A COMUNIDADE DE XAVIER

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Minha avó sempre me dizia para não confiar em estranhos, mesmo que me oferecessem um bombom

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Minha avó sempre me dizia para não confiar em estranhos, mesmo que me oferecessem um bombom. Ou esperança no fim do mundo...

Bom. A esperança estava bem na minha frente, e ela era careca.

Um homem de sorriso enorme na face, em meio a um apocalipse, abrindo as portas de vidro de um shopping como se fosse a sua própria casa. Não é irônico?

— Sejam bem-vindas. – Nos convidou para entrar. — Eu sou Xavier e essa é a minha comunidade.

Um lugar que antes era para fazer compras, agora tinha virado moradia. Um refúgio. No entanto, as pessoas aparentavam estar satisfeitas com a situação; satisfeitas até demais. E tão gentis... Eu tinha esquecido que ainda existiam pessoas boas no mundo. Uma senhora chamada Louise mostrou onde eu e Lydia podíamos dormir e deu algumas orientações sobre a comunidade. Passaríamos a noite na loja de colchões. Louise nos deixou em frente a mesma, nos deu cobertores e travesseiros, e apontou para dois colchões no chão do fundo da loja; se despediu e foi embora após nos desejar uma boa noite de sono.

Complicado ter uma boa noite de sono num lugar onde eu, sequer, conhecia alguém. Entretanto, o cansaço presente em mim me obrigou aceitar aquela oferta. Lydia fez o mesmo, bem antes de mim até. Não dormi direito, de fato. Tive pesadelos com a morte de Kevin e caramba! Eu sentia tanta saudade dele. Faria qualquer coisa para tê-lo comigo novamente.

Já de manhã, logo quando despertei, não vi Lydia e não acredito que fiquei preocupada com aquela garota cretina. Fui à praça de alimentação e a ruiva estava lá, se lambuzando com um sorvete. Peguei um sanduíche de presunto e um suco na mesa de café da manhã. Sentei junto a Lydia e observei o pessoal comendo e conversando, como num dia comum antes do caos. A garota estava do mesmo jeito, sua felicidade me espantava.

Todas aquelas pessoas alegres e tranquilas... Por que eu não conseguia estar como elas?

— Caramba! Eles têm até cinema. – Ouvi Lydia exclamar. — Temos que assistir algum filme e depois temos que ir ao salão de jogos!

Eu só assenti sem dizer nada, me faltava palavras. E assim o dia seguiu... fomos para o cinema, assistimos filmes e comemos pipocas amanteigadas. Ao meio dia, almoçamos no terraço juntamente com Xavier, que nos contava como estava feliz em saber que existia pessoas vivas fora do shopping. Mais tarde fomos ao salão de jogos e lá eu consegui me divertir um pouco. Pelo menos esquecer, por apenas alguns minutos, o desastre que a minha vida havia se tornado. Mas voltei ao mundo real quando vislumbrei, no mural de tiro ao alvo, perto de outras pelúcias, um pincher. Automaticamente me veio lembranças de Kevin. Ele morria de medo de cachorros, principalmente pinchers.

Sem demora, os meus olhos se atufaram de lágrimas. Enxuguei-as de prontidão e apanhei a espingarda no balcão, mirei no bicho de pelúcia e atirei, derrubando-o.

— Nossa, parabéns! – Só depois percebi que tinha um rapaz ali. Ele gargalhou com o susto que tomei e me entregou o prêmio. — Ótima atiradora você.

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