Ambiguidade

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Trevon encara Megan, que está folheando uma revista trazida pela Loba.
- O quê houve aqui?
Pergunta ele.
- Quer dizer o quê?
- Nada. Esquece.
- O quê você vai fazer amanhã?
Trevon apoiando o cotovelo no braço da poltrona e pressionando sua têmpora, com uma das pernas cruzadas sobre o joelho da outra, responde:
- Vou sair com os apoiados, passaremos o dia fora.
- Vão fazer o quê?
- Vamos caçar.
- Vocês não fazem isso todos os dias?
- Desta vez é diferente.
- Por quê?
- Vamos começar com as reservas. Com uma guerra se aproximando teremos que começar a estocar mantimentos, para uma possível dieta.
- E eu fico aqui?
- De princípio sim.
- Não é perigoso?
- Não estaremos muito longe.
- A Loba poderia ficar comigo.
- Eu disse que todos os apoiados vão.
- E os seguidores?
- Eles vão com o Leônidas para Noroeste.
A Loba entra na casa e Trevon segue com a ela para o escritório.
Leônidas entra na sala.
Megan pergunta:
- A Frida foi?
- foi sim.
- Você gosta muito dela, não é?
- Frida é minha prometida.
- E se isso não precisasse seguir como  manda as regras?
- Você está maluca?!
- Não sente desconfortável com essa situação?
- Quer dizer o quê com isso?
- Ela é uma criança!
- E daí?!
- Isso é nojento!
- Seu achismo não me importa.
Leônidas caminha para fora da sala.
Megan caminha até o escritório e aproxima o ouvido da porta, ouvindo:
- O quê você acha que pode ser?
- Eu não sei do que está falando.
- Não estou conseguindo ouvir o que ela pensa. Eu estava conseguindo acessar aos pensamentos dela e agora simplesmente não consigo mais.
- Isso é compreensível, não acha?
- O quê?
- Isso não é nada gentil. Ouvir os pensamentos alheios é invasão de privacidade, você sabe disso.
- Eu preciso saber tudo que ela pensa sobre mim.
- Por quê?
- Porque eu...
- Está acontecendo?
- Acontecendo o quê? Está ficando maluca se acha que eu amo aquela garota.
- Maluca? Será mesmo? Até de Trevon você a permitiu chamá-lo. Você está deixando ela se aproximar de você e agora acha que eu estou maluca?
- Você está desequilibrada, Loba. Eu queria poder voltar a ouvir ela, isso é importante, se eu ouço o que ela pensa, eu consigo estar por perto quando for preciso. Pode falar com ela?
- Falar o quê? Megan, desbloqueie seus pensamentos para que o líder tenha acesso a eles. Quer que eu diga isso?
- Se for preciso.
- Ah, nos poupe, líder! Você tem que dar espaço à ela.
- Mais?
- Bem mais.
- Veja pelo lado bom.
- Lado bom? E um lado bom em invadir os pensamentos alheios?
- Que ênfases são essas?
- Desculpe. Mas eu acho que deveria se colocar no lugar dela.
- Loba, me escute por um momento. Veja meu lado nisso tudo. Eu quero protegê-la. Eu não estou invadindo somente para satisfazer um capricho meu, mas para saber o que está acontecendo à volta dela. Vamos sair em excursão amanhã, passaremos o dia todo fora, vamos nos dividir em maior parte, ela vai ficar desprotegida durante esse tempo.
- Não tão sozinha.
- Como assim?
- Pode pedir ao Travel para vir. A Frida se dá bem com ela e o Travel é bem ágil.
- Não, não. Isso não. 
- Está vendo por quê ela bloqueou você?
- Eu não tenho culpa. Você sabe do que o Travel é capaz de fazer com aquela mente sórdida e perversa dele. Eu não confio nele.
- Não se trata de confiança. Não fui eu quem deu o título de benfeitor a ele. Você vai precisar. Ela precisa.
- Titulá-lo foi um erro. Não pense que darei o braço à torcer, não por ele.
- Tudo bem, não torça. Mas se alguma coisa acontecer por aqui, não diga que eu não avisei.
