Imprevisão

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- Seu pai disse mesmo isso?
Pergunta Loba sentada ao lado de Megan na cama.
Megan pergunta:
- O quê tem de errado? É o modo de pensar específico que ele tem.
- Não, claro, me perdoe. Não quis soar irônica.
- Tudo bem.
Loba automaticamente sugere que dêem uma volta nas redondezas.
Megan caminha despreocupadamente.
Um vento agradável às acompanha pelas ruas.
Megan pergunta:
- Loba, você não acha que o tal chamado está demorando para acontecer?
- Para dizer a verdade, acho sim. deveria ter acontecido.
- O quê você acha que pode ser?
- Eu não faço ideia. Talvez você esteja sendo privilegiada.
- Privilegiada pelo quê?
- Você está podendo ficar um tempo com seus pais.
- Eu não acho que seja um privilégio.
- Então o quê?
- Eu não sei. Mas com certeza isso não tem nada de privilégio.
- Sei lá, Megan, mas algumas vezes eu noto em você uma vontade de largar tudo e deixar as coisas como estão.
- Era isso que eu queria fazer, Loba.
- Não faça, Megan. Não faça.
- Eu sei que depois de chegar onde cheguei, no nível de aceitação, não se pode largar tudo e fingir felicidade... Porque eu nem sei mais quem sou ou o quê eu represento.
- Você representa muita coisa, Megan.
Logo mais à frente, elas se sentam em um banco.
- Você está arrependida de ter aceitado a gente, Megan?
- Arrependida eu? Creio que não fui tão sensata na escolha, fiz tudo de última hora, tudo bem que estava de cabeça quente e cheia dos meus pais a todo vapor gritando para fazer isso e não aquilo... Eu estava agonizando em pensamentos confusos... Eu... Se tem uma coisa da qual eu não estou arrependida, é de ter escolhido você e todos na vila. Eu acredito que posso fazer bem mais por vocês do quê eu definitivamente seria capaz de fazer por mim ou pela minha família.
- Você é feliz com esta iniciativa?
- Por quê está perguntando isso?
- É uma pergunta.
- Feliz?
Megan parece em dúvidas sobre seus pensamentos.
- Não se sente feliz, Megan?
Megan indaga uma resposta:
- Isso é bem forte. Ninguém é feliz, Loba. Desculpe, mas ninguém é feliz. Ninguém consegue ser feliz com tanta hipocrisia da vida, ninguém é feliz vendo tragédias destruindo preciosidades, o mundo inteiro é uma farsa, dizer-se feliz é dizer que o mundo mais parece um parque de diversões, dizer-se feliz é definitivamente estar ironizando.
- Você não se considera feliz, tudo bem, entendi. Mas você sabe o sentido da felicidade, Megan?
- Você sabe?
- Eu estou perguntando a você.
- Qual é, Loba! Não sei o porquê de você está me perguntando isso.
- Um dia você vai se perguntar o mesmo. Eu apenas estou adiantando.
Megan parece pensar em algo, mas desiste de expressar.
- Megan, nunca queira viver de aparências pois elas mudam, nunca dependa do tempo porque ele passa rápido e você nem percebe, não espere por alguém pois ele pode não aparecer, não queira fazer tudo às pressas porque o destino conduz o que consente e arrasta o que resiste.
- Loba, o quê houve? Tem alguma coisa acontecendo?
- Não é nada.
- Loba, você está estranha desde o dia que chegou e...
- O quê?
- Eu não ouvi você antes de chegar. Eu deveria ter ouvido, não?
- Deveria, deveria sim.
- O quê você acha que está acontecendo de errado?
- Você não me ouviria se o... Não, não pode ser, ele... Megan, vamos voltar para sua casa.
- O quê? Por quê?
- Vamos voltar.
- Tá.
Elas caminham apressadamente de volta para casa.
Marcelo e Nathália estão dormindo, tudo está quieto, uma luz tênue emana pelo corredor.
Loba diz:
- Vá para seu quarto, não saia de lá.
- O quê foi?
- Megan, tem... Nada, esquece. Só faça o que pedi, por favor. Está tarde e você precisa descansar.
Megan caminha para seu quarto, ela ainda não está satisfeita por Loba esconder algo dela.
Manhã seguinte é chuvosa e fria, Megan não se sente bem e permanece na cama, uma febre alastra por seu corpo e sua cabeça dói.
Loba está preocupada e não sai do seu lado.
Marcelo e Nathália oferecem Daniela para cuidar de Megan, mas Loba diz que não é preciso pois ela também entende de enfermagem.
Horas mais tarde, Megan ainda se sente mal, quando Trevon invade seu quarto preocupado e com fúria nos olhos.
Megan o encara, perguntando:
- Trevon? O quê veio fazer aqui?
- Eu liguei.
- Não deveria ter ligado, pai!
Megan repreende Marcelo.
Trevon diz:
- O quê? Queria que eu ficasse , enquanto você...
- Pode sair, pai?
- Claro. Estarei na sala.
Marcelo fecha a porta.
Trevon olha para Loba, que está de junto da janela:
- Você ficou maluca, Loba?! Por quê não me informou do estado dela?! E se algo de pior acontecesse?!
- Ela não teve culpa, Trevon. Vai ver é um mal-estar passageiro.
- Eu não acredito que seja, Megan. Olha para você, parece uma morta-viva!
Trevon está desconsolado e irritado.
Megan percebe que ele não vai deixar de jogar toda responsabilidade para cima da Loba e diz:
- Trevon, eu vou ficar bem.
- Sabe o quê pode ter causado isso, Loba?
- Eu não sei o quê houve.
- Do que serviu você ter vindo para cá, droga?!
- Eu não tenho culpa!
- Melhor abaixar seu tom de voz.
- Desculpe.
Loba o encara.
Megan está nervosa consigo mesma:
- Maldita hora para estar doente!
Megan soca os lençóis com o pouco de forças que lhe resta.
Trevon se senta ao lado de Megan e segura sua mão, dizendo:
- Megan, fique calma.
- Para de culpar a Loba, Trevon. Não teria como ela prever um mal-estar, ou teria?
- Teria, Loba?
- Eu não sei.
- Como não sabe?!
Trevon novamente está irritado.

        
                           

A ESCOLHA DO LÍDEROnde histórias criam vida. Descubra agora