Prólogo

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"Você é um irresponsável." As palavras do meu hyung sempre vão ficar na minha cabeça. Ainda mais porque, de certa forma, concordava plenamente com ele.

Geralmente podia me considerar um alfa bem responsável, estudava, trabalhava, me bancava sem precisar da ajuda dos meus pais, raramente bebia, festas apenas quando era aniversário dos meus amigos, e eu nem sequer podia dizer que saía beijando qualquer ômega que aparecesse na minha frente porque até mesmo nesse quesito eu era responsável.

Só houve um único momento em que a irresponsabilidade me pegou com força e isso foi quando em um mês qualquer eu passei o cio com Jihyo e a engravidei. Ela era a patricinha da minha turma da faculdade, estudava Direito somente porque os pais pagavam para ela, e eu me deixei levar em um momento de fraqueza de minha parte.

O único problema foi que ela engravidou.

Quer dizer, durante nove meses eu achei que isso era mesmo um problema, mas só até pegar Jiwoo pela primeira vez nos braços e ter certeza de que ela era a melhor coisa do meu mundo todo e que eu jamais iria amar alguém da maneira que amava ela.

E outra lição além da paternidade, foi a de que sexo eu só teria fora do cio, apenas para não me arriscar. Amava Jiwoo com todas as minhas forças, mas só queria outro filho quando casasse. Porque, sim, eu ainda queria casar.

Tinha quase vinte e três anos quando ela nasceu, estava quase me formando em Direito, com um estágio muito bom em um escritório tão bom quanto. Juntava meu dinheiro para poder abrir o meu próprio escritório na época, mas tive que usar todas as minhas economias pela minha Ji. E, confesso, não há uma sequer gota de arrependimento dentro de mim. O que é nosso virá em algum momento, de qualquer forma.

Eu e Jihyo éramos vizinhos de apartamento praticamente, ela morava no prédio em frente ao meu e me ligava a quase todo instante por não conseguir sequer acalmar a própria filha. E chegava a ser bizarro que somente a minha presença sempre foi o suficiente para Jiwoo ficar calma e até mesmo sorrir.

Com o passar dos anos, me formei na faculdade e consegui um emprego um pouco melhor, o bastante para sustentar a mim e Jihyo, já que ela não trabalhava e eu não ia deixar minha filha passar qualquer dificuldade. Como advogado, eu sabia que podia pegar a guarda da minha pequena se bem desejasse, mas sentia que ela precisava ter a presença de nós dois de uma forma que muitas crianças infelizmente não tinham. Eu não a tiraria de sua mãe. A não ser que aquela louca prejudicasse de alguma forma a minha bebê.

Fiquei um ano trabalhando em uma empresa muito boa, mas que resolveu me demitir quando quase faliu, de quase duzentos advogados se restaram cinquenta ainda estamos falando de muito.

E foi usando o dinheiro da minha rescisão e todos os benefícios os quais eu tinha direito, que aluguei uma sala comercial e fiz um minúsculo escritório. E quando digo minúsculo, é minúsculo mesmo.

Por sorte, um dos meus melhores amigos também era formado em Direito, mesmo sendo uma especialização distinta da minha, e ele entrou como sócio no meu negócio e conseguimos um escritório pouco maior. Lógico que em dois anos nisso ainda não enriquecemos ou sequer conseguimos um lugar gigante, mas estamos dando o nosso melhor para dar certo.

Agora eu já estou com meus quase vinte e oito anos, minha pequena recém fechou seu quinto aniversário, e eu estou de frente para a mãe dela tendo quase um surto.

— Deixa eu ver se entendi... você resolveu que vai viajar o mundo com sei lá eu quem e vai deixar a minha filha na minha casa mesmo sabendo que eu trabalho o dia inteiro e não vou poder dar a ela toda a atenção necessária? — Jihyo abriu a boca para responder, mas eu fui mais rápido. — Meu melhor amigo me disse que eu fui irresponsável ao te engravidar, mas é notável que só tem uma pessoa irresponsável entre nós e não sou eu.

— Ela tem cinco anos, sabe até esquentar o próprio leite e arrumar seu café da manhã.

Não sabia o que tinha me deixado mais irritado em sua frase, se era o fato de ela permitir que uma criança de cinco anos esquente o próprio leite ou falar da idade dela como se ela fosse adolescente ou adulta.

Contudo, mesmo nervoso sabia que talvez fosse melhor mesmo ter minha filha comigo, ao menos saberia que ela está segura.

Óbvio que cuidar dela nos fins de semana era diferente de colocá-la em minha corrida rotina, e isso me fazia entrar em apuros praticamente.

— Papai! — O chamado choroso da minha pequena se fez audível, Jihyo sequer se mexeu enquanto eu praticamente corri na direção dela.

— O que houve, meu bebê? — Questionei a ela, vendo o joelho avermelhado dela e o fato de ela estar andando de patins dentro de um apartamento. — Amor, aqui não é lugar de andar de patins.

— Mas a mãe deixa. — Fez bico enquanto eu tirava os patins dela e a levava ao banheiro para lavar seu joelho. — Onde eu vou andar? A gente mora numa caixa de passarinho.

Acabei rindo com sua colocação. Ela estava acostumada com a casa dos meus pais, que tinha espaço para brincar, ou com a casa do meu melhor amigo, que também tinha muito espaço. De fato, morar em um apartamento tinha suas desvantagens.

— Posso te levar para andar na rua, Ji. E ainda te ensino a andar para você não cair.

E aquilo foi o bastante para animar ela.

Logo, Jihyo e eu contamos para nossa filha que ela iria morar comigo dali em diante, e ela nem mesmo se importou com a mãe, os olhinhos brilharam e ela pulou nos meus braços em seguida. Isso me deixa triste! Eu tive uma mãe fantástica e presente, e mesmo que meu pai trabalhasse muito ele também tinha me dado sua presença todas as vezes que foi possível.

E eu queria isso para Jiwoo. Mas, se ela não tinha a presença da mãe, a presença do pai ela teria. E dos meus amigos pirados também.

A despedida entre elas foi mais rápida que o esperado, foi deixado em minha sala uma mala de roupas e acessórios dela, junto ao seu travesseiro favorito e um ursinho de pelúcia que ela nunca desgrudava.

— Você sabe que não vou continuar te sustentando, não sabe? — Inquiri para Jihyo, que riu sarcástica.

— Agora eu tenho um homem que me sustente, não preciso mais de você.

E eu somente revirei os olhos, a vendo ir embora de vez.

— Papai! — Olhei para a minha pequena, que estava no chão ao meu lado. — Tô com fominha.

Só tinha um problema: eu não sabia cozinhar.

Diário de um Alfa em Apuros | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora