mais rebeldes do que o normal, usava um óculos de armação preta que todos diziam que me deixava com aparência de inteligente (quase sempre levei isso como insulto), um pouco embaixo uma cicatriz no nariz, perto da bochecha, era o que mais se destacava, realmente machucou aquele dia. Havia olheiras pela noite mal dormida, os olhos vermelhos, desde a universidade eu não me via assim.

         Preferi voltar a cela a ter meu momento de socialização. Acredite em mim, aqui não é um lugar muito bom para isso. E então novamente estava de volta a solidão. Ansiosamente esperava por notícias, sabia que hoje deveria ter alguma ou no mais tardar amanhã pela manhã. Felizmente, não tive que esperar tanto. A manhã demorou muito a passar mas logo após o almoço (uma sopa de algo que não identifiquei. Fica difícil quando não há gosto), um dos guardas abriu a porta e me pediu para seguir-lo.

Cartas Para Um DesconhecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora