Ela vinha com seus passos lentos por entre os corredores principais do Castelo de Tarmor. Coração agitado de dor e medo, assombrada por seus sonhos e desesperada pelos gritos do mundo a sua volta, temia por sua vida. Cada passo na direção à sala do trono fazia com o coração em seu peito batesse mais forte.
O contraste perceptível de seus cabelos ruivos com o tom de sua roupa negra, arrastando a calda de seu vestido no chão lamiado com as botas dos cavaleiros que trazia toda imundícia que vinha das ruas de Tarmor. Estava sempre envolta de servas e sacerdotisas que a veneravam e por onde passava tinha a atenção das pessoas, por mais que fosse o posto desses, nada poderia lhes roubar a atenção a não ser a presença da mãe de um deus.
Seus olhos azuis tremidos das lagrimas que com eles vinham em cada olhar, foi assim que ela entrou na sala do trono, anunciada e venerada por todos ali presente. Se ela pudesse sondar as mentes de todos que a olhavam o que poderia encontrar em meio a pensamentos tão corruptos? Talvez inveja por ser ela a suposta "escolhida"? Ou talvez nojo por ser ela apenas uma estranha de cabelos ruivos no meio de um povo de pele branca como a lua e cabelos escuros como a sombra, afinal, eles veneravam o negro de sua bandeira.
Catle atravessou a porta negra da entrada da sala do trono, olhou todos a sua volta, estavam presentes os mais velhos conselheiros do antigo rei, alguns soldados e majestosamente sentado em seu trono o Rei Negro, vestido com o negro de sua casa, esquentado por uma pele de um urso negro que nunca imaginou que seu destino seria morrer para aquecer um rei, sua máscara de ferro escondia sua feição e um olhar que sutilmente vinha por detrás do capuz como que assustado sussurrava.
O silencio por alguns minutos ali se manteve, ela ficou parada como quem não soubesse a postura que deveria tomar, até que o Rei Negro acenou com a mão para que ela se apresentasse. Lentamente ela se moveu na direção da escadaria no altar do trono, parou e voltaram seus olhos a procura do escondido olhar do rei. Tinha ela que lutar com o capuz e a máscara, mas então ela o encontrou e o olhou como se saísse palavras de seus olhos.
– "Mãe" porque me procuras? Honra-me com tua presença - o rei negro não se levantou de seu trono para recebê-la.
– Venho pedir seu conselho meu rei - ela respondeu com seu rosto curvado, fugindo assim seu olha para o chão, observando a tapeçaria que pisava; os desenhos de espadas e escudos que adornavam a tapeçaria.
– Como posso ajuda-la? - perguntou então o rei.
– Se possível, poderíamos conversar a sós? - pediu carinhosamente Catle ainda com seu rosto curvado.
Ele olhou para os lados e fez um gesto com a mão indicando que todos saíssem e foi assim que todos os deixaram.
Ele se colocou de pé e desceu do altar do trono até a jovem, ela levantou então o rosto e o encarou.
– Deixa que eu te veja - disse ela em sussurros.
– Não me ver em tua presença?
– Quero ver você, não o rei, mas o homem que um dia foi meu amigo e teve compaixão de minha vida.
Ele então baixou seu capuz e assim ela pode ver seus cabelos negros, ele levou as mãos por detrás da cabeça e removeu sua máscara.
– Sim, agora o vejo - disse ela estendendo as mãos para toca-lo - Não vejo o medo, mas vejo o que se esconde do medo.
Ele nada disse, apenas estava assustado, o homem que se escondia por detrás da máscara não parecia em nada como o homem que era quando a usava.
– O mesmo mal que me consome e me mata dia após dia, é o mesmo que lhe atormenta – o olhar de Catle era mais penetrante que suas palavras.
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As Crônicas dos Quatro Reinos (Livro 01) O Despertar do Mal
FantasyUm ritual macabro marca a vida de um jovem príncipe que ainda não entendeu o peso que existe sobre seus ombros, tentando se erguer em uma terra em conflitos. Reis, guerreiros, bárbaros, princesas e sábios enfrentam a morte e as lutas da alma para co...