Capítulo 17 - O Rei Negro.

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Seus pés o guiavam lentamente a entrada do palácio do trono da casa de Tarmor. A capital gelada estava temerosa ao contemplar a entrada do Lorde Negro por entre suas ruas.

Um homem montando em seu cavalo negro, armadura negra com um capuz sobre o rosto e uma capa negra. A luz refletida em sua máscara de ferro e seus fiéis cavaleiros o acompanhando como uma procissão.

Ouviam-se somente os barulhos das ferraduras dos cavalos ao bater sobre o chão de pedra. O caminho de pedra que guiou o Lorde temido e por pouco reverenciado. Sua fama já se havia espalhado por muitas casas, ninguém tinha ao certo uma definição de quem ele representava, seria uma esperança? Um símbolo? Ou um louco em uma armadura negra? O que muitos tinham certeza era que ele era um homem sem honra.

Estava o rei sentando em seu trono, seu rosto refletia suas emoções, raiva, decepção e desgosto. A rainha curvou o rosto ao ver seu filho entrar na sala do trono com aqueles trajes.

O Lorde Negro se colocou de joelhos na presença do rei, juntamente com todos os seus cavaleiros.

– Porque desonraste esta casa? - perguntou o rei deixando claro sua decepção, ele se segurava para não deixar que suas lágrimas caíssem de seus olhos e para não transparecer fraqueza - Porque tomastes decisões sem me consultar? Onde está sua esposa nossa futura rainha? E por que... - Agora gritava o rei deixando sua raiva e suas lagrimas apareceram para todos naquele salão, por mais que tentasse não podia mais prender seus sentimentos no porão de sua alma - Atacou aqueles que nos ofereceu seu braço forte?

O silêncio tomou de conta da sala do trono, os conselheiros, cavaleiros, servos e toda realeza que estava presente curvaram seus rostos, nunca tinham visto seu rei tão fraco e vulnerável. O Lorde Negro ofereceu seu silencio, nada disse, nada expressou.

– Sou o seu rei! - gritou Ivos o rei da casa de Tarmor e se colocou em pé, passou a mão no rosto para limpar suas lagrimas, deu alguns passos à frente e continuou a gritar - tire esse traje, esse mascara ridícula de seu rosto e deixe-me ver seu rosto estupido, meu filho, minha desonra!

O Lorde Negro se colocou de pé, baixou sua capa e olhou diretamente nos olhos do rei e lentamente tirou sua máscara sem tirar os olhos do rei.

– O que você se tornou? Logo agora que a esperança nasceu na casa de Tarmor? - o rei deu mais alguns passos na direção do Lorde Negro.

O Lorde Negro olhava diretamente para o rei como nunca olhou. O rei começou a gritar e a proferir ofensas como nunca vez em toda a história de Tarmor; as lágrimas começaram a cair dos olhos do jovem príncipe, mas em nenhum momento baixou sua cabeça ou desviou o seu olhar da direção do rei até que uma sombra começou a se esconder entre as colunas da sala do trono.

O jovem príncipe desviou seu olhar para ver o que era, ou quem era, a sombra se movia como quem fugia, parecia um vulto de alguém que se movia na escuridão e quanto mais se movia, mais prendia a atenção do jovem príncipe.

– Olha para mim quando eu estiver falando com você seu... - gritava mais forte o rei deixando toda a sua fúria ser derramada em palavras – verme asqueroso.

As sombras começaram a se mover mais rápido entre as colunas e uma voz sussurrante começou a falar aos ouvidos do príncipe.

- Haaaaaaaaaa... - gritou o príncipe e todos os presentes levantaram seus rostos assustados, até o rei se assustou e deu um passo para trás.

O Lorde Negro levantou o seu rosto e seu semblante estava totalmente diferente, havia raiva, orgulho, soberba em seu olhar e não parecia mais ser o jovem príncipe que todos conheciam. Ele caminhou na direção do rei e o abraçou sussurrando em seu ouvido – Defeco você todas as noites.

Quando o rei ouviu essas palavras, levantou seus olhos assustados para o Lorde e esse o cortou o pescoço com uma adaga que havia retirado da sua cintura. Quando o rei se moveu cambaleando para trás, todos então perceberam o que o jovem havia feito diante de seus olhos. O Lorde Negro se moveu arrebatando rapidamente sua espada como o nunca fizera e decapitou seu pai a vista de todos, fazendo a cabeça do rei rolar pelas escadarias do altar do trono. Um grito assustador se ouviu vindo de sua mãe.

Ele caminhou na direção de sua mãe, mas antes que movesse sua espada para feri-la foi impedido pelos cavaleiros reais que o golpearam pelas costas fazendo que o príncipe caísse inconsciente no chão. Nem os seus cavaleiros que ali se faziam presentes acreditaram em tudo que havia testemunhado, o jovem Lorde Negro havia ganhado o respeito de todos com os planos contra Annis, mas agora, mediante aquela situação, apenas fez criar no coração de seus cavaleiros um medo profundo de tudo que ele representava.

Trancafiaram o jovem em uma masmorra escura. Os sinos tocaram na cidade, foram cem badaladas constantes e ouve-se o silêncio, apenas os sinos e depois o lamento. Em poucos minutos milhares de pessoas tomaram a frente do castelo.

Catle contemplava tudo da sacada segurando em seu colo a criança cujo nome era Trenur. Logo veio a noite e a cidade viveu um silencio como nunca se viu a notícias se espalhou por todos os lados, aldeias, casas e caravanas e famílias das casas protegidas por Tarmor vieram dar seu último adeus ao rei de Tarmor.

Enquanto os sacerdotes preparavam o corpo do rei para cruzar as ruas de Tarmor e ser sepultado no tumulo dos reis, os conselheiros discutiam sobre o futuro do Lorde Negro.

Os sons das canções tristes começaram a se ouvir no nascer do sol daquele dia. Era a canção de despedia ao rei, os tarmodianos cantavam acompanhando o corpo do rei sendo levado em uma redoma de vidro. O Lorde Negro ouvia o som em sua prisão e nenhuma lágrima foi derramada.

Acompanhava o corpo os cavaleiros mais honrados junto à rainha e Catle com a criança em seu colo. Os coros das vozes cantaram a mais triste das canções tarmodianas e o caminho das rosas guiavam o corpo até a saída da capital em direção a caverna do fim da Montanha Gelada onde velavam e sepultavam os seus reis, os descentes reais de Tarmor e patriarca desta casa.

Dois dias se passaram até que todo o povo chorou seu luto e os cidadãos de Tarmor foram chamados ao som das cornetas, seria anunciado o novo rei de Tarmor.

Ivos era o único descente do rei e por direito tinha poder ao trono, não existia nenhuma lei que pudesse tirar o seu direito de reinado por ser o único descendente direito, sangue fiel de Tarmor. A lei de Tarmor era clara: "Somente alguém de sangue real, descendente direto de Tarmor poderia reinar sobre o trono" e Ivos era o único vivo de sangue real.

Sua coroação foi marca pelo silencio do povo. Ele entrou na sala do trono com o silencio de sua casa, estava vestido com sua armadura negra e sua máscara de ferro. Recebeu a benção dos sacerdotes e sua mãe com lágrimas nos olhos colocou a coroa negra com a marca de sua casa (o triangulo) sobre sua cabeça, os cavaleiros vieram e o vestiram com o manto da casa de Tarmor com o símbolo da casa e então Ivos sentou pela primeira vez ao trono como rei da casa de Tarmor.

Ele olhou para seu lado direito e viu Catle sentada em um lugar especial, ele estendeu os braços como quem pedia sua presença com a criança que estava em seus braços. Ela se colocou de pé e caminhou lentamente na direção do rei, seu olhar transmitia medo, não sabia se aquele que lhe estendia os braços era o mesmo que a tempos salvou sua vida.

Quando ela chegou próxima ao rei, se colocou de joelhos, ele pediu que ela ficasse de pé e pela primeira vez pode olhar nos olhos da criança, tomou a criança em seus braços e só então o povo que estava presente na sala do trono se colocaram de joelhos em reverencia ao seu novo rei.

BB>KY

As Crônicas dos Quatro Reinos (Livro 01) O Despertar do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora