Eu sabia o que estava por vir, sabia que iriam fazer isso e sabia que teria de sofrer isso. Provavelmente já estava de volta a Bermudas, aqui havia uma atmosfera bem reconhecível, era realmente uma sensação de isolamento, de estar em um beco sem saída. Não era hora para se pensar muito, teria de me controlar muito aqui.
- Bom, Sr. Roach, meu nome é Russell Brokes e isso é tudo o que tem de saber por agora. Não é muito do meu feitio enrolar muito, então vou direto ao ponto. Para que organização trabalha?
- Para o governo dos Estados Unidos, até que me traíram. – Tentaria extravasar todo o meu ódio, afinal para a função que ele tinha, ele também deveria ter ódio de alguma coisa.
- Entendo. Talvez não tenha sido muito claro. Espero só o perguntar mais uma vez, Sr. Roach. – Ele se abaixou a ponto de ficar face a face comigo, via que seus olhos eram sem emoção, olhos secos, sem vida, rosto repleto de cicatrizes e acima cabelos excessivamente pretos que não apareciam não se distinguiam com o resto na pequena escuridão do quarto. – O senhor acaba de ser condenado por ser cúmplice, espião, agente duplo ou o que mais você possa achar de adjetivo. Então espero que o senhor possa ter o mínimo de bom-senso, se o senhor souber o que é isso, e me responder, quem é o responsável por isso tudo?
Não tinha o que falar, não queria repetir que era inocente, eu seria morto aqui? De maneira extremamente brutal? Ninguém precisava saber se havia morrido na mesa da injeção ou aqui nessa sala escura, só querem me ver morto. Agora vinha a minha cabeça, o Sr. Hincliffe, não o tinha visto, ou talvez tenha, e minha mãe, como devia estar?
Catherine.
O que ela havia feito?
- Não irá falar né? Não esperava que chegaríamos nisso. – Retirou uma espécie de carteira do bolso do terno, de lá abriu e então vi uma série de seringas, a coisa não ia ser nada boa. – Tenho aqui dez seringas, espero que não tenhamos que chegar na décima porque, acredite, não vai ser legal para você. Última chance, para quem você trabalha?
- Eu não trabalho para ninguém. Essa é a verdade.
- Claro. – Retirou a primeira das seringas. - Essa seringa possui uma substância lactante, ela incentiva a formação de ácido láctico em todos os músculos do seu corpo, inclusive naqueles que demoram muito para chegar a esse nível de exaustão. Acho que você sabe como um músculo dói quando chega a exaustão, como é insuportável, como eles imploram para parar. Só que aqui não há parada, Sr. Roach.
Você tem que ser forte. Você tem que ser forte. Mantinha isso na mente, mas o que havia por vir, eu não imaginava. Ele injetou tudo na minha coxa, rapidamente uma onda de dor se instalou no local e então se transferiu para cima e para baixo. Não tinha como segurar, o grito de dor veio antes que eu o segurasse, o automático estava no controle novamente. Todos os músculos doíam insuportavelmente, era como ter uma espécie de cãibra em todo o corpo, era excruciante, desumano. Não conseguia me mover, nem tinha para quê, não havia o que pudesse fazer. Até que o homem sacou outra carteira e mostrou mais dez seringas.
- Aqui há um antídoto para cada uma dessas seringas – Tentava se sobrepor aos meus gritos e a minha respiração alta, era difícil de me concentrar, de ouvir, mas havia entendido o que era aquilo, era o tentador fim para dor, o premio para as informações. – Você pode fazer isso tudo parar, Sr. Roach.
- OK, OK! – Não aguentava mais, só queria que aquilo parasse, mesmo que fosse continuar. Rapidamente ele injetou o conteúdo na seringa que já estava na minha coxa, e então tudo relaxou aos poucos, mas ainda havia resquícios da dor.
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Cartas Para Um Desconhecido
ActionEm Cartas Para Um Desconhecido, Joe Marcus Roach conta sua própria história e a realidade a sua volta. O ano é 2026 e os avanços tecnológicos que deveriam dar a humanidade mais segurança foram os responsáveis por seu maior conflito. Roach, até então...