- Ele não vai querer vir.
- Não vai se você não tentar. É hora de deixar suas desavenças de lado. Vocês estão sendo infantil, está passando do momento de crescer.
- Não é fácil.
- Ninguém disse que seria.
- Tá legal. Eu falo com ele, mas você falará com ela.
- Você não ouviu nada do que eu disse?
Megan ouve o riso de Trevon e retorna à sala.
Em seguida, Loba e Trevon saem do escritório.
Megan caminha até a cozinha, onde pega uma fruta qualquer e senta sobre o balcão próximo à janela.
Trevon caminha até ela, perguntando:
- Como se sente?
- Bem. E você?
- Estou bem. Vou sair por um instante, você ficará com a Loba.
- legal.
Megan balança as pernas despreocupadamente, perguntando:
- Vai ver o Travel?
- O quê? Por quê está me perguntando isso?
- Só curiosidade.
- Não, eu não vou.
- .
Megan desde do balcão e passa por ele.
- Megan?
- Sim?
Travel passa a mão pelo cabelo, dizendo:
- Sim, eu estou indo ver o Travel.
- Eu sabia.
Megan lança uma piscadela para Trevon e arranca um sorriso dele, dizendo:
- Boa noite.
Ela sobe para o quarto, onde se joga sobre a cama e encara o teto, cruzando uma perna sobre a outra.
- Posso entrar?
- Por favor.
Loba se senta ao lado de Megan com uma sinceridade no olhar e no sorriso.
- Você ouviu, não ouviu?
- Por quê ele quer tanto assim saber o que penso?
- Sinceramente, eu também gostaria de saber.
- Acha que está mais fácil agora a adaptação dele?
- Creio eu que sim.
- Eu estou tentando entendê-lo.
- Eu tenho percebido. E percebi também o quanto o clima entre você e Leônidas está cada vez mais estranho.
- Ele está me evitando.
- Megan, entenda uma coisa...
- O quê?
- Leônidas está comprometido com a Frida, você goste ou não.
- Espere um pouco, Loba. Eu não, eu não teria o porquê me chatear com o relacionamento entre Leônidas e a Frida, pelo contrário, eu só...
- Você o quê?
- Eu acho que essa regra de vocês, essa situação que é imposta a vocês se casarem com alguém que não...
- Seja mais clara, Megan.
- Eu não acho que o Leônidas esteja feliz com isso. Eu não sei, mas é como se ele sentisse o mesmo que eu em relação ao que vai acontecer. Você não concorda comigo, não é?
- Eu não concordo. Mas eu sei ao ponto que quer chegar. Você apenas não está acostumada com nossa situação, mas não é tão ruim assim.
- Isso é estranho em qualquer ponto de vista, Loba. Pense comigo, daqui a dois anos Frida estará com o quê?
- Prestes a completar trinta.
- Sabe o quê significa?
- O quê?
- Que quando ela se casar com Leônidas, eles terão que manter uma relação fria, uma relação como a de dois estranhos, porque é isso que vai acontecer. Eles vão fazer amor até chegar o momento em que tudo se esfriará. Logo mais ela está com 40, 50 anos... Eles nunca poderão ter filhos, Loba, aposto que Leônidas quer descendentes, isso é claro, ele é homem. Querendo ou não, ela vai morrer tão rápido quanto envelhece.
- Tem um propósito em tudo isso, Megan?
- Sim, tem. Logicamente tem sim. Sabe qual? O de Travel nunca devorar a própria filha.
- Como soube?
- Ele me contou.
- Um pouco. Ele falamos sobre Frida e a mãe dela. Nada de mais.
- Isso que está vivendo é ambíguo, sabia?
- Em qual sentido?
- Você se aproximar tanto de alguém que pode destroçá-la em questões de milésimos, mas mesmo assim não temer. Nunca se sabe quando está com medo ou apenas fingindo ser autoconfiante.
- É prazeroso.
- Imagino que seja.


























A ESCOLHA DO LÍDEROnde histórias criam vida. Descubra agora