A esperança é o que move o ser humano. Isso parece algo clichê, mas é uma grande verdade. O ser humano pode perder tudo, tudo mesmo, chegar ao fundo do poço mas se ele tiver esperança, ele ainda pode lutar, ele ainda pode recuperar, pode vencer novamente. Não importa de onde venha a esperança de cada um, é preciso lutar pela sobrevivência dela. A esperança é a última que morre sim, mas morre. E quando esse dia chegar, precisamos saber como revivê-la.
Eu falhei na primeira missão. Tentei manter a esperança viva mas era impossível sozinho. Aqueles em que eu a depositei só contribuíram para o seu fim mas a verdade é que ela é persistente e mesmo respirando por aparelhos encontrou uma maneira de sobreviver e de ser minha melhor amiga. Aquele homem, eu não sabia quem era, de onde viera, mas ele me dera a esperança de volta e, talvez, tudo não estivesse perdido após tudo.
Não seria fácil, teria que lutar uma guerra solitária, silenciosa. Tentar provar minha inocência quando fui tão meticulosamente incriminado, sozinho, sem muitos recursos. Não sabia nem se devia confiar no Volkov mas, nessa hora, não havia escolha. Mas tinha algo a mais para se preocupar. Como fugir daqui.
A Nova Alcatraz era referência em todo o mundo. Acredite em mim, não é por conforto, sua segurança era incrível. Câmeras em todo lugar monitoradas 24 horas, guardas preparados a vida toda para conter rebeliões e combater qualquer tipo de conflito, corredores com detectores a laser e, é claro, as tornozeleiras.
Amanhã é o dia do julgamento, já o tinha esquecido. Não sabia quando Volkov iria agir, mas esperava que fosse rápido. Eu sabia o que estava por vir, mais do que você imagina. O meu julgamento teria o fim esperado, a pena de morte. Seria mandado de volta pra cá, ou talvez não, porque atrás da cortina ainda haveria outro julgamento.
Eu sabia que iriam me torturar, antes do fim. Tinham uma oportunidade, pelo menos na cabeça deles, de obter informações de um grupo super perigoso de terroristas, capazes de ameaçar a segurança dos Estados Unidos. A sentença nunca é o fim, a sentença é só uma farsa para ser mostrada para nós. O que queremos ver. E é isso que eles querem mostrar.
Me perguntava o que o Sr. Hincliffe havia conseguido, se é que havia conseguido algo. Estaríamos lutando uma batalha perdida amanhã e ele com certeza não queria estar nela. Enfim, não havia mais o que pensar, o que esperar, agora, mais do que nunca, o que tiver de ser será, seja quando for. Me deitei e tentei, então, esquecer de tudo. Missão difícil.
Cinco horas da manhã. Sirene. Mais uma vez, me levantava e rapidamente um guarda abria minha cela. Mas não era um guarda qualquer, estava frente a frente com o agente Bayer, dessa vez sem roupas militares mas com um terno e uma gravata cor de marca-texto.
- Bom dia, Sr. Roach – Disse, ironicamente – Espero que esteja preparado.
Não respondi, somente o encarei, depois de toda a reflexão e tudo que passei a entender, odiava qualquer um que participasse desse circo
- Entendo que não queira falar, mas sei que não ficará calado por muito tempo. Tem meia hora para se alimentar e esperarei o senhor ali à frente.
Um guarda atrás vinha com a costumeira bandeja, com o mesmo café da manhã. Devorei-o rapidamente e então saí. Estava até feliz de sair um pouco daquela solidão, só aqueles que realmente passaram por ela entendem o quanto o silêncio é barulhento e extremamente sufocante. Logo à frente, no corredor, me esperava o agente Bayer e então o segui, até a parte de fora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas Para Um Desconhecido
AcciónEm Cartas Para Um Desconhecido, Joe Marcus Roach conta sua própria história e a realidade a sua volta. O ano é 2026 e os avanços tecnológicos que deveriam dar a humanidade mais segurança foram os responsáveis por seu maior conflito. Roach, até então...