Cartas Para Um Desconhecido

Capítulo 9 - Segredos

        Uma sala fechada, uma mesa, cadeiras e dois homens. Só isso era necessário para iniciar um dos planos mais ousados dos últimos tempos, invadir os Estados Unidos. Você não faz ideia do quanto era difícil e eu achava que nem Volkov sabia o quanto. Havia algumas coisas que ele provavelmente não sabe, coisas que tornarão cada vez mais impossível e insana a nossa ideia, segredos que eu não tinha mais porque guardar. A porta se abriu novamente, por ela entrou Tchébi com um notebook nas mãos, pôs ele à mesa e saiu. Volkov o abriu e então colocou em um dos maiores sites de notícias do mundo, abriu um vídeo e uma mulher começou a falar.

         - Estamos com imagens ao vivo da Ilha de Bermudas, onde a prisão de segurança máxima Nova Alcatraz acabou de ser invadida e bombardeada. Rumores se espalham de que os responsáveis pelo ataque são os mesmo responsáveis pelo ataque terrorista em Washington há quatro dias. – Ela continuou falando, mas Volkov fechou o notebook antes que conseguisse ouvir o resto.

         - Achei que gostaria de ficar consciente – Disse ele, olhando fixamente para mim – Eles provavelmente ainda não sabem da sua fuga, estão tentando abafar isso tudo, mas é só uma questão de tempo até que alguém descubra e espalhe.

         O mundo todo estava de olho, o mundo todo sabia que Joe Marcus Roach era um fugitivo, extremamente perigoso e, é claro, um terrorista. Entendi bem a mensagem, eu era o homem mais procurado do mundo e aqueles homens que estavam comigo, também eram.

         - Não corremos perigo aqui? – Perguntei. – Não deve ser difícil para eles descobrirem que viemos para cá.

         - Sim, sim. Com certeza saberão. Mas existe um peixe maior no campo de batalha. Cabo Verde é comandada por russos embaixo dos panos e eles sabem disso. Por isso falei de amigos influentes, eles são, mais precisamente, bons conterrâneos. Aqui é uma área de grandes recursos, metais recentemente descobertos de grande valor, substâncias também de grande valor. Qualquer tentativa dos Estados Unidos de invadirem esse local pode ser interpretada pelos russos como um ataque às riquezas do território, levando a uma guerra que os americanos não querem lutar agora.

         Se tem uma coisa que eu descobri com o tempo é que a guerra nunca acaba, ela apenas tem vários modos de ser travada. A guerra que vocês realmente conhecem é só a fase mais barulhenta dela, a fase mais sangrenta, mais mortal, mas isso não impede que pessoas morram todos os dias para que não cheguemos a esse ponto. Informação, a guerra hoje em dia não é só travada com armas, nem só se busca território, mas informação seja ela de tecnologias, recursos, hoje quem tem mais informação sai na frente, e quem as esconde melhor, também sai na frente.

         - Não se preocupe, estamos totalmente seguros aqui – Completou Volkov.

         - Como vieram parar aqui? Como tudo aconteceu?

         - Entendo sua curiosidade. – Se levantou e passou a então andar para lá e para cá – Eu nasci em Stalingrado, no campo. Minha família nunca ligou muito para estudos, nem para uma vida muito moderna, sem falar que estávamos nos recuperando dos estragos do socialismo. Mesmo assim consegui uma oportunidade de ouro de vim para os Estados Unidos para estudar. Os americanos me demonstraram seu pior lado muito rapidamente, tive o desprazer de conhecer muitos xenófobos e sofri muito até que conheci um pequeno gênio de computadores. Yurgen Tchébrikov. Ele sofria coisas piores porque além de tudo não era uma pessoa muito comunicativa, nos juntamos e conhecemos muito mais pessoas na mesma situação que resolveram descontar na sociedade de uma maneira não muito correta. Acabei me envolvendo no tráfico. Comerciávamos por todo o país, nosso carregamento vinha sempre da Rússia para os Estados Unidos, era tudo muito fácil antes da barreira. Até que as coisas se complicaram e fomos pegos, mandados para Bermudas